Rio de Janeiro, 24 de Abril de 2025

Aliados se afastam de Milei após escândalo do memecoin argentino

Isso gera preocupação em um ano eleitoral, pois Milei busca reforçar sua posição relativamente fraca no Congresso, construindo pontes com aliados conservadores.

Quinta, 27 de Fevereiro de 2025 às 11:20, por: CdB

Isso gera preocupação em um ano eleitoral, pois Milei busca reforçar sua posição relativamente fraca no Congresso, construindo pontes com aliados conservadores.

Por Redação, com Reuters – de Buenos Aires

Um escândalo e uma investigação sobre uma memecoin abalaram a popularidade do presidente da Argentina, Javier Milei, e prejudicaram seus esforços para fortalecer as alianças políticas antes das eleições parlamentares de meio de mandato deste ano.

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Escândalo de memecoin atrapalha busca de Milei por aliados em eleição parlamentar na Argentina

O impetuoso ex-economista venceu uma eleição surpreendente em 2023 com promessas de usar uma “motosserra” nos gastos públicos, e recentemente presenteou o bilionário Elon Musk com uma de verdade. Milei causou polêmica quando postou este mês no X em apoio a um novo token, Libra.

Após a publicação de Milei, o preço da criptomoeda Libra subiu para US$ 5. Horas depois, caiu para cerca de US$ 1. O presidente rapidamente excluiu a postagem e os críticos o acusaram de um golpe chamado de “puxão de tapete”, no qual uma pessoa influente promove um ativo financeiro por motivos duvidosos para inflar o preço e depois vendê-lo.

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O governo de Milei disse que o próprio presidente foi enganado, e ele negou ter vínculos comerciais com a criptomoeda. Um juiz federal está investigando o lançamento do token e se Milei estava envolvido.

As primeiras ações econômicas de Milei vieram com medidas de austeridade severas, mas os eleitores apreciaram seu estilo de fala simples e suas promessas de acabar com os políticos corruptos da “casta”. Mas o episódio das criptomoedas começou a corroer esse forte apoio.

– Há algo que foi quebrado em termos de credibilidade e confiabilidade – disse Shila Vilker, diretora da empresa de pesquisas Trespuntozero, com sede em Buenos Aires, cujos dados mostraram que 53,1% dos argentinos não confiam em Milei por causa do escândalo.

Tanto a pesquisa da Trespuntozero quanto outra da Giacobbe & Asociados mostraram que a imagem positiva de Milei sofreu apenas uma pequena queda após o escândalo. No entanto, a pesquisa da Giacobbe & Asociados indicou que 46,6% dos entrevistados tinham uma visão negativa do presidente, um aumento acentuado em relação aos 36,2% da pesquisa anterior.

Isso gera preocupação em um ano eleitoral, pois Milei busca reforçar sua posição relativamente fraca no Congresso, construindo pontes com aliados conservadores mais tradicionais e trazendo mais legisladores para seu partido libertário.

– O caso Libra começou a prejudicar sua base eleitoral – disse Vilker. “É a bala ou a munição que a oposição precisava.”

Milei, o antipolítico

As memecoins são novos tokens de criptografia que se baseiam em tendências ou pessoas populares da Internet. Elas geralmente decolam e registram aumentos surpreendentes no preço antes de entrarem em colapso repentino, deixando alguns compradores iniciais com ganhos espetaculares, mas muitos outros com prejuízos.

Memecoins famosas incluem a Dogecoin, com tema de cachorro, que disparou quando o bilionário Elon Musk começou a tuitar sobre ela em 2020. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e sua esposa lançaram criptomoedas com seus próprios nomes dias antes de sua posse na Casa Branca em janeiro.

A publicação de Milei para seus 3,8 milhões de seguidores no X ajudou a impulsionar a Libra antes que a memecoin entrasse em colapso. Seu governo alega que ele foi enganado e não se beneficiou pessoalmente.

– Se há alguém que foi enganado, esse alguém é Milei – disse à agência inglesa de notícias Reuters uma fonte do governo próxima ao presidente.

Marina Acosta, diretora de comunicações da consultoria local Analogías, disse que o problema de Milei era com os eleitores do meio-termo que, em geral, apoiavam o governo, mas sentiam apenas uma conexão “fraca” com o partido e a ideologia de Milei.

– Muitas pessoas não acreditam mais que Milei seja diferente, mas sim que ele mesmo faz parte da ‘casta’ política – disse à Reuters a professora Silvia Sarabia, 54 anos, referindo-se ao rótulo que o presidente costuma colocar nos políticos tradicionais.

A fonte do governo disse que o La Libertad Avanza, de Milei, tornou-se o principal bloco de direita, substituindo o PRO, de centro-direita, que continua sendo um aliado importante, porém incômodo, para Milei no Congresso.

– Somos o partido de direita e aqueles que quiserem (se juntar a nós) são bem-vindos – disse a fonte do governo.

A principal oposição peronista, que busca diminuir o ímpeto de Milei, está dividida. O governador peronista da província de Buenos Aires, Axel Kicillof, lançou este mês seu próprio bloco político, sinalizando uma nova divisão.

– Não temos outra opção a não ser nos unirmos; caso contrário, eles (o governo) nos esmagarão – disse uma fonte peronista. “No entanto, se o La Libertad Avanza e o PRO estiverem divididos na província e na cidade de Buenos Aires, teremos uma chance de vencer.”

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