Karla Borger e Julia Sude descartam participar do Circuito Mundial de Vôlei de Praia em Doha em março devido à imposição de que atletas joguem de camisa e calça comprida. Federação Alemã de Vôlei apoiou decisão.
Por Redação, com DW - de Berlim
As estrelas alemãs de vôlei de praia Karla Borger e Julia Sude anunciaram que não participarão de um campeonato mundial no Qatar no mês que vem devido à proibição de que elas joguem de biquíni, uniforme tradicional na categoria feminina do esporte.
– Faríamos nosso trabalho lá, mas nos foi negado nosso uniforme de trabalho – afirmou Borger no domingo, em entrevista à rádio pública alemã Deutschlandfunk. "É realmente o único país e o único torneio em que um governo nos diz como temos que fazer nosso trabalho, e isso nós criticamos."
A capital do Qatar, Doha, receberá em março o Circuito Mundial de Vôlei de Praia. Será a primeira vez que o pequeno Estado do Golfo sediará uma competição feminina da Federação Internacional de Vôlei (FIVB), após ter sido palco do campeonato masculino por sete anos.
As atletas foram solicitadas a usar camisas e calças compridas em vez dos tradicionais biquínis, uma regra que a FIVB alega ser "por respeito à cultura e tradições do país anfitrião".
Em uma decisão apoiada pela Federação Alemã de Vôlei (DVV), a dupla Borger e Sude disse à revista Spiegel no fim de semana que "não aceitaria" as regras impostas pelas autoridades do Qatar.
Contudo, a medalhista de prata em campeonatos mundiais Borger afirmou que entende as demais atletas que competirão em Doha mesmo nessas condições. "Trata-se de nossa existência, por isso posso compreender que algumas jogadoras participarão do torneio no Qatar."
A alemã declarou ainda que normalmente ela e Sude ficariam felizes em "se adaptar a qualquer país", mas justificou que o calor extremo em Doha exige o uso de biquínis. Embora não seja tão quente quanto nos meses escaldantes de verão, as temperaturas no Estado do Golfo podem chegar a 30 °C em março.
O treinador da dupla, Thomas Kaczmarek, disse ao jornal Bild que apoiou a decisão "100% e com plena convicção", e afirmou que, além da questão da temperatura, a não participação delas no torneio tem também uma razão política. "Karla e Julia, como mulheres, não querem se submeter a tais demandas por razões de ideologia."
Sude, por sua vez, lembrou que o Qatar já havia feito exceções de vestimenta para atletas femininas que competiram no Campeonato Mundial de Atletismo em Doha em 2019. O país também permitiu que jogadoras de vôlei de praia competissem de biquíni durante os Jogos Mundiais de Praia, realizados no Qatar em 2019.
Qatar como sede de eventos esportivos
À rádio Deutschlandfunk no domingo, Borger questionou se o Qatar seria um país anfitrião adequado. "Estamos questionando se é necessário realizar um torneio lá", afirmou. "É definitivamente algo que se deve questionar."
O Qatar tem sediado um número crescente de grandes eventos esportivos nas últimas décadas, embora seu histórico de direitos humanos, a falta de tradição esportiva e o clima extremamente quente o tornem um local controverso.
Calor e umidade foram grandes problemas relatados durante algumas provas do Campeonato Mundial de Atletismo no ano passado. A Copa do Mundo de Futebol de 2022, que ocorrerá no país, foi marcada para novembro e dezembro justamente por conta das altas temperaturas no Qatar em junho e julho, quando o Mundial é normalmente disputado.
Além disso, condições controversas de trabalho para funcionários que constroem os estádios e supostas violações de direitos humanos no Qatar também têm sido objeto de intenso escrutínio antes da Copa do Mundo do próximo ano.