Eleito governador no primeiro turno, Ronaldo Caiado (DEM) foi apresentado como novidade em Goiás. E representa, também, a mais antiga e truculenta oligarquia daquele estado. Seus antepassados combateram D. Pedro II por ter libertado os escravos e pegaram em armas contra a Revolução de 1930, de Getúlio Vargas.
Por Jaime Sautchuk - de São Paulo
Ronaldo foi o primeiro presidente da UDR, em 1985, e tem sido um dos mais aguerridos porta-vozes dos ruralistas no Congresso Nacional. Responde a processos na Justiça pelo uso de trabalho escravo em suas fazendas e pelo mando de assassinato de lideranças sindicais rurais.
Contudo, os números do pleito no estado são impressionantes. O candidato direitista obteve 59,73% do total de votos, disparado na frente dos demais candidatos. E venceu em 238 dos 246 municípios, inclusive na capital, Goiânia, e cidades de maior porte, como Anápolis, ambas com grande público universitário. Foi o mais votado entre os jovens, portanto.
Os oito municípios em que ele foi derrotado estão no Nordeste do estado, região da Chapada dos Veadeiros. Pode-se se apontar como razão desse resultado o fato de que, naquela parte do território goiano, pode haver uma consciência maior das populações locais quanto ao respeito ao meio ambiente, tema desdenhado pelo candidato.
Vale lembrar que o candidato paramilitar à Presidência da República, Jair Bolsonaro, também foi o mais votado em Goiás, com folga. Os dois têm propostas muito parecidas, especialmente no que se refere aos aspectos econômicos e socioambientais, pois tradicionalmente seguem a cartilha fascista.
Uma diferença é que, talvez, o médico Caiado seja mais sofisticado. Desde muito jovem, estudou na França e lá militou na juventude da Frente Nacional, partido então liderado pelo ultradireitista Jean-Marie Le Pen, pai de Marine, que hoje lidera aquela agremiação. Aprendeu a combater ideias socialistas, pois, na terra da “liberdade, fraternidade, igualdade”.
A família dos Caiado
A família dos Caiado sempre atuou na política estadual a partir da antiga capital, Vila Boa de Goiás, hoje Cidade de Goiás, também conhecida com Goiás Velho. O patriarca mais influente foi o Antônio Ramos Caiado, ou Totó Caiado, advogado e jornalista, mas também matador de índios, que atuou na Velha República como gestor público e parlamentar.
Sua estratégia de ação sempre foi a mesma. Se não conseguia impor suas vontades na paz, apelava pra bala, tendo pegado em armas em muitas ocasiões, algumas vezes em disputas sangrentas com outras oligarquias do estado, com jagunços bem armados.
Em outra ocasião, Totó tentou conter a Coluna Prestes (1925-27), em sua prolongada passagem por Goiás. Os principais embates se deram nas proximidades das cidades de Anápolis, Corumbá de Goiás, Pirenópolis e na própria capital, Vila Boa. Houve muitas baixas de ambos os lados, mas a Coluna deu bailes na jagunçada e seguiu sua marcha.
Assim, agora só nos resta aguardar alguma novidade do governador eleito.
Jaime Sautchuk, é jornalista.