Nabhan baseia-se no Código Florestal para afirmar que há espaço para desmatar legalmente a Amazônia. De acordo com a lei, o proprietário de terras deve manter 80% da floresta preservada na Amazônia Legal.
Por Redação - do Rio de Janeiro
Cotado para assumir o Ministério da Agricultura em eventual governo de Jair Bolsonaro (PSL), o empresário Luiz Antonio Nabhan Garcia, presidente da União Democrática Ruralista (UDR), de extrema direita, defende a fusão da pasta com o Desenvolvimento Agrário e o Meio Ambiente. Segundo afirmou, para um dos diários conservadores paulistanos, pretende acabar com o que chama de “misturança ideológica” na questão ambiental.
— Criou-se uma fantasia, uma lenda, onde, no Brasil, o cara que degrada o meio ambiente é o produtor rural. É exatamente o contrário. Esse produtor rural é o maior conservador do meio ambiente — diz Nabhan.
Ibama
Nabhan baseia-se no Código Florestal para afirmar que há espaço para desmatar legalmente a Amazônia. De acordo com a lei, o proprietário de terras deve manter 80% da floresta preservada na Amazônia Legal — área que engloba nove estados com o mesmo bioma e que corresponde a 59% do território brasileiro.
Assim como o presidenciável, Nabhan defende a saída brasileira do Acordo de Paris e fala no fim da “indústria da multa” pelos fiscais do Ibama. Para ele, há "muita fantasia, muita lenda" sobre o aquecimento global.
Nabhan, dono de propriedades em Mato Grosso (soja, milho e algodão) e Mato Grosso do Sul (eucalipto e pecuária), é contra o desmatamento zero, mas defende o atual modelo do Código Florestal, cujo relator foi o ex-comunista Aldo Rebelo, hoje no Podemos.
A ideia de Nabhan e da campanha de Bolsonaro é unir agricultura, ambiente e reforma agrária numa mesma pasta. Mas, sobre esse último item, segundo ele, não há nenhum espaço para diálogo com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
— Se o Bolsonaro sentar com eles, será a maior decepção de quem o elegeu — adianta.
Déficit zero
Na mesma linha de Nabhan, sob o argumento de "zerar" o déficit público no primeiro ano de mandato, a mesma promessa do presidente de facto, Michel Temer, a equipe de Bolsonaro articula um plano de liquidar de vez com o pré-sal; entregando-o completamente às petroleiras internacionais.
Um dos pontos centrais do golpe de Estado, em curso, foi o déficit público do governo Dilma, com promessas de que ele seria zerado, imediatamente, em 2017, o déficit foi de nada menos que R$ 124 bilhões. Sem contar o dinheiro entregue aos bancos e rentistas como juros da dívida pública. O governo Temer iniciou a entrega do pré-sal sob o mesmo argumento, e o déficit continua onde estava.
Segundo contas feitas em conjunto pela equipe de Temer e a de Bolsonaro, está projetada uma arrecadação total de R$ 90 bilhões, sendo que R$ 60 bilhões irão para a União e outros R$ 30 bilhões para a Petrobras. Essa arrecadação não zera o déficit primário, sequer altera o déficit da dívida pública federal, que chegou a R$ 3,55 trilhões em 2017 (endividamentos do governo dentro do Brasil e no exterior). O pagamento dos juros da dívida pública, entregue aos bancos e rentistas custou ao país mais de R$ 462 bilhões em 2017.
Demissão em massa
Ou seja, os R$ 90 bilhões que a equipe de Temer/Bolsonaro pretende arrecadar com a entrega do pré-sal está longe de fazer frente ao déficit público e, sobretudo, ao pagamento de juros para os bancos e rentistas. O déficit primário estimado para 2019 está em R$ 139 bilhões e os juros da dívida pública podem custar algo perto de R$ 400 bilhões.
Qual o plano dos bolsonaristas? Vender o que for necessário do patrimônio do país -eles estimam em 1/3 das empresas estatais- se necessário aprofundar o teto de gastos sociais e atacar o funcionalismo público, eliminando ministérios, tirando o Estado de segmentos como saúde e educação, cortando salários e com programas de demissão em massa.
É o oposto do projeto de Fernando Haddad. Ele promete retomar o pré-sal, não irá privatizar estatais e quer retomar o equilíbrio fiscal gradualmente. Para isso, Haddad aposta em três condições: crescimento da atividade econômica, da renda e do emprego, que elevam a receita do governo federal.