Segundo Guedes, houve 27 ocasiões enquanto comandava a pasta em que o dólar subiu mais de 2% em um dia e nenhuma delas por uma declaração de algum integrante da equipe econômica. O ministro disse que a alta do dólar torna mais pobres, e não mais ricos, os investidores que têm a maior parte dos recursos no Brasil.
Por Redação, com RBA - de Brasília
O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que seu investimento em offshore em um paraíso fiscal é legal e que não existe conflito de interesse com sua atuação no governo. "A ideia de que estou especulando com o dólar subindo ou caindo não existe", afirmou na manhã desta terça-feira, em uma audiência para prestar esclarecimentos sobre os investimentos no exterior às comissões de Trabalho, de Administração e Serviço Público e de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados.
Segundo Guedes, houve 27 ocasiões enquanto comandava a pasta em que o dólar subiu mais de 2% em um dia e nenhuma delas por uma declaração de algum integrante da equipe econômica. O ministro disse que a alta do dólar torna mais pobres, e não mais ricos, os investidores que têm a maior parte dos recursos no Brasil. "Quem tem um pouco de dólar, na verdade, protegeu um pedaço dos seus recursos, mas não escapou da perda patrimonial", afirmou.
— Eu, por curiosidade, fui ver quando, nos últimos dois anos e dez meses, o dólar subiu mais de 2% em um dia, para saber se tem alguém na Economia fazendo alguma besteira ou falando alguma besteira para empurrar o dólar para cima, para ter lucro, para ganhar alguma coisa com isso. Foi sempre covid, (o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública) Sergio Moro saindo do governo, o ex-presidente Michel Temer é preso. Foi só política ou doença, que são os eventos mais contundentes — afirmou Guedes.
Offshore
De acordo com Guedes, a criação de uma offshore se deveu a razões sucessórias, para que seus investimentos no exterior pudessem ser transmitidos a herdeiros em caso de alguma fatalidade, para evitar que o governo dos Estados Unidos "expropriasse" de 46% a 47% do valor. Por isso, argumentou, não seria necessário declarar se sua esposa ou filha estavam na offshore, que seria uma "obviedade".
— A offshore é como uma ferramenta. É uma faca. Você pode usar para o mal, para matar alguém, ou pode usar para o bem, para descascar uma laranja — disse Guedes, que alegou ainda não ter investimentos em nenhuma ação brasileira fora do país.
O ministro afirmou ainda que seus depósitos em offshore foram feitos entre 2014 e 2015 e que, depois, nunca fez nenhum novo depósito ou remessa de recursos para o Brasil. De acordo com Guedes, os investimentos foram devidamente declarados à Receita Federal e ao Banco Central. Ele também argumentou que, se desejasse especular com o valor do dólar, não teria defendido o projeto de independência da autoridade monetária.
Conflito
Guedes disse que precisou se desfazer de todos os seus investimentos em empresas sob a sua administração direta antes de assumir o Ministério da Economia, em um processo que teria lhe custado mais do que o valor investido em offshore. O ministro ainda afirmou que colocou em um 'blind trust' seus investimentos em ativos que pudessem sofrer um impacto indireto da sua gestão à frente da pasta.
O blind trust é um tipo de fundo em que os ativos são administrados sem conhecimento do beneficiário, que, neste caso, por ser ministro, tem acesso a dados sensíveis e poder de decisão sobre os rumos da economia.
De acordo com o consórcio, Guedes é dono da Dreadnoughts, sediada nas Ilhas Virgens - um paraíso fiscal que não cobra imposto de empreendimentos de outros países. A offshore permanece ativa mesmo após Guedes assumir a pasta da Economia, em janeiro de 2019. Apesar de não ser ilegal manter dinheiro no exterior, críticos dessas operações apontam conflito de interesses no exercício de função pública.
‘Boca na botija’
Para o deputado Rogério Correia (PT-MG), presente ao depoimento, o ministro da Economia “foi pego com a boca na botija sonegando impostos”.
— O senhor foi pego com a boca na botija sonegando impostos. Offshore tem como objetivo fugir dos impostos do país de origem. Se o senhor aplicasse aqui no Brasil pagaria 15% de imposto, lá fora deve ser próximo de zero. O Brasil tem mais de R$ 400 bilhões em sonegação e o senhor dá mau exemplo — disse Correia ao ministro.
Em 2020 o Conselho Monetário Nacional (CMN) alterou os valores que devem ser declarados ao Banco Central (BC) e elevou o piso de capitais para contas no exterior, o que levantou a suspeita de o ministro tenha atuado em benefício próprio, o que representaria conflito de interesses.