O Parlamento que está deixando o poder na Alemanha ainda tem a maioria necessária para reformar o freio da dívida antes da formação de uma nova coalizão, mas tal medida pela assembleia atual é “irrealista”, disse o ministro das Finanças.
Por Redação, com Reuters – de Berlim
A Alternativa para a Alemanha (AfD), de extrema-direita, e o partido Esquerda garantiram, juntos, um terço dos assentos no novo Parlamento da Alemanha, o suficiente para bloquear um afrouxamento do freio da dívida do país, um mecanismo que, segundo alguns investidores e partidos políticos, impede o crescimento econômico.

O euro e as ações alemãs se recuperaram na segunda-feira, já que os investidores receberam bem a forte probabilidade de uma coalizão liderada pelos conservadores, embora seu otimismo tenha sido atenuado pela perspectiva de negociações potencialmente complicadas sobre a política econômica.
Os líderes empresariais alemães pediram a rápida formação de um governo, dizendo que a maior economia da Europa não pode se dar ao luxo de perder tempo, já que as empresas sofrem com os altos custos, a burocracia e a crescente concorrência estrangeira.
Os mercados agora estão concentrados nas chances de reformar ou eliminar o freio da dívida. Esse mecanismo limita os déficits orçamentários a 0,35% do produto interno bruto, embora isso exclua os complementos do fundo especial para defesa ou a criação de qualquer novo fundo.
No entanto, tanto a AfD quanto o Esquerda se opõem à ajuda militar à Ucrânia e, com sua nova força na câmara baixa do Bundestag, podem vetar o aumento das contribuições para a defesa, criando tensões com os aliados alemães da aliança militar ocidental Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), incluindo com o governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que quer que a Europa gaste muito mais em defesa.
O Parlamento que está deixando o poder na Alemanha ainda tem a maioria necessária para reformar o freio da dívida antes da formação de uma nova coalizão, mas tal medida pela assembleia atual é “irrealista”, disse o ministro das Finanças, Joerg Kukies, à Reuters em uma entrevista nesta segunda-feira.
– Em primeiro lugar, há muito pouco tempo e, em segundo lugar, também seria um sinal político questionável se as emendas constitucionais fossem feitas agora com uma maioria antiga – disse Kukies.
Os conservadores alemães, sob o comando do provável próximo chanceler Friedrich Merz, prometeram agir rapidamente para tentar formar uma coalizão depois de obter a maioria dos votos na eleição nacional de domingo.
O resultado mais provável é uma coalizão entre o bloco conservador de Merz e o Partido Social-Democrata (SPD), que ficou em terceiro lugar, depois que o AfD subiu para um histórico segundo lugar.
O instituto econômico Ifo da Alemanha enfatizou a urgência de formar um novo governo.
– A economia alemã está em compasso de espera – disse seu presidente, Clemens Fuest, depois que o índice de clima de negócios do Ifo ficou em 85,2 em fevereiro, estável em relação ao mês anterior.
Holger Schmieding, economista-chefe da Berenberg, disse que a nova coalizão pode ter dificuldades para encontrar o espaço fiscal necessário para aumentar os gastos com defesa e, ao mesmo tempo, aliviar a carga tributária para trabalhadores e empresas.
– A incapacidade de aumentar os gastos militares pode colocar a Alemanha em sérios problemas com seus parceiros da Otan – disse Schmieding. “Ao enfurecer o presidente dos EUA, Donald Trump, isso também poderia aumentar o risco de uma guerra comercial entre os EUA e a UE.”
Afrouxar o freio
O Esquerda estaria aberto para afrouxar o freio da dívida, mas não para permitir maiores gastos com defesa, dizem os economistas.
– O Esquerda gostaria de se livrar do freio da dívida. No entanto, sua agenda, punir os ricos, gastar mais em bem-estar e menos em defesa, é exatamente o oposto da agenda Merz – disse Carsten Brzeski, chefe global de macro do ING.
Para aumentar os gastos com defesa dos atuais 2% do PIB para 4%, por exemplo, o governo federal teria que cortar os gastos não relacionados à defesa em um 25%, se isso não fosse financiado por dívidas adicionais, disse Joerg Kraemer, economista-chefe do Commerzbank.
Um novo governo liderado por Merz pode obter o apoio do Esquerda para aumentar o fundo especial de defesa se, em troca, criasse um novo fundo para aumentar os gastos com infraestrutura ou concordasse em flexibilizar o freio da dívida, excluindo os investimentos em infraestrutura da regra da dívida, disse Kraemer.
Se isso não for bem-sucedido, Kraemer disse que a única outra opção politicamente viável provavelmente seria suspender o freio da dívida invocando uma “situação de emergência extraordinária”, o que é possível com uma maioria parlamentar simples.