Um estudo realizado com 3.672 secretarias municipais de Educação, dois terços do total, mostra que 49% delas relataram altos graus de dificuldade no acesso à internet pelos alunos.
Por Redação, com DW - de São Paulo
O cenário de escalada da pandemia no Brasil, com o recorde de quase 2,3 mil mortes registradas na última quarta-feira, torna cada vez mais complicada a retomada das atividades escolares presenciais. A situação é preocupante, sobretudo pela dificuldade de infraestrutura observada na rede pública.
Um estudo realizado com 3.672 secretarias municipais de Educação, dois terços do total, mostra que 49% delas relataram altos graus de dificuldade no acesso à internet pelos alunos. Embora 60% dos municípios tenham oferecido aulas gravadas, o principal recurso de ensino remoto no Brasil foram aulas por WhatsApp e materiais impressos, utilizados por 90% das cidades brasileiras.
Além do impacto sobre o ensino, pedagogos vêm alertando para os efeitos que as escolas fechadas podem ter sobre a sociabilidade de crianças e adolescentes. Nas famílias mais pobres, teme-se ainda um abandono escolar por jovens de maior idade que podem trocar o estudo pelo trabalho ante o cenário econômico desfavorável.
Impacto
O físico Roberto Kraenkel, professor da Universidade do Estado de São Paulo (Unesp) e pesquisador do Centro de Contingência contra covid-19 no Estado, desenvolveu modelos matemáticos que possibilitam estimar os impactos da reabertura das escolas na sociedade.
Ele é enfático quanto à completa impossibilidade de se pensar no tema em meio ao cenário de explosão de casos no Brasil.
— Estamos no meio de uma catástrofe — alertou.
Kraenkel também critica as medidas adotadas em momentos mais brandos para a reabertura de escolas — muito insuficientes, em sua opinião.
— Foi absolutamente caótico. O que mais se ouviu foi o discurso de que iriam reabrir as escolas com toda a segurança, sobretudo nas particulares. Quando você vai esmiuçar a segurança, é uma porcaria. Tinha colégio passando as pessoas por um túnel de ozônio. Isso não serve para nada, só faz mal à pessoa — ressaltou.
Kraenkel considera imprescindível haver condições de testagem e rastreio para evitar que o contato entre estudantes e professores tenha efeitos de transmissão em cadeia. Ele adverte, no entanto, que não é possível ter impacto zero com a reabertura de escolas.