A vernissage da exposição aconteceu no início desta semana. Estiveram presentes Davi Kopenawa, líder Yanomami reconhecido nacional e internacionalmente acompanhado de seu filho Dario e ativistas ambientais.
Por Marilza de Melo Foucher - de Paris
A artista e ativista Claudia Andujar se encontra em Paris onde é homenageada pela Fundação Cartier de Arte Contemporânea com uma belíssima retrospectiva de suas fotografias.
A vernissage da exposição aconteceu no início desta semana. Infelizmente, sem a presença de Claudia Andujar. Ela se encontrava um pouco enferma e cansada da viagem. Estiveram presentes Davi Kopenawa, líder Yanomami reconhecido nacional e internacionalmente acompanhado de seu filho Dario; o antropólogo francês Bruce Albert que há décadas vem atuando junto aos povos Yanomami, ele é um amigo íntimo e aliado de Claudia Andujar desde a luta para a criação da reserva Yanomami, e Tyago Nogueira organizador da exposição membro do Instituto Moreira Salles (Brasil).
A exposição é apoiada também pela Associação Yanomami Hutukara (Boa Vista-Roraima) e pelo Instituto Socioambiental (São Paulo e Boa Vista).
A abertura foi feita por Thyago Nogueira do Instituto Moreira Salles no Brasil que fala da organização do acervo de mais de 300 fotografia com um número de obras inéditas, documentos históricos que demonstram a contribuição da arte fotográfica e engajamento político de Claudia Andujar para salvar a cultura e os direitos desses povos. Em seguida Davi Kopenawa destaca a importância dessa exposição.
Transmazônica
Claudia - segundo afirmou - integra hoje a família Yanomami e espera que todos possam aprender um pouco da história dos Yanomani através dessa exposição. Ele chama atenção dos jornalistas sobre a ameaça de destruição da reserva dos Yanomami, hoje invadida por garimpeiros incentivados pelo governo Bolsonaro, a quem ele classifica de mente doente. Segundo ele, hoje no seu interior existe a presença de mais de 20 mil garimpeiros.
O antropólogo francês Bruce Albert convive com os Yanomami desde 1975, época em que a Transamazônica e a estrada Perimentral Norte (abandonada em 1973) rasgavam o coração da selva, atravessando as terras indígenas. Bruce faz um paralelo com o que aconteceu na época da ditadura e hoje com o governo de extrema direita, ele relata já nessa época a invasão nos territórios indígenas por garimpeiros na corrida pelo ouro, a luta travada até conseguir a regularização dessa reserva e hoje a nova ameaça que pesa com o governo Bolsonaro que incentiva a exploração de minérios em Terras indígenas.
Essa retrospectiva pode servir de reflexão sobre a ganância do ouro, desde que o ouro sobe na bolsa de valores os territórios indígenas são atacados, relembra o antropólogo Bruce Albert.
Realmente, ao rever as fotografias de Claudia Andujar eu fui tomada por uma forte emoção ao relembrar a luta na defesa dos povos indígenas nos anos 1970, quando eu morava ainda em Manaus. Só espero que com essa exposição, os(as) franceses(as) possam mais uma vez ser sensibilizados pela causa que levou a Claudia Andujar através de sua fotografia a instrumentalizar a mobilização política.
Solidariedade
Ela lembrou a beleza da cultura Yanomami e foi um dos principais nomes na luta pelo reconhecimento e demarcação do território desse povo no Brasil, na década de 1980. Claudia conseguiu, com a ajuda de militantes em defesa da Amazônia e de seus povos, mobilizar organização nacional e estrangeira, levantando fundos, escrevendo manifestos.
A artista correu o mundo para denunciar o descalabro. Também desenvolveu programas de saúde e educação, com os quais percorreu toda a extensão dessa terra indígena.
Hoje, os Yanomami e outros povos indígenas precisam mais do que nunca da solidariedade internacional. Hoje mais do que nunca os povos indígenas precisam de muitas mulheres aguerridas como Claudia, de muitos antropólogos como Bruce. A luta continua!
Marilza de Melo Foucheré correspondente doCorreio do Brasil, em Paris.
Serviço:
Exposição de Claudia Andujar: A luta dos Yanomami- La Lutte Yanomami.
De 30 de janeiro ao 10 de maio 2020Fundação Cartier de Arte Contemporânea261 Boulevard Raspail, 75014 - Paris, França