Segundo o diário britânico Financial Times, o dilema vivido pela Colômbia reflete um desafio maior enfrentado pela Celac: como diversificar as relações comerciais e investimentos com outras potências sem provocar a ira de Washington.
Por Redação, com WSJ – de Nova York, NY-EUA
O Brasil e a Colômbia enfrentam a possibilidade de represálias comerciais dos Estados Unidos diante da aproximação dos países latino-americanos ao governo de Pequim. Após o anúncio do presidente Gustavo Petro de que pretende aderir à iniciativa chinesa de infraestrutura, o Cinturão e Rota (BRI, na sigla em inglês), segundo Mauricio Claver-Carone, enviado especial para a América Latina do Departamento de Estado dos EUA, a aproximação de Petro e do brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com a China poderia prejudicar exportações colombianas e brasileiras, em nível mundial.

Segundo o diário britânico Financial Times, o dilema vivido pela Colômbia reflete um desafio maior enfrentado pela Celac: como diversificar as relações comerciais e investimentos com outras potências sem provocar a ira de Washington, liderado pelo presidente Donald Trump. Petro, atual presidente rotativo da Celac, ocupa uma posição delicada, pois a Colômbia tem sido historicamente um aliado dos EUA na América do Sul. Para a China, uma adesão da Colômbia à BRI representaria uma grande vitória, algo que já provocou um alerta em Washington.
Empresários colombianos, temerosos de perderem acesso ao mercado dos EUA, interpretaram essa fala como uma ameaça velada, o que levou assessores de Petro a tentar persuadi-lo a adiar sua adesão à BRI.
Compromisso
O especialista Cui Shoujun, da Universidade Renmin de Pequim, comentou que, apesar das tensões com os EUA, a China e a América Latina devem aproveitar a reunião para reafirmar seu compromisso com a cooperação. Ele também ressaltou a importância do comércio bilateral, que pode superar US$ 500 bilhões neste ano.
A cúpula, que ocorre em um momento de guerra comercial entre EUA e China, é crucial para Pequim. A principal preocupação chinesa é que Washington consiga convencer outros países latino-americanos a assinar acordos comerciais que possam cortar mercados vitais para a China, especialmente considerando o atual momento econômico.
Enquanto isso, os países latino-americanos buscam encontrar um equilíbrio nas suas relações com os EUA e a China. O Panamá, por exemplo, foi forçado a se retirar da BRI devido às pressões dos EUA, que veem a influência chinesa sobre seus portos como uma ameaça. Michael McKinley, ex-funcionário do Departamento de Estado dos EUA, alertou que a pressão dos EUA pode ter um impacto mais amplo na região, afetando o controle da China sobre infraestruturas sensíveis.
Parceiro
No Brasil, a maior economia da América Latina, a China já é o principal parceiro comercial. O presidente Lula, que participa da reunião da Celac, está em visita oficial à China, marcando seu terceiro encontro com o presidente chinês em pouco mais de dois anos. O Chile também estará representado por Gabriel Boric, seu presidente de esquerda e maior produtor mundial de cobre.
Diplomatas brasileiros consideram o evento uma continuidade da política de engajamento com potências do “Sul Global”, visando um multilateralismo maior, e não uma resposta direta às tarifas impostas pelos EUA.
Outra reportagem, publicada também nesta segunda-feira no diário norte-americano ‘The New York Times’, revela o esforço da China para consolidar sua presença na América Latina, utilizando a visita do presidente Lula a Pequim como momento simbólico de sua estratégia.
Esfera
Paralelamente, o presidente chinês Xi Jinping se reúne com autoridades de outros países da região, incluindo representantes do Caribe, numa demonstração clara de que o gigante asiático pretende manter e expandir sua influência no hemisfério.
A movimentação ocorre em um contexto de crescente pressão dos Estados Unidos sob o governo do presidente Donald Trump, que busca reaproximar os países latino-americanos da esfera de influência de Washington. Em sua retórica, Trump resgata os ecos da Doutrina Monroe — a política adotada em 1823 segundo a qual o continente americano seria zona de domínio exclusivo dos EUA. A nova disputa geopolítica, contudo, tem características distintas: em vez de tanques, trata-se de investimentos, infraestrutura e parcerias comerciais.
— O que os povos da América Latina e do Caribe desejam é independência e autodeterminação — resumiu o vice-ministro das Relações Exteriores da China, Miao Deyu, conforme destacado pelo jornal oficial do Partido Comunista Chinês ‘People’s Daily’.