Para entender melhor por que a Índia sofre com surto de fungo preto e qual o potencial desse fungo se espalhar pelo Brasil, à agência russa de notícias Sputnik conversou com dois especialistas.
Por Redação, com Sputnik - de Brasília
Para entender melhor por que a Índia sofre com surto de fungo preto e qual o potencial desse fungo se espalhar pelo Brasil, à agência russa de notícias Sputnik conversou com dois especialistas.
No domingo, a Secretaria de Saúde de Santa Catarina anunciou que detectou um caso suspeito de fungo preto em Joinville. A Índia assiste a um crescimento vertiginoso de casos de mucormicose, uma infecção provocada por fungos que já acometeu quase 9 mil pacientes com covid-19.
Para entender melhor por que a Índia sofre com esse surto e qual o potencial desse fungo se espalhar pelo Brasil, à Sputnik conversou com Fernando Zanotto, professor de Microbiologia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP), e com Davis Ferreira, professor do Instituto de Microbiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Perigos do fungo
A mucormicose é uma infecção rara, com mortalidade que gira entre 50% e 94%, dependendo do estágio da doença. Os especialistas afirmam que os fungos são oportunistas e procuram invadir as pessoas com imunidade debilitada.
– Esses fungos são oportunistas. Quando nossa imunidade baixa por alguma razão ou as condições certas aparecem em nossos organismos, eles se proliferam – afirma Ferreira.
Os fungos estão em praticamente todos os lugares, mas, em um momento de fragilidade causado pela pandemia do novo coronavírus, onde as pessoas estão fechadas em casas, muitas vezes em locais com má ventilação, o cenário pode ser propício para os casos de mucormicose.
Zanotto explica que a covid-19 causa uma resposta imune do paciente que destrói os vasos e esse tecido lesionado passa a ser infectado por fungos e bactérias.
– Dependendo do quadro de gravidade que a pessoa (com covid-19) estiver (…) pode ser algo extremamente desafiador, como seria tratar qualquer infecção oportunística em uma pessoa que já está em um quadro muito grave.
Zanotto comenta que boas estratégias para se acautelar de doenças oportunistas como o fungo preto é "passear em praças ensolaradas e deixar as porta e janelas das casas abertas para trocar o ar". Essas medidas são efetivas porque diminuem a possibilidade de a pessoa inalar os poros dos fungos e ser infectada.
Surto na Índia
Em meio à luta contra a covid-19, o país Sudeste Asiático também enfrenta um surto de fungo preto, branco, e agora amarelo.
O professor da UFRJ comenta alguns motivos para a calamidade que atinge a Índia.
– Hospitais não estão dando conta há muito tempo. Muitas pessoas infectadas pelas ruas. Muita pobreza, muita falta de higiene, muita falta de remédios – afirma Ferreira.
Zanotto destaca ainda outros fatores como a densidade populacional, a qualidade das habitações e o saneamento básico.
Os dois especialistas afirmam que é cedo para avaliar como o fungo preto vai evoluir no Brasil, mas não acreditam que o país sofrerá com um surto parecido com o que a Índia atravessa.
– Tem muitos fatores que impedem a gente de avaliar o que será no Brasil. Acho que o Brasil tem mais condições de conter esse fungo do que na Índia – comenta Ferreira.
Zanotto acredita que, agora que há um caso no Brasil, os médicos estarão mais cautelosos e farão exames específicos "para saber se as pessoas têm esse fungo ou fungos em geral".