Scherer é um dos sete brasileiros com direito a voto que participarão do conclave para escolher o sucessor do papa Francisco, morto aos 88 anos.
Por Redação, com ANSA – da Cidade do Vaticano
O arcebispo de São Paulo, cardeal Odilo Scherer, afirmou nesta terça-feira que a eleição do próximo papa pode trazer surpresas, inclusive com a escolha de um religioso de fora da Europa e das Américas.

– Existe uma consciência mais clara entre os cardeais de que o papa não precisa ser europeu, não precisa ser italiano. Não importa de qual país ele venha. Importa que tenha carisma e que desempenhe bem sua missão – declarou o cardeal em entrevista à rádio CBN.
– Não surpreenderia se fosse escolhido um papa de outro continente que não fosse Europa ou América, como foi desta vez [com Francisco]. A Igreja Católica é de todo o mundo – acrescentou o religioso.
Africano ou asiático
Na segunda-feira, ele já havia afirmado que “ninguém deveria se surpreender se fosse escolhido um cardeal africano ou um cardeal asiático para ser o próximo papa.
Scherer é um dos sete brasileiros com direito a voto que participarão do conclave para escolher o sucessor do papa Francisco, morto aos 88 anos.
– O resultado do conclave pode trazer surpresas. O papa Francisco foi uma surpresa, não se contava com ele nos prognósticos, e ele foi uma bela surpresa – concluiu.
Conclave
Atualmente, são 135 os cardeais com direito a voto que poderão participar do conclave que escolherá o novo papa. A única incerteza é a posição do cardeal espanhol Carlos Osoro Sierra, que completará 80 anos no próximo dia 16 de maio, atingindo a idade de corte para votar na eleição do pontífice.
Há tempos circulam nomes de possíveis futuros papas, desde o secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, até o arcebispo de Bolonha, Matteo Zuppi, passando pelo patriarca de Jerusalém, Pierbattista Pizzaballa, todos eles italianos. A lista de cotados ainda inclui o húngaro Péter Erdo, o francês Jean-Marc Aveline, o holandês Willem Eijk, o filipino Luis Tagle (representando a Igreja asiática), o congolês Fridolin Ambongo Besungu (como possível candidato africano) e o brasileiro Leonardo Ulrich Steiner, arcebispo de Manaus, pelos latino-americanos.
O número de 135 eleitores supera amplamente o limite máximo de 120 estabelecido pela constituição apostólica Romano Pontifici Eligendo, de Paulo VI, e confirmado pela Universi Dominici Gregis, de João Paulo II. Contudo tanto Wojtyła quanto seus sucessores frequentemente ignoraram essa regra e nomearam cardeais para além do marco de 120 membros do colégio eleitoral.
Com seu último consistório, em 7 de dezembro passado, o 10º de seu pontificado e no qual criou 20 novos eleitores, o papa Francisco, já com quase 88 anos, parece ter buscado formar uma “reserva” estável, uma espécie de margem de segurança caso fosse necessário eleger um novo pontífice. Com isso, Jorge Bergoglio superou até mesmo João Paulo II, que realizou nove consistórios.
Ao todo, Francisco criou 163 cardeais, dos quais 133 eram eleitores no momento da nomeação. Atualmente, os eleitores por ele indicados são 108, uma esmagadora maioria entre os 135 aptos a entrar no conclave (22 foram nomeados por Bento XVI, e apenas cinco remanescem da época de João Paulo II).
No entanto não se pode dizer que se trate de um grupo homogêneo, muito menos monolítico em sua visão sobre a vida e o governo da Igreja. Basta lembrar que, entre os que receberam a púrpura de Francisco, está seu ferrenho opositor, o alemão Gerhard Ludwig Muller, prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé sob Bento XVI e que não poupou críticas duras a Bergoglio em diversos temas.
O mesmo vale para vários cardeais africanos, que, em questões éticas, como a abordagem da homossexualidade, estão longe de alinhar-se com o que se professa na Europa, muito menos com a bênção a casais homoafetivos autorizada por Francisco.
Tradição italiana e ocidental
O que o papa certamente alcançou com suas nomeações para cardeal, incluindo as mais recentes, foi uma Igreja e um colégio eleitoral cada vez menos eurocêntricos, menos dominados pela tradição italiana e ocidental, com um olhar atento e minucioso para as “periferias” e as igrejas “de fronteira” em todo o planeta.
Dos 135 cardeais no conclave, 59 são da Europa (incluindo 19 da Itália); 37, das Américas (incluindo 16 da América do Norte, 4 da América Central e 17 da América do Sul); 20, da Ásia; 16, da África; e 3, da Oceania.
As demandas que serão levadas ao conclave refletem uma Igreja menos focada na defesa de privilégios antigos e mais aberta ao cuidado das feridas da humanidade em todos os cantos do mundo, à defesa da criação, às pobrezas e desigualdades em todas as suas dimensões, e às periferias, “tanto físicas quanto existenciais”, conforme dizia Bergoglio.
Um grande ponto de interrogação, não apenas em relação aos conflitos armados que hoje ensanguentam o planeta, é o relacionamento com a política, em um mundo que vive rápidas transformações nesse aspecto.
O mais jovem do conclave será o ucraniano Mykola Bychok, que completou 45 anos em 13 de fevereiro. O mais velho é o espanhol Carlos Osoro Sierra, seguido de perto, com apenas um mês de diferença, pelo guineense Robert Sarah.