A Safernet é uma organização de direitos humanos conhecida por sua atuação no combate à pedofilia on-line. E vinha trabalhando na captura de um dos maiores pedófilos do mundo, além de também trabalhar no combate à desinformação nas eleições.
Por Redação, com RBA - de Brasília
O fundador e presidente da SaferNet Brasil, Thiago Tavares, teve que buscar um exílio, na Alemanha, após ser alvo de ameaças e espionagem. De acordo com uma carta enviada a funcionários, Tavares teve seu computador invadido pelo aplicativo Pegasus, usado para perseguições políticas contra jornalistas e ativistas.
Segundo texto publicado do portal UOL, o fundador da Safernet viu as ameaças de morte aumentarem após participar, em 26 de outubro, da mesa “Como se estruturam as campanhas de ódio e desinformação” em seminário promovido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “O auto-exílio ou exílio voluntário é medida extrema, e jamais aplicada desde a fundação da instituição em 2005, quando a segurança pessoal de funcionário, colaborador ou diretor da SaferNet Brasil encontra-se em grave e iminente risco. É justamente o que ocorre”, afirma.
A Safernet é uma organização de direitos humanos conhecida por sua atuação no combate à pedofilia on-line. E vinha trabalhando na captura de um dos maiores pedófilos do mundo, além de também trabalhar no combate à desinformação nas eleições.
Em risco
As ameaças, segundo Tavares, cresceram no dia 22 de novembro quando um funcionário da SaferNet Brasil sofreu um sequestro relâmpago em Salvador, e teve celular e computador roubados. Ele afirma que no último dia 2 uma pessoa de sua família foi ferida na capital baiana e internada em UTI.
No mesmo dia, a ONG coletou evidências de que o computador do presidente da Safernet foi comprometimento pelo aplicativo Pegasus, desenvolvido pela empresa NSO Group, de Israel, que vem sendo utilizado ilegalmente para perseguir jornalistas e ativistas de direitos humanos em diversos países do mundo.
“A proximidade dos fatos, somado às ameaças que já vinha recebendo, não deixou alternativa a Thiago Tavares a não ser deixar o país, temporariamente, até que as circunstâncias dos fatos sejam totalmente esclarecidas e sejam restabelecidas as condições de segurança pessoal para o desempenho de suas atividades profissionais e acadêmicas no Brasil, seja como defensor dos direitos humanos, seja como especialista em tecnologia”, finaliza o texto.
Repercussão
Nas redes sociais, a notícia chocou pessoas ligadas ao mundo digital. Segundo o jornalista Marcelo Träsel, presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), é preciso apurar a ligação da invasão do computador do ativista com o governo Bolsonaro. “Este caso mostra como era temerária a proposta dos Bolsonaro. Foi alguém ligado ao governo o responsável? É preciso apurar. Muita gente tem motivos para odiar a Safernet. Porém, a empresa que produz o Pegasus afirma só vender para governos”, escreveu no Twitter.
Rafael Zanatta, diretor de pesquisa da Associação Data Privacy Brasil e líder de projetos do InternetLab, chamou o exílio do fundador da Safernet de “desesperador”. “Caso muito muito tenso que deve despertar atenção de toda comunidade de direitos digitais no Brasil e no mundo. Estamos profundamente chateados e em solidariedade”, disse.
Tatiana Dias, editora do The Intercept, afirma que o caso é um alerta para pesquisadores, ativistas e jornalistas. “Sabe como se articulam as redes de ódio e denuncia isso. Seu trabalho incomodava muita gente, mas foi um evento do TSE que fez a coisa escalar. Thiago estava sendo espionado. A quem interessa silenciar a Safernet?”, questionou.