Com o retorno à normalidade democrática, no país, Saturnino Braga foi o primeiro prefeito eleito de forma direta, em 1985. Eleito pelo PDT com quase 40% dos votos, esteve à frente da prefeitura de 1986 a 1989.
Por Redação – do Rio de Janeiro
Senador por legendas socialistas por várias décadas e ex-prefeito do Rio de Janeiro, morreu nesta quinta-feira o engenheiro Roberto Saturnino Braga, aos 93 anos. Saturnino estava internado no CTI Hospital Pró-Cardíaco, Zona Sul do Rio, devido a uma pneumonia. A informação é da filha, Maria Adelia.
Saturnino chegou à unidade hospitalar na última sexta-feira, com uma complicação pulmonar. O velório será no Palácio da Cidade, em Botafogo, ainda sem data divulgada e o local do enterro ainda não foi informado. O governo do Estado decretou luto oficial de três dias.
Reconhecimento
Na noite passada, o boletim médico relatou que Roberto Saturnino estava internado no CTI “recebendo cuidados paliativos diante de um quadro clínico de improvável reversão”. Tão logo soube da notícia, o atual prefeito do Rio e candidato à reeleição, Eduardo Paes, lembrou que Saturnino Braga foi um dos homens mais dedicados e corretos.
— Ele foi um dos mais dedicados e corretos homens públicos que a cidade do Rio de Janeiro já conheceu. Sua história em defesa da democracia, da liberdade e do povo mais pobre será sempre lembrada. É uma grande perda para a Cidade do Rio de Janeiro e para o Brasil. Meus sinceros agradecimentos por toda sua dedicação à nossa cidade. Que Deus possa confortar o coração de sua família e de seus amigos — disse Paes.
Falência
Nascido em 13 de setembro de 1931, no Rio de Janeiro, Saturnino graduou-se em Engenharia pela Universidade do Brasil (atual UFRJ) em 1954. Herdeiro de uma tradição política no Estado — o pai, Francisco Saturnino Braga, foi deputado federal por três mandatos —, Roberto Saturnino Braga entrou para a política em 1963, como deputado federal pelo Estado do Rio de Janeiro, numa coligação formada pelo PSB, MTR e PST. Com a ditadura e a criação do bipartidarismo, ingressou no MDB e foi senador pelo Rio de 1975 a 1985.
Com o retorno à normalidade democrática, no país, Saturnino Braga foi o primeiro prefeito eleito de forma direta, em 1985. Eleito pelo PDT com quase 40% dos votos, esteve à frente da prefeitura de 1986 a 1989.
Saturnino entrou para a história da Cidade ao decretar a falência do município, em setembro de 1988, após acusar o governo federal de recusar ajuda financeira à gestão pública. Na ocasião, o prefeito disse que a gota d’água havia sido o telex enviado pelo Banco Central às agências bancárias do país às 17h do dia 26 de agosto de 1988, uma sexta-feira, determinando o bloqueio de todas as contas da prefeitura.
Literatura
A decretação da falência se deveu ao cenário em que o fracasso do Plano Cruzado, no governo do ex-presidente José Sarney (1985-1990), levou o Brasil entrou à hiperinflação. No Rio, a prefeitura perdeu receitas, porque Saturnino não conseguiu aprovar na Câmara de Vereadores o projeto que atualizava o IPTU e outros tributos pela inflação.
— Saturnino viveu um drama político na Cidade. Havia uma grande expectativa do que poderia ter feito, se não fosse a crise — lamentou Tito Ryff, ex-secretário de Planejamento de Saturnino.
Já em idade avançada, Saturnino também se dedicou à literatura e um de seus livros, ‘Contos do Rio’, recebeu o Prêmio Malba Tahan, da Academia Carioca de Letras, em 2000. Viúvo de Eliana, Roberto Saturnino Braga deixa três filhos, Adelia, Bruno e Antonio Frederico.