Questiona-se uma suposta incoerência na oposição à esquerda, que defende o impeachment do presidente Jair Bolsonaro mas não pressiona para que a matéria transite de imediato na Câmara dos Deputados.
Por Luciano Siqueira - de Brasília
Questiona-se uma suposta incoerência na oposição à esquerda, que defende o impeachment do presidente Jair Bolsonaro mas não pressiona para que a matéria transite de imediato na Câmara dos Deputados.Forças adversárias
Qual o estado atual das nossas forças, qual o estado das forças adversárias; o grau de coesão de ambas; para onde se deslocam momentaneamente maiorias sociais, a grande massa do povo, sobretudo; qual a possibilidade de subtrair do adversário principal aliados que possam migrar para o nosso lado ou, pelo menos, adotarem postura momentaneamente neutra… Nada está parado. Aprendemos com a dialética de que o repouso é relativo, o movimento é que absoluto. E a todos os que detém posição de liderança nas diversas hostes que compõem o nosso campo, digamos assim, cabe observar a situação ao modo do pescador experiente, capaz de perceber mínimas alterações no movimento das ondas e avaliar se a maré virá favorável, ou não. Hoje Bolsonaro ainda não cairia através de processo de impedimento no Congresso. Ainda conta com maioria parlamentar, sabe-se à custa de quê, e no conjunto da sociedade seu desgaste é crescente, mas ainda conta com em torno de trinta por cento de apoiadores fiéis e pouco menos de 50 por cento não concordam com o impeachment. É preciso acumular forças para inverter tendências. Ou seja, seguir a luta erguendo bandeiras as mais urgentes e sentidas pelas maiorias sociais, como a vacinação contra a covid-19 e o auxílio emergencial satisfatório, duradouro e massivo. Por aí é possível continuarem convergindo amplos e diferenciados segmentos da sociedade e correntes políticas, que objetivamente carreiam água para o leito de um mesmo rio. Enfim, não será apenas pela vontade subjetiva que inverteremos a equação política do país. Agir com os pés no chão e sob descortino atilado é o desafio. Para gradativamente alterar a correlação de forças a ponto de se alcançar, se ainda houver tempo antes do pleito de 2022, uma maioria parlamentar suficientemente pressionada a interromper o desastroso governo Bolsonaro. Ou se ocorrer um fato novo que altere bruscamente a situação.Luciano Siqueira, é Médico, vice-prefeito do Recife, membro do Comitê Central do PCdoB
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