O aumento no preço dos alimentos deve ser sentido principalmente nos países mais vulneráveis. Atualmente, Rússia e Ucrânia respondem juntos por cerca de 30% da produção mundial de trigo. O preço desse bem essencial fechou o mês de fevereiro com alta acumulada de 22%. Em março, os preços já se elevaram em 15,2%, atingindo níveis recordes.
Por Redação, com Sputnik Brasil - do Rio de Janeiro
A crise na Ucrânia escancarou a dependência do Brasil de trigo importado. Mas a produção de alimentos é um tema mundial, conforme deixou claro o economista-chefe da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês), Maximo Torero. Nesta quinta-feira, ele disse que a segurança alimentar do planeta está sob forte pressão, devido o conflito na Ucrânia.
Segundo Torero, o aumento no preço dos alimentos deve ser sentido principalmente nos países mais vulneráveis. Atualmente, Rússia e Ucrânia respondem juntos por cerca de 30% da produção mundial de trigo. O preço desse bem essencial fechou o mês de fevereiro com alta acumulada de 22%. Em março, os preços já se elevaram em 15,2%, atingindo níveis recordes.
Os efeitos deste aumento já são sentidos no Brasil. O pão francês é vendido a até R$ 20 o quilo, no Rio de Janeiro. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Panificação e Confeitaria, o pão francês tende a subir entre 10% e 20% nas principais capitais brasileiras.
— O pão tem valor simbólico — disse Nilson de Paula, professor do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas da Universidade Federal do Paraná e membro da coordenação executiva da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan), à agência russa de notícias Sputnik Brasil.
Horizonte
Segundo Paula, o aumento dos preços é anterior à crise no Leste Europeu.\
— Definitivamente, o processo inflacionário dos alimentos será um elemento forte para as eleições (presidenciais) de 2022, porque atingimos níveis que não víamos há muito tempo. O conflito só colocou água no moinho da inflação — acrescentou.
Na segunda-feira, a Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimapi) disse que o consumidor deve se preparar para aumentos no preço de produtos como massas, bolos e biscoitos.
"Haverá reajustes de preços nas próximas semanas, mas com o horizonte indefinido. O consumidor brasileiro deve começar a sentir os efeitos em breve", alertou a instituição, em nota.
A Rússia é o maior exportador de trigo do mundo e segue liberando cargas para alguns mercados, apesar da imposição de restrições às exportações para países considerados hostis.
As sanções econômicas e as rotas mais complexas de navegação, no entanto, aumentam o custo do frete e do seguro das embarcações, o que recai no bolso do consumidor final.
Solo dos EUA
Já na Ucrânia, o governo de Kiev interrompeu as exportações de trigo e demais bens alimentícios. O ministro da Agricultura ucraniano, no entanto, garantiu que a safra de trigo deste ano segue intacta.
— A safra de inverno está de fato em boas condições em todo o território do país. E, apesar das dificuldades para o trabalho no campo, a Ucrânia terá pão — disse o ministro ucraniano Taras Dzoba à agência inglesa de notícias Reuters.
Outro país relevante para a manutenção dos preços internacionais do trigo são os EUA. Mas, desde o ano passado, a safra de trigo sofre com grave seca na região oeste do país. O solo norte-americano ainda não foi capaz de recuperar a umidade necessária, o que pode diminuir a produtividade da produção dos EUA para 2022, informou o canal norte-americano de TV CBS.
Expectativas
O Brasil produz menos da metade do trigo que demanda e recorre à importação para abastecer seu mercado. Compras de países como Rússia e Ucrânia são pequenas, quando comparadas às importações de trigo da Argentina, Canadá e EUA.
O governo do principal fornecedor brasileiro, a Argentina, declarou no dia 3 de março que vai limitar as exportações de trigo e adotar mecanismos de controle dos preços domésticos para evitar uma disparada da inflação, informou a Reuters.
— Os agentes econômicos vão se readaptando e redefinindo suas expectativas. E quem ganha com isso são aqueles que têm munição para se defender e controlar os preços — concluiu Nilson.