Como se não bastassem as dificuldades inerentes de conter a 10ª epidemia da febre hemorrágica na região, equipes médicas estão expostas a atentados. Desconfiança e crenças locais também são obstáculo.
Por Redação, com DW - de Londres
Devido aos ataques continuados a colaboradores e centros de tratamento, a Organização Mundial da Saúde (OMS) adverte contra o perigo de uma epidemia no leste da República Democrática do Congo: se as milícias não suspenderem suas ofensivas, é improvável que o surto da febre hemorrágica nas províncias de Nordkivu e Ituri possa ser contido. Ambas não ficam distantes das fronteiras com Ruanda e Uganda. Na instável região de conflito, em que estão ativos numerosos grupos armados, 1, 6 mil pessoas já contraíram ebola. Apesar da grande mobilização humanitária, recentemente aumentou o número de contágios e óbitos: 1.147 já morreram em consequência da doença, comunicou a OMS em seu boletim na semana passada. Dos óbitos, 68% ocorreram fora dos centros de trânsito instalados pela OMS na região, nos quais são examinados os casos de suspeita do ebola. Os ataques a voluntários e centros de tratamento ou de trânsito dificultam seriamente o trabalho, relata a organização. "Nós trabalhamos dois dias, e aí já acontece um novo ataque, e os membros da equipe têm que ficar cinco dias em casa. No meio tempo, temos que deixar o campo para o nosso inimigo principal, o vírus do ebola", queixa-se em entrevista à agência alemã de notícias Deutsche Welle (DW) Aruna Abedi, coordenador para ebola do Ministério congolês da Saúde. A luta contra o ebola se torna cada vez mais assimétrica, queixa-se: "Quando não podemos trabalhar cinco dias, o vírus ganha vantagem; a doença nos escapa e temos que correr atrás do tempo perdido. É uma luta muito sofrida." Recentemente foi incendiado um centro de trânsito na localidade Katwa, na província de Nordkivu, perto da fronteira com Uganda. Em abril, um médico da OMS foi morto num atentado. Na maioria dos casos não ficou claro quem eram os organizadores. Após tais incidentes, em geral a operação humanitária é temporariamente suspensa para reforço das medidas de segurança. Nesse período, o número dos novos contágios volta a subir. Também o médico Babou Rukengeza, chefe de equipe da organização humanitária Save the Children, ativa em Nordkivu, relata sobre manifestações e tumultos constantes, atrapalhando significativamente o trabalho, sobretudo na cidade de Beni. "Esses transtornos causam interrupções repetidas do nosso trabalho e atrasos." Em tais circunstâncias, não é de admirar que continuem aumentando os casos de ebola na região, queixa-se. "E na verdade poderíamos muito bem ter o problema do ebola sob controle, se nos deixassem trabalhar decentemente." Para conter o surto, mais de 110 mil habitantes da região já receberam uma vacina experimental contra a febre hemorrágica, e a OMS aconselhou uma ampliação da campanha de vacinação. No entanto os serviços de saúde o leste do Congo enfrentam um problema grave: muitos dos habitantes desconfiam dos médicos e equipes humanitárias governamentais, assim como dos medicamentos. Ao que tudo indica, ocorre divulgação intencional de informações falsas.