Com base nesses números, uma das propostas da agência da ONU agora é assegurar os direitos humanos das pessoas que vivem com problemas de saúde mental além de promover e proteger a saúde mental ao longo da vida.
Por Redação, com Canaltech - de Brasília
Dados da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), publicados no último dia 9 através do relatório Uma Nova Agenda para a Saúde Mental na Região das Américas, apontam que os casos de ansiedade e depressão tiveram um aumento de 30% durante a pandemia de covid-19. Em paralelo, mais de 80% das pessoas com casos severos de saúde mental estão sem tratamento.
Com base nesses números, uma das propostas da agência da ONU agora é assegurar os direitos humanos das pessoas que vivem com problemas de saúde mental além de promover e proteger a saúde mental ao longo da vida. As informações também ressaltam a necessidade de melhorar a saúde mental e pesquisa e expandir os serviços de saúde nessa área é fundamental para cuidar de quem precisa de tratamento.
Segundo a Opas, as Américas investem, do total do orçamento nacional para saúde dos países, uma média de apenas 3% em saúde mental. A Comissão de Alto Nível sobre Saúde Mental e Covid-19 foi criada em maio de 2022 com 17 especialistas de governos, sociedade civil e academia.
A agência diz que a saúde mental era um problema que não tinha tanta visibilidade, e a pandemia ressaltou muito o problema da saúde mental em toda a região. Segundo Jarbas Barbosa, diretor da Opas, nos últimos 20 anos, nós já temos tido em todas as Américas um crescimento da taxa de suicídio.
– Tanto nas pessoas de mais idade como em alguns jovens relacionados com vários fatores. Com a falta de acesso, com a desigualdade, com a falta de atenção para problemas de saúde como a ansiedade como depressão. A pandemia amplificou tudo isso pela incerteza, pelo medo que as pessoas passaram a ter de morrer, de ver familiares, pessoas queridas morrendo – apontou o diretor, em entrevista à ONU News.
Depressão
O Ministério da Saúde define a depressão como um distúrbio afetivo que acompanha a humanidade ao longo de sua história. "No sentido patológico, há presença de tristeza, pessimismo, baixa auto-estima, que aparecem com frequência e podem combinar-se entre si. É imprescindível o acompanhamento médico tanto para o diagnóstico quanto para o tratamento adequado", recomenda a Pasta.
O órgão menciona uma série de evidências que mostram alterações químicas no cérebro do indivíduo deprimido, principalmente com relação à química do cérebro: neurotransmissores (serotonina, noradrenalina e, em menor proporção, dopamina), substâncias que transmitem impulsos nervosos entre as células.
De acordo com a Pasta, os fatores psicológicos e sociais muitas vezes são consequência e não causa da depressão. Por sua vez, o estresse pode precipitar a depressão em pessoas com predisposição, que provavelmente é genética.
A depressão pode ser separada em vários tipos, como o transtorno depressivo clássico/maior, transtorno depressivo persistente, transtorno disruptivo de desregulação do humor, transtorno afetivo sazonal ou até mesmo depressão pós-parto.
Ansiedade
Por sua vez, a ansiedade pode ser definida como um fenômeno que ora nos beneficia, ora nos prejudica, e dependendo das circunstâncias ou intensidade, pode se tornar patológica, ou seja, prejudicial ao nosso funcionamento psíquico (mental) e somático (corporal).
Vale mencionar que o transtorno tem sintomas muito mais intensos do que aquela ansiedade normal do dia a dia. Além disso, a ansiedade afeta vários aspectos diferentes do corpo humano.
Ansiedade e depressão na pandemia
Em conversa com o portal Canaltech, o Henrique Bottura, psiquiatra diretor clínico do Instituto de Psiquiatria Paulista (IPP), menciona que essa mudança muito aguda na forma de funcionar do mundo (fora os riscos, as perdas, os conflitos e as crises) gerou um desafio maior para o organismo e nossa consciência, o que reflete na saúde mental.
– Na pandemia, o sono de muitas pessoas ficou prejudicado, alguns deixaram de fazer tratamento, alguns passaram a beber mais. Foram tantas as mudanças em tão pouco tempo, que é esperado que alguma alteração da saúde mental acontecesse. A gente observa isso nos serviços de psiquiatria. Muitas pessoas que não tinham transtorno passaram a pedir ajuda, e muitas que já tinham pioraram – comenta o especialista.
Segundo Bottura, a pandemia ocasionou um grande processo de adaptação no modelo de vida, e depois que a vida voltou "ao normal", também houve um processo de readaptação a uma realidade nova. "Em três anos, o mundo passou por uma transformação que levaria décadas para passar. Com o agravamento dos quadros durante a pandemia, a gente tem alguns resíduos. E uma questão é que com a diminuição do estigma e o aumento da busca [por ajuda profissional], mais diagnósticos são feitos", completa.
Tem como recuperar os danos causados na pandemia?
De acordo com Bottura, não só é possível a recuperação, como também uma evolução em comparação com a condição anterior. "Muitas vezes a pessoa demora anos para procurar o psiquiatra e quando é atendida, tem um olhar mais amplo sobre a saúde psiquiátrica como um todo e também os hábitos da vida, a rotina, etc. Então há como se recuperar e até como melhorar."
Como reduzir o número de diagnósticos de ansiedade e depressão?
O especialista reconhece que essa é uma questão ampla, considerando que essas manifestações são multicausais, e não são somente de ordem biológica. "Para diminuir os quadros de ansiedade e depressão, muitas coisas precisam acontecer, desde questões do funcionamento de uma sociedade como um todo, em termos culturais, políticos, como as relações familiares", reflete.
Mas do ponto de vista médico, Bottura estima que o que pode ser feito é levar informação para que as pessoas busquem tratamento de forma precoce. "Quanto mais tempo vivendo sob um quadro de ansiedade e depressão, maior o impacto negativo que isso traz na vida como um todo. Então temos que trabalhar em várias frentes, como prevenção, políticas públicas que possam beneficiar o estilo de vida, políticas das empresas que possam ajudar seus funcionários a ter tratamento rápido quando necessário", finaliza o psiquiatra.