A versão intramuscular do imunizante já foi homologada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para uso emergencial, com eficácia de 64% contra casos sintomáticos da covid-19 e de 92% contra infecções graves.
Por Redação, com ANSA e ABr - de Pequim/Brasília
As autoridades sanitárias da China aprovaram a primeira vacina nasal do mundo contra o coronavírus Sars-CoV-2, causador da covid-19.
O imunizante autorizado pela Administração Nacional de Produtos Médicos se chama Convidecia e é produzido pela farmacêutica chinesa CanSino Biologics.
A vacina, no entanto, será usada apenas como dose de reforço para quem já tenha concluído o esquema inicial. Sua aplicação será feita por meio de um spray nasal, método que dispensa agulhas.
A versão intramuscular do imunizante já foi homologada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para uso emergencial, com eficácia de 64% contra casos sintomáticos da covid-19 e de 92% contra infecções graves.
Com dose única, o imunizante utiliza um adenovírus modificado para apresentar ao sistema imunológico a proteína spike, espécie de coroa de espinhos que reveste o Sars-CoV-2.
Vacina brasileira mira variantes e facilidades logísticas
Oito em cada 10 brasileiros já tomaram duas doses ou a dose única das vacinas contra a covid-19 e pouco mais da metade dos brasileiros já recebeu ao menos a primeira dose de reforço. Com tantas pessoas imunizadas, a mortalidade pela doença segue em queda, mas pesquisadores continuam a trabalhar para não perder a corrida contra a evolução genética do coronavírus e continuar a reforçar a imunidade da população no futuro. É o caso da equipe do CT Vacinas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que neste momento reúne os últimos documentos para que um projeto de vacina 100% nacional tenha os testes em humanos iniciados em 2023.
A SpiN-TEC, como é chamada a vacina mineira, começou a ser desenvolvida em 2020, quando as variantes ainda não eram preocupação. De lá pra cá, o cenário epidemiológico mudou diversas vezes, com ondas de casos provocadas pelas novas versões do SARS-CoV-2, cada vez mais transmissíveis pelas mutações associadas à proteína Spike, também chamada de proteína S-, principal arma do vírus para invadir as células humanas.
Coordenador da equipe que desenvolve a vacina, Ricardo Gazzinelli, explica que, caso os estudos comprovem a eficácia da SpiN-TEC, ela deve se juntar ao time das vacinas de segunda geração, já calibradas para prevenir um vírus que evoluiu após mais de dois anos de contágio.
– O que estão chamando de vacinas de segunda geração são vacinas que teriam um espectro de ação mais amplo – afirma ele, que descreve que isso se dá pelo uso da proteína S do coronavírus ancestral e da variante Ômicron em uma mesma vacina, para que sejam criados anticorpos que reajam a ambas. “Essa é uma questão que as agências regulatórias vão começar a exigir a partir de uma hora. O problema é, se quando sair a vacina, já houver uma nova variante”.
A proteína S é o alvo tradicional das vacinas por dois pontos importantes: ela desperta reação imunológica e é a ferramenta de invasão das células humanas. Apesar disso, ela acumula uma grande quantidade de mutações, dificultando o trabalho dos anticorpos. Por isso, a atualização das vacinas aposta na combinação de uma nova proteína S com a proteína S ancestral na formulação das vacinas.
O pesquisador argumenta que, nesse sentido, o projeto da SpiN-TEC é interessante, por combinar as proteínas S e N do coronavírus. Diferentemente da S, a proteína N é mais estável e também desperta reação dos linfócitos T, outro mecanismo de defesa do corpo humano, o que, em tese, dará menos chance de escape às variantes atuais e futuras.
Essas questões continuam a ser importantes porque a comunidade científica ainda não consegue determinar qual será a necessidade de doses de reforço, nem para quem elas serão necessárias no futuro. Desse modo, o pesquisador acrescenta que a SpiN-TEC poderia ser produzida em parceria com institutos de pesquisa públicos, como Bio-Manguinhos e Butantan, ou com empresas privadas, e sua plataforma tecnológica apresenta facilidades logísticas.
– É uma vacina muito estável. Ela dura duas semanas na temperatura ambiente e seis meses na geladeira, o que facilita muito a distribuição. Ainda mais no Brasil, que tem uma extensão tão grande e áreas que não têm uma infraestrutura tão boa – afirma ele. “A proteína é uma proteína recombinante produzida em bactéria, um modelo bem clássico de produção de proteína, um modelo barato. É uma infraestrutura existente no Brasil”.