Rio de Janeiro, 22 de Novembro de 2024

Alunos em situação de vulnerabilidade social sofrem com corte no Paraná

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Segunda, 12 de Dezembro de 2022 às 11:06, por: CdB

Com o bloqueio de R$ 431 milhões determinado pelo Ministério da Educação (MEC) e a consequente suspensão de bolsas e auxílios, são muitos os estudantes como Ruan que não sabem se poderão pagar qualquer conta em dezembro.

Por Redação, com Brasil de Fato - de Brasília

Ruan Patrick de Oliveira, 26 anos, veio de Belém, no Pará, para realizar o sonho de cursar Terapia Ocupacional na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Cotista social e de escola pública, ele não conseguiria permanecer na universidade se o corte dos auxílios se efetivasse. Os R$ 675 de auxílio permanência e moradia pagam apenas a mensalidade da Casa do Estudante Universitário (CEU), as passagens de ônibus para frequentar as aulas e os materiais para estudo. A alimentação é garantida pelo Restaurante Universitário, onde ele faz todas as refeições do dia de forma gratuita através do auxílio refeição, concedido pela Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE) da UFPR.

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Estudantes fizeram manifestação contra os cortes, no último dia 8

– Se não cair o pagamento, eu vou fazer de tudo para não sair da universidade, porque esse é meu sonho – diz Ruan. "Vou ter que buscar trabalho em bares no final de semana, algo que não atrapalhe os estudos", fala.

Com o bloqueio de R$ 431 milhões determinado pelo Ministério da Educação (MEC) e a consequente suspensão de bolsas e auxílios, são muitos os estudantes como Ruan que não sabem se poderão pagar qualquer conta em dezembro e mesmo se poderão continuar frequentando as aulas.

No último di 6, a UFPR publicou um comunicado à comunidade universitária alegando que, com os cortes efetuados pelo governo federal, não havia nenhuma condição financeira para realizar o saldo das contas básicas de água, luz, contratos dos serviços essenciais de conservação, limpeza e segurança, bem como o pagamento de bolsas, auxílios e o funcionamento dos restaurantes universitários, já neste mês de dezembro.

No mesmo dia, foi divulgada uma portaria que permite ao MEC utilizar cerca de R$ 300 milhões destinados inicialmente a despesas obrigatórias para as despesas discricionárias. Contudo, mesmo com a medida, o valor é insuficiente. Em nota técnica, a coordenação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) afirma que, só para cumprir seus pagamentos de novembro, seriam necessários mais de R$ 398 milhões.

Sem dinheiro para pagar as contas e permanecer na faculdade, Jorge Luiz de Souza Batista, 28, teme ter que largar o curso de Artes Visuais na UFPR e voltar para a casa da família, em Taboão da Serra, região metropolitana de São Paulo. Jorge também é bolsista da universidade e, além dos auxílios permanência e moradia, recebe a bolsa de R$ 400 para desempenhar o trabalho de tutoria de uma estudante autista.

– Com os cortes, eu não consigo pagar minhas contas pessoais, se tiver que comprar algum material para a universidade, usar transporte público, não vou conseguir. Se eu ficar doente, não vou ter dinheiro para comprar remédio – diz Jorge.

Filho de mãe aposentada, que ainda trabalha para complementar o valor do aluguel, o estudante fala que voltar para casa e causar mais despesas é a última alternativa. "Eu não posso depender de nenhum centavo dela. Inclusive, eu gostaria de já estar trabalhando para conseguir ajudá-la", afirma.

Estudantes de pós em risco

Em vídeo nas redes sociais, o reitor da UFPR e presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Ricardo Marcelo, alegou que os recursos realocados pela nova portaria, o valor de R$ 300 milhões, serão destinados para o pagamento das bolsas assistenciais do Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES). O pagamento foi efetivado na manhã da última sexta-feira.

O reitor diz ainda que, embora esteja comemorando essa vitória, a Andifes não descansará até que as bolsas ainda não pagas sejam depositadas e até que todos os recursos retornem para onde nunca deveriam ter saído: as universidades.

Mestranda em Antropologia e Arqueologia, Yslia Alencar, 23, saiu do município de Crato, no Ceará, para se dedicar à pesquisa na UFPR. Mudou-se para a cidade no início do ano e só veio porque passou no processo de seleção de bolsa para pós-graduação, que paga mensalmente o valor de R$ 1,5 mil.

As bolsas da Capes referentes ao pagamento dos pós-graduandos ainda não foram depositadas. Neste mês, Yslia teve que recorrer à família para conseguir pagar moradia e comprar comida. "Meu pai fez um empréstimo para tentar quitar o cartão, que é como eu consigo me virar aqui", conta a estudante.

Na semana passada, o Ministério da Educação prometeu transferir para a Capes R$ 160 milhões para o pagamento de bolsas de mestrado, doutorado e pós-doutorado. Em comunicado publicado na sexta-feira, a UFPR informou que o pagamento dos bolsistas de pós-graduação será efetivado até o dia 13 de dezembro. No entanto, "todas as universidades e institutos federais permanecem sem recursos para saldar seus contratos de serviços e de terceirizados, bem como o pagamento de contas básicas de água e luz".

Em nota para o Brasil de Fato, o Diretório Central dos Estudantes da UFPR afirmou que "estiveram buscando, sempre que possível, denunciar os cortes e levantar o debate sobre o quão é importante que os estudantes estejam mobilizados para barrá-los através das redes sociais, assembleias pelo movimento estudantil de Curitiba e compondo os atos, como foi o caso do último dia 8 na paralisação geral dos estudantes pós-graduandos, porque por mais que o corte foi revertido e as bolsas de permanência e moradia foram pagas, a gente ainda está a mercê de futuros cortes".

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