Para o embaixador Ibrahim Alzeben, ainda não há uma classificação adequada para nomear o conflito armado em Gaza, contudo, seria “mais do que Holocausto, mais do que genocídio”.
Por Redação, com Poder360 - de Brasília
O embaixador da Palestina, Ibrahim Alzeben, afirmou que a guerra na Faixa de Gaza é “pior” do que o Holocausto feito na Alemanha nazista contra os judeus. A declaração foi dada em entrevista feita na quarta-feira, ao Poder360.
– Eu acho que o que está acontecendo na Faixa de Gaza é pior (do que o Holocausto), porque a situação de Gaza agora é tão dramática que não dá para comparar com nenhuma outra guerra no mundo, seja a Primeira Guerra Mundial ou a Segunda Guerra Mundial, estamos falando do século XXI – declarou o embaixador.
Para o embaixador, ainda não há uma classificação adequada para nomear o conflito armado na região, contudo, seria “mais do que chacina, mais do que Holocausto, mais do que genocídio”.
Alzeben reforçou não estar minimizando a dor que a humanidade sofreu durante o Holocausto, mas disse que o caso em Gaza é “sui generis” (termo originado do latim para dizer que algo é singular e único em seu gênero).
– (…) Não estamos minimizando, de jeito nenhum, a dor que toda a humanidade sofreu no Holocausto (…) Agora, o caso de Gaza, é um caso sui generis, onde o mundo está assistindo toda esta barbárie por TV, por imagens. Na 2ª Guerra Mundial, não tinha tanta comunicação, era uma guerra mundial entre superpotências, não é o caso. Não dá para dizer que somente é um genocídio. É mais – afirmou Alzeben.
O embaixador quis “deixar bem claro” que a Palestina não é contrária à comunidade judaica e que acusar os palestinos de antissemitismo é uma “falsificação da história”. “Somos contra a ocupação israelense no nosso território e essa posição seguiremos lutando até acabar com esta ocupação. Nosso povo tem direito a viver em paz no seu território”, disse.
Segundo o embaixador, 30 mil pessoas na região já foram mortas, 70 mil foram feridas e 600 mil crianças estão em situação de fome. Até quarta-feira, o Hamas contabilizava 29.708 mortos palestinos. Do total de mortos na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, 12.405 são crianças e 8.400 são mulheres. Israelenses mortos no conflito somam 1.139.
Lula comparou ataques de Israel com ações de Hitler
A declaração do embaixador é referente à comparação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) entre a operação militar de Israel na Faixa de Gaza e o extermínio de judeus realizado por Adolf Hitler na Alemanha nazista.
Na ocasião, em evento na Etiópia, o chefe do Executivo voltou a dizer que os palestinos estão sendo alvo de um “genocídio” e que o Brasil vai defender na ONU (Organização das Nações Unidas) a criação de um Estado palestino.
Ao Poder360, Alzeben disse que não cabia a ele defender Lula, mas que o chefe do Executivo brasileiro é uma “figura internacional e reconhecida”. Ele afirmou que o único país que “rechaçou” a fala do presidente foi Israel, que, segundo ele, tem o objetivo de manter a guerra para evitar a queda do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
O Brasil foi o primeiro país a reconhecer o Estado da Palestina. Desde o início da escalada de conflito, Lula tem feito críticas a Israel e apoiou a iniciativa da África do Sul de acionar a Corte Internacional de Justiça da ONU para investigar “atos e medidas que possam constituir genocídio ou crimes relacionados” e determinar o cessar-fogo imediato de Israel na Faixa de Gaza.
O conflito
O conflito na região se intensificou desde que o grupo palestino Hamas realizou um ataque surpresa a Israel em 7 de outubro. Ao reivindicar a autoria da ação, afirmou ser uma resposta à “agressão sionista”. O governo israelense declarou guerra e realiza operações de retaliação.
Desde 7 de outubro, Gaza tem sido privada de comida, água, energia e combustível pelo cerco de Israel ao território.
Embora seja o maior conflito armado na região nos últimos anos, a disputa territorial entre palestinos e judeus se arrasta por décadas.
Os dois grupos reivindicam o território, que tem importantes marcos históricos e religiosos para ambas as etnias.
O Hamas (sigla árabe para “Movimento de Resistência Islâmica”) é a maior organização islâmica em atuação na Palestina. Tem um braço político e presta serviços sociais à população palestina, que vive majoritariamente em áreas pobres e de infraestrutura precária, mas é mais conhecida pelo seu braço armado, que luta pela soberania da Faixa de Gaza. O grupo não reconhece Israel como país.
A região é palco de conflitos desde o século passado. Os atritos começaram depois que a ONU fez a partilha da Palestina em territórios árabes (Gaza e Cisjordânia) e judeus (Israel), na intenção de criar um Estado judeu. No entanto, os árabes recusaram a divisão, alegando terem ficado com as terras com menos recursos.