Rio de Janeiro, 10 de Dezembro de 2025

Com recuo dos EUA, ajuda à Ucrânia pode despencar em 2025

Instituto Kiel alerta que ajuda militar à Ucrânia pode despencar em 2025 devido ao recuo dos EUA. Trump critica Zelensky e propõe eleições na Ucrânia.

Quarta, 10 de Dezembro de 2025 às 14:42, por: CdB

O aviso veio um dia após uma nova investida de Donald Trump contra Volodymyr Zelensky, que respondeu afirmando estar disposto a organizar eleições presidenciais em seu país.

Por Redação, com RFI – de Kiev, Washington

A ajuda militar à Ucrânia pode atingir seu nível mais baixo em 2025, alertou nesta quarta-feira o instituto de pesquisa alemão Kiel, diante da incapacidade dos europeus de compensar a interrupção do apoio norte-americano.

Com recuo dos EUA, ajuda à Ucrânia pode despencar em 2025 | A ajuda militar à Ucrânia pode atingir seu nível mais baixo em 2025
A ajuda militar à Ucrânia pode atingir seu nível mais baixo em 2025

O aviso veio um dia após uma nova investida de Donald Trump contra Volodymyr Zelensky, que respondeu afirmando estar disposto a organizar eleições presidenciais em seu país.

O Kiel Institute é responsável por contabilizar a ajuda militar, financeira e humanitária prometida e entregue à Ucrânia desde a invasão russa em 24 de fevereiro de 2022. “De acordo com os dados disponíveis até outubro, a Europa não conseguiu manter o ritmo de recursos repassados no primeiro semestre de 2025”, observa Christoph Trebesch, diretor da equipe do Kiel, citado em comunicado. 

Os Estados Unidos forneciam mais da metade da ajuda militar à Ucrânia até a volta de Donald Trump à Casa Branca em janeiro de 2025. Em um primeiro momento, os europeus conseguiram compensar a interrupção dos recursos americanos, mas desde junho enfrentam dificuldades para manter os aportes. “Se essa desaceleração continuar nos próximos meses, 2025 será o ano de menor ajuda financeira para a Ucrânia desde 2022”, alerta Trebesch. 

Nos dez primeiros meses de 2025, foram destinados 32,5 bilhões de euros em ajuda militar à Ucrânia, principalmente pela Europa. Até o final do ano, os aliados da Ucrânia precisariam destinar mais de 5 bilhões de euros para igualar o ano mais fraco (37,6 bilhões de euros em 2022) e mais de 9 bilhões de euros para alcançar a média anual de 41,6 bilhões de euros registrada entre 2022 e 2024. No entanto, de julho a outubro, apenas 2 bilhões de euros foram destinados em média por mês. 

Nova investida de Trump contra Zelensky

Após a estratégia de segurança nacional divulgada na semana passada pelos Estados Unidos, o presidente Trump confirmou na terça-feira, em entrevista ao site Politico, sua visão muito sombria sobre o futuro europeu. Ele também lançou duras críticas ao presidente ucraniano Volodymyr Zelensky. 

Donald Trump criticou o que considera uma Europa “decadente”, governada por alguns líderes “estúpidos” e com uma política migratória excessivamente “politicamente correta”. Nas declarações ao site, o republicano questionou a impotência dos europeus diante da guerra na Ucrânia e reiterou seu apelo por eleições no país, invadido pela Rússia em 2022. Ele demonstrou uma atitude ambivalente em relação ao compromisso americano com o continente. 

O Kremlin saudou nesta quarta-feira essas últimas declarações do presidente americano sobre a Ucrânia, afirmando que são “conformes” à visão de Moscou. Donald Trump afirmou, na entrevista, que a Rússia sempre teve vantagem militar na frente de batalha na Ucrânia. 

Trump sustentou que a Rússia, por ser “muito maior” e “mais forte” que a Ucrânia, tem uma posição de negociação superior nas conversas para encerrar os combates, declarou à imprensa o porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov. 

Eleição presidencial na Ucrânia?

Em visita à Itália, Zelensky respondeu a Donald Trump, que o acusou de usar a guerra para não organizar uma nova eleição presidencial: “Estou pronto para eleições”, afirmou o chefe de Estado ucraniano aos jornalistas.

O fim oficial de seu mandato foi em maio de 2024. Desde então, Zelensky permanece como chefe de Estado de fato, em virtude da lei marcial, lembra o correspondente da agência francesa de notícias RFI em Odessa, Théo Renaudon. 

Zelensky fez uma espécie de pirueta para responder a Trump. Ele declarou pedir “abertamente, aos Estados Unidos que me ajudem, eventualmente com os colegas europeus, a garantir a segurança para a realização das eleições.” Zelensky chegou a propor um calendário. Se tiver ajuda americana, promete uma votação em três meses. 

Mas a lei marcial, em vigor desde o início da ofensiva russa, proíbe a realização de eleições durante o conflito. Zelensky pediu aos deputados ucranianos para prepararem “propostas sobre a possibilidade de alterar […] a legislação sobre eleições sob (o regime de) lei marcial”. 

O argumento “Zelensky presidente graças à guerra” é recorrente entre os adversários de Kiev, a começar por Vladimir Putin, que insiste que Zelensky não é legítimo para negociar a paz, já que seu mandato terminou oficialmente. 

O presidente ucraniano também quer apresentar a Washington uma nova versão do plano de paz, elaborada com os europeus, cujos detalhes ainda não são conhecidos. O plano americano previa inicialmente que a Ucrânia cedesse territórios não ocupados pela Rússia, possibilidade rejeitada por Kiev. 

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