Segundo a Aty Guasu – a Grande Assembleia Guarani Kaiowá –, cinco indígenas da retomada foram chamados para fazer um trabalho de construção de muro na tarde desta quinta-feira. Chegando ao local, na beira da rodovia MS 386 e perto da onde fica a sede da Coamo Agrodindustrial Cooperativa, eles teriam percebido a emboscada.
Por Redação, com BdF - de Campo Grande
A polícia da cidade de Amambai (MS) ainda não divulgou, até a tarde deste sábado, quem foram os assassinos que, em uma emboscada contra cinco indígenas do povo Guarani Kaiowá, mataram a tiros o indígena Márcio Moreira na tarde de quinta-feira. Moreira era líder do Tekoha Gwapo’y Mi Tujury, território ancestral que está no nome da Fazenda Borda da Mata da empresa VT Brasil Administração, da família Torelli, e que foi retomado pelos indígenas em junho.
O assassinato de Márcio Moreira acontece três semanas depois do que ficou conhecido como Massacre de Gwapo’y, quando a polícia militar invadiu a área, feriu 15 pessoas e matou o indígena Vitor Fernandes.
Segundo a Aty Guasu – a Grande Assembleia Guarani Kaiowá –, cinco indígenas da retomada foram chamados para fazer um trabalho de construção de muro na tarde desta quinta-feira. Chegando ao local, na beira da rodovia MS 386 e perto da onde fica a sede da Coamo Agrodindustrial Cooperativa, eles teriam percebido a emboscada.
Suspeitos
"Encontraram em torno de 20 pistoleiros, jagunços e policiais", afirma a nota da Aty Guasu, segundo a qual Marcio Moreira foi morto a tiros, dois indígenas estão desaparecidos, um conseguiu escapar correndo e outro foi preso pela Polícia Militar, acusado de ter cometido o assassinato – versão contestada e denunciada pelos indígenas. Este último seria Wilis Fernandes, filho de Vitor, morto pela polícia no Massacre de Gwapo’y.
A Comunicação da Polícia Civil do Mato Grosso do Sul informou ao site de notícias Brasil de Fato (BdF) que, ao que consta no Boletim de Ocorrência, uma testemunha relatou que Márcio teria sido morto por dois suspeitos não identificados, que outra pessoa teria fugido e que, até o momento, ninguém foi preso.
A reportagem entrou em contato com a Delegacia da Polícia Civil de Amambai para questionar sobre a prisão de Fernandes, mas não foi liberada qualquer informação, embora o caso seja público. A Secretaria de Segurança Pública do Mato Grosso do Sul também foi acionada e não respondeu a tempo.
Ameaças de morte
Márcio Moreira já estava ameaçado de morte, assim como estão outros líderes da retomada. Ele estava coordenando a construção de uma casa de reza tradicional na área. Em um vídeo gravado dias atrás, Márcio afirma que a ocupação não é temporária, mas permanente, e pede doações para apoiadores para a construção de mais casas.
— Existe uma ameaça de morte organizada, planejada, contra as lideranças do Gwapo’y Mi Tujury. Já denunciamos, mas continua — afirmou um integrante da Aty Guasu que pediu anonimato.
No início deste mês, o juiz Thales Braghini Leão, da 2ª Vara da Justiça Federal em Ponta Porã, negou a liminar de reintegração de posse da Fazenda Borda da Mata. "O fato de não existir demarcação sobre a área ou qualquer processo administrativo tendente a promovê-la não é suficiente para descaracterizar a luta pela posse das terras tradicionalmente ocupadas pelos índios", escreveu o juiz na decisão.
"Quando não conseguiram a ordem de reintegração de posse, os fazendeiros passam para essa segunda opção, que é assassinar lideranças para intimidar", afirma o membro da Aty Guasu. "É a continuidade do massacre. O genocídio mesmo, que continua. Isso não para. E a segurança e a proteção, nós não temos", escreveu o juiz.
Denúncia
Em nota, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) afirma que existe o temor de que "os policiais façam 'queima de arquivo' com os indígenas que presenciaram o ataque".
"A violência recorrente só mostra mais uma vez a atuação dos fazendeiros como bandidos milicianos, que tomam as terras indígenas, pagam pistoleiros para assassinar aqueles que resistem e contam com o estímulo e a conivência da Funai anti-indígena e do governo Bolsonaro", resumiu a Apib.