Rio de Janeiro, 26 de Março de 2025

Não se faz política cultural com atrasos e migalhas

Por Alexandre Lucas - “A cultura, enquanto projeto de sociedade, deve estar na centralidade política e na transversalidade das ações setoriais dos governos, esse deve ser o norte a ser conquistado.”

Segunda, 10 de Fevereiro de 2025 às 09:41, por: CdB

“A cultura, enquanto projeto de sociedade, deve estar na centralidade política e na transversalidade das ações setoriais dos governos, esse deve ser o norte a ser conquistado.”

Por Alexandre Lucas – de Brasília

A cultura precisa ser percebida como investimento para construção de nova civilidade. Duas questões rementem a essa perspectiva, a primeira a compreensão de cultura, enquanto, um projeto de sociedade, no nosso caso, com o recorte de classe, ou seja, que sirva ao processo de emancipação humana da classe trabalhadora. A segunda questão, é que não basta boa intenção, é preciso criar as condições materiais necessárias para que a cultura atinja escalas  ampliadas de acessibilidade para as camadas populares, os investimentos em infraestrutura devem promover o direito à cidade como parte do reposicionamento do olhar político, estético,  ambiental e educativo  e para apropriação da diversidade e pluralidade cultural e artística, na confluência entre a contemporaneidade tecnológica e simbólica com as roupagens históricas e de identidades que vão dando as características das paisagens culturais e sociais dos lugares e territórios.   

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A cultura precisa ser percebida como investimento para construção de nova civilidade

A política cultural neste contexto precisa se fortalecer enquanto política de estado, as engenharias jurídicas necessitam ser criadas e consolidadas, os mecanismos de controle e participação social não podem ser meros instrumentos exigidos pela lei, pelo contrário devem sacudir as estruturas para fazer a esperança avançar e os sonhos se tornarem realidade.

O aspecto jurídico e político é um dos passos importantes no saneamento da política cultural, mas é necessário que a cultura possa caber dentro do orçamento que sirva para construção de uma nova civilidade. Sem as condições materiais não é possível avançar. Os recursos para a cultura precisam estar alinhados com a execução do Planos de Cultura, mas ao mesmo tempo é preciso desmoronar dentro das estruturas públicas, a política do pão e circo, guiada pela indústria de alienação cultural de massa, a qual esquarteja o orçamento destinado para a cultura.

A cultura, enquanto projeto de sociedade, deve estar na centralidade política e na transversalidade das ações setoriais dos governos, esse deve ser o norte a ser conquistado.

É preciso compreender que a cultura está dentro do aspecto da disputa ideológica e do poder econômico e político. As organizações de cultura que estão vinculadas a classe trabalhadora precisam entrar no game para disputar o comando da sociedade.

Jogo político

Enquanto ficamos ausentes do jogo político, os atrasos e as migalhas serão portas do descompromisso das gestões públicas com a política cultural. Ficar calado não será a sintonia da nossa luta!

No Brasil avançamos na engenharia jurídica, várias marcos legais, foram conquistados no campo cultural (Sistemas de Cultura, Planos, Cultura Viva, PNAB, Etc.), a agora é a hora de avançar no infraestrutura econômica e politica para potencializar a inovação que a classe trabalhadora necessita no campo cultural.  

 

Alexandre Lucas, é pedagogo, integrante do Coletivo Camaradas e presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais do Crato/Ceará.

As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Correio do Brasil

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