Uma mulher que morreu de ebola neste mês pode ter levado a doença a Ruanda, disse a Organização Mundial de Saúde.
Por Redação, com Reuters - de Genebra
Uma mulher que morreu de ebola neste mês pode ter levado a doença a Ruanda, disse a Organização Mundial de Saúde (OMS) nesta quinta-feira, um dia depois de declarar que um surto na vizinha República Democrática do Congo é uma emergência internacional de saúde.
Agente de saúde com roupa de proteção em local de tratamento para ebola em Beni, na República Democrática do Congo
A congolesa era uma peixeira que vomitou diversas vezes em um mercado de Uganda no dia 11 de julho, alguns dias antes de morrer, informou um relatório do Ministério da Saúde de Uganda publicado pela OMS.
Nesta quinta-feira, a OMS disse que o ministério suspeita que, já infectada, a vítima fatal também foi à cidade congolesa de Goma e à cidade ruandesa de Gisenyi a trabalho. Ruanda nunca teve um caso registrado de ebola.
Uganda
Três pessoas morreram em Uganda em junho em meio à epidemia atual, que já matou quase 1,7 mil pessoas em 11 meses, mas não disseminaram a doença em outras partes do país, e o restante morreu no Congo.
Rotular o surto como uma emergência internacional é uma designação rara por meio da qual a OMS almeja intensificar o apoio global para impedir que ela se propague.
A medida foi motivada em parte pelo caso da peixeira e pelo de um pastor que morreu de ebola depois de ir a Goma, cidade de dois milhões de habitantes na fronteira ruandesa.
O ministro da Saúde de Ruanda não estava disponível de imediato para comentar, mas o porta-voz do Ministério da Saúde de Uganda, Emmanuel Ainebyona, disse que agentes de saúde ugandeses e congoleses estão tentando encontrar pessoas em risco desde o episódio no mercado.
– A equipe de Uganda visitou o mercado de Mpondwe (onde a peixeira vomitou) e realizou exames nos comerciantes, mas não se encontrou nenhum caso positivo do vírus do ebola – disse.
A equipe continua monitorando os comerciantes que foram examinados.
República Democrática do Congo
A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou na quarta-feira o surto de ebola na República Democrática do Congo uma emergência internacional de saúde, emitindo um raro alerta global depois que o vírus ameaçou se espalhar para uma grande cidade e em países vizinhos.
Apesar de uma vacina altamente eficiente e uma resposta internacional rápida depois de ter sido reconhecido há 11 meses, o surto se mostrou tenaz em uma região instável assolada pela violência, se tornando o pior episódio da República Democrática do Congo de todos os tempos.
Uma vasta campanha de vigilância e vacinação, com quase 75 milhões de triagens, manteve o vírus quase que inteiramente confinado a duas províncias no nordeste do país. O comitê de emergência de especialistas internacionais de saúde que aconselha a OMS se recusou por três vezes a declarar a emergência.
Mas neste mês um pastor morreu após viajar para Goma, uma cidade de 2 milhões de habitantes e uma porta de saída para outros países da região. Na quarta-feira, a OMS reportou que uma pescadora havia morrido na República Democrática do Congo após quatro incidentes de vômitos em um mercado em Uganda, onde 590 pessoas podem ser buscadas para vacinação.
Surto
“O comitê está preocupado pois, um ano após o surto, há sinais alarmantes de uma possível extensão da epidemia”, disse o relatório do comitê.
O comitê estava sendo pressionado por muitos especialistas que sentiam que a escala da epidemia e seus riscos significavam que ela mereceria o status de emergência - apenas a quinta a disparar o alarme desde que a OMS introduziu as atuais designações em 2005.
– Ela ainda não mostra sinais de que está sendo controlada – disse Peter Piot, membro da equipe que descobriu o ebola e agora dirige a Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres.
– Eu espero que a decisão de hoje sirva como um chamado para impulsionar ações políticas de alto nível, melhoria de coordenação e um maior financiamento para apoiar a República Democrática do Congo em suas iniciativas para impedir essa epidemia devastadora – disse.
As emergências internacionais anteriores, de acordo com um sistema introduzido após a epidemia de Sars na Ásia, foram a epidemia de ebola na África ocidental que matou 11,3 mil pessoas entre 2013 e 2016, a epidemia de gripe de 2009, de poliomielite em 2014 e a do zika vírus, que causou uma onda de defeitos congênitos na América Latina.
O diretor do comitê da OMS, Robert Steffen, atenuou a designação do surto como uma emergência dizendo que ela continuava sendo uma ameaça regional, em vez de uma ameaça global, e ressaltou que nenhum país deveria reagir ao ebola fechando fronteiras ou restringindo o comércio.
A OMS já alertou que países próximos como Ruanda, Sudão do Sul, Burundi e Uganda são os que estão em maior risco, enquanto a República Centro-Africana, Angola, Tanzânia, República do Congo e Zâmbia estão em um segundo patamar.