No ano passado, foram detectados 136 incidentes racistas, 39% a mais que os 98 registrados em 2022, segundo o relatório anual do Observatório da Discriminação Racial no Futebol.
Por Redação, com CartaCapital – de Brasília
Os casos de racismo no futebol brasileiro aumentaram quase 40% em 2023 e tiveram um crescimento quase constante desde que esse tipo de monitoramento começou a ser feito, segundo relatório de uma ONG divulgado na quinta-feira.
No ano passado, foram detectados 136 incidentes racistas, 39% a mais que os 98 registrados em 2022, segundo o relatório anual do Observatório da Discriminação Racial no Futebol.
É o maior número desde que a organização começou a fazer a contagem, em 2014, ano em que o Brasil sediou a Copa do Mundo da Fifa.
“Desde 2016, observa-se um avanço anual, à exceção em 2020, em função da pandemia do novo coronavírus. Em relação a 2014, primeiro ano do monitoramento realizado pelo Observatório, os incidentes aumentaram em 444% (de 25 para 136)”, indica o documento.
Os autores garantiram que o aumento de casos se deve ao fato de atualmente serem apresentadas mais queixas por atos discriminatórios, porque há uma diminuição “importante, embora ainda insuficiente” da tolerância a estes atos.
Mas reconheceram a possibilidade de subnotificação no estudo, realizado a partir do monitoramento de publicações na mídia local e internacional.
– Esses dados me entristecem, sei bem dessa realidade, convivo com preconceito desde criança e a todo momento, todo o dia – disse o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ednaldo Rodrigues, durante a apresentação do relatório nesta quinta-feira no Rio de Janeiro.
– Mas vejo também muitos avanços e procuro ser sempre otimista. Se a gente tem mais denúncias, é porque também a sociedade brasileira está mais atenta ao que é racismo e as suas diversas formas de expressão – acrescentou Rodrigues, o primeiro presidente negro da CBF.
Vinicius Jr., alvo constante
A instituição máxima do futebol e o Grupo de Estudos sobre Esporte e Discriminação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul colaboraram na elaboração do documento.
O relatório também registrou 250 discriminações raciais, de gênero, sexuais e xenofóbicas contra diversos tipos de atletas brasileiros, que atuam dentro e fora do Brasil, em 2023.
A maioria dos incidentes (222), no entanto, ocorreu no futebol, sendo os jogadores as principais vítimas, seguidos pelos torcedores e árbitros.
Os estádios e as redes sociais são os principais espaços de agressão, segundo o estudo. Torcedores, outros jogadores e dirigentes costumam ser apontados como os maiores responsáveis.
“Muitos” dos 26 casos de racismo no futebol detectados fora do Brasil tiveram como alvo Vinicius Jr., atacante do Real Madrid e da Seleção, explicou Marcelo Carvalho, diretor executivo do Observatório de Discriminação Racial no Futebol.
Um torcedor do espanhol Mallorca foi condenado nesta quinta-feira a doze meses de prisão e a três anos de proibição de entrar num estádio por injúria racial contra ‘Vini’.
A CBF aumentou as penas para atos discriminatórios no futebol, com sanções que vão desde multas até a possibilidade de os times perderem pontos.
O preconceito racial é crime no Brasil, onde 56% dos mais de 200 milhões de habitantes se identificam como afrodescendentes ou pardos.