Rio de Janeiro, 05 de Dezembro de 2025

Brasil cria plataforma pioneira de vacinas de mRNA na Fiocruz

Brasil registra patente de plataforma de vacinas de mRNA, garantindo autonomia na produção e desenvolvimento de imunizantes para doenças endêmicas.

Quinta, 21 de Agosto de 2025 às 11:01, por: CdB

Nova tecnologia permite autonomia na produção, sem royalties, e abre caminho para imunizantes contra doenças endêmicas.

Por Redação, com Agenda do Poder – do Rio de Janeiro

O Brasil registrou recentemente a primeira patente de uma plataforma própria para vacinas de mRNA (RNA mensageiro), a mesma tecnologia utilizada na produção rápida de imunizantes contra a covid-19. Diferentemente das versões estrangeiras, a plataforma nacional possibilita ao país desenvolver vacinas com independência estratégica e escolher alvos de interesse local, sem precisar pagar royalties a outros países.

Brasil cria plataforma pioneira de vacinas de mRNA na Fiocruz | Fiocruz desenvolve tecnologia nacional de vacinas de mRNA
Fiocruz desenvolve tecnologia nacional de vacinas de mRNA

A iniciativa foi conduzida pelo Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos), da Fiocruz, que desde 2021 é centro de referência da Organização Mundial da Saúde (OMS) para desenvolvimento de vacinas de mRNA.

Ana Paula Dinis Ano Bom, gerente de desenvolvimento de Bio-Manguinhos, destaca a relevância da conquista: “Conseguimos criar uma plataforma totalmente brasileira e com uma abordagem original. Isso fortalece nossa soberania e nos dá independência estratégica.”

Plataformas de mRNA funcionam como veículos flexíveis capazes de transportar imunizantes contra vírus, bactérias, parasitas ou até tratamentos para câncer e doenças neurológicas como Parkinson e Alzheimer. A primeira plataforma brasileira começou com foco na Covid-19 e está em testes para um imunizante contra a leishmaniose, doença endêmica em áreas da Amazônia e em periferias do Rio de Janeiro.

Patrícia Neves, líder científica do projeto, explica que o diferencial da plataforma está no envoltório de lipídios que protege o mRNA. “Conseguimos construir uma estratégia totalmente nossa, o que nos permitiu obter uma patente. O tamanho e as características do envoltório são essenciais para garantir que o material genético chegue às células e ative a resposta imunológica.”

O mRNA funciona como mensageiro: leva a receita de uma proteína que será produzida pelo organismo, estimulando o sistema imunológico sem causar a doença. No caso da Covid-19, a proteína do coronavírus Sars-CoV-2 é suficiente para gerar proteção.

A plataforma já possui capacidade de produção industrial e um lote piloto está pronto. Caso os testes clínicos sejam aprovados pela Anvisa, as vacinas poderão ser produzidas em larga escala. Segundo Ana Paula, a vantagem do mRNA é a flexibilidade: “Uma vez tendo a plataforma, bastam dois ou três meses para adaptá-la a uma nova doença.”

Apesar do avanço tecnológico, o Brasil ainda enfrenta desafios logísticos, como a dependência de importação de reagentes e matéria-prima. Sem uma indústria de química fina suficientemente desenvolvida, a chegada de insumos pode levar meses.

Os próximos planos incluem o desenvolvimento de vacinas contra Covid-19, leishmaniose, influenza, zika, chikungunya, oropouche, vírus sincicial respiratório (VSR) e tuberculose. Herbert Guedes, vacinologista da UFRJ e pesquisador da Fiocruz, destaca a importância da plataforma para doenças endêmicas: “Se não fizermos, ninguém fará. Agora temos condições de desenvolver imunizantes rapidamente, de forma segura e eficiente.”

Vacinas preventivas

Além de vacinas preventivas, a plataforma também abre caminho para vacinas terapêuticas, que funcionam como imunoterapias, estimulando o sistema imunológico a combater doenças já instaladas, incluindo certos tipos de câncer. O princípio é sempre o mesmo: ensinar o organismo a produzir defesas eficazes e memória imunológica contra agentes específicos.

Segundo Guedes, a plataforma representa um marco para o Brasil: “Saímos do zero e criamos uma tecnologia própria em quatro anos. Agora podemos reinvestir royalties obtidos em novas pesquisas e expandir nosso alcance, tanto nacional quanto internacionalmente.”

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