A vereadora Marielle Franco havia recebido ameaças de morte antes de ser assassinada, mas não teve apoio da Segurança Pública do Estado do Rio nem da Mesa Diretora da Câmara Municipal.
Por Redação, com BdF - do Rio de Janeiro
Ao longo de 2020, a violência contra a juventude negra, sindicalistas, indígenas e defensores dos direitos humanos não parou de crescer no Brasil. Os políticos do campo da esquerda também estão entre as vítimas nesse mapa da violência.
A vereadora Marielle Franco havia recebido ameaças de morte antes de ser assassinada, mas não teve apoio da Segurança Pública do Estado do Rio nem da Mesa Diretora da Câmara Municipal. A deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ) já contabiliza seis ameaças de morte. Tudo começou em 2016, quando ainda era vereadora da cidade de Niterói.
As intimidações foram registradas no Disque-Denúncia, cuja responsabilidade é do Instituto MovRio, contratada pelo governo do Estado. As denúncias permanecem sem solução pela polícia. Por isso, a parlamentar recebe proteção de seguranças indicados pela presidência da Câmara dos Deputados, que a acompanham 24 horas por dia.
A falta de segurança, assim como o sucateamento da Educação Pública e dos espaços culturais, é uma política premeditada. A denúncia é do sociólogo e cientista político Paulo Baía, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), vítima de sequestro relâmpago em 2013 por causa de seus posicionamentos em torno ao assunto.
Mulher negra
Para ele, a Segurança Pública no Brasil não foi estruturada com a ideia de proteger a sociedade como um todo. “Ela foi montada de maneira a proteger grupos privilegiados contra os pobres, contra os escravos, contra os desiguais; essa é a característica da política de segurança no Brasil”, afirma o especialista.
A deputada Talíria afirma que os ataques dizem respeito ao nível violento de racismo e machismo estrutural que imperam no Brasil.
— O lugar público não é entendido para mulher, ainda mais mulher negra. O lugar de poder não é entendido para nós, então esse corpo estranho precisa ser eliminado de alguma forma — explica a deputada.
A partir do golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, em 2016, a violência na esfera politica aumentou, cresceu nas redes sociais com discursos de ódio e de intolerância, e ataques racistas e homofóbicos, cometidos em boa medida por apoiadores de Jair Bolsonaro. Esta é uma das constatações da pesquisa Violência Política e Eleitoral no Brasil – Panorama das violações de direitos humanos de 2016 a 2020, das ONGs Justiça Global e Terra de Direitos.
Milícias
A pesquisa registra de 2016 até setembro de 2020, 327 casos de violência política e eleitoral, sendo 125 de assassinatos e atentados, 85 ameaças, 33 agressões, 59 ofensas e 21 invasões. De acordo com a coordenadora-geral da Justiça Global, Sandra Carvalho, o Brasil tem em 2019 e 2020 um aumento expressivo dos casos de violência política.
— Uma questão muito importante é que as últimas eleições elegeram um número significativo de mulheres negras e pessoas trans em diversos estados. E a gente identifica que foi muito intensivo, muito elevado, o número de ataques, ameaças, ofensas e desqualificações dirigidas a essas parlamentares — explica Carvalho.
O cenário recrudesce com o crescimento exponencial das milícias e seu envolvimento com o aparato estatal. O Estado do Rio de Janeiro apresenta um dado estarrecedor. Segundo matéria do portal conservador espanhol El Pais, do ultimo dia 19, as milícias já dominam um quarto dos bairros do estado, com quase 60% do território da cidade. A matéria do portal usa os números de um estudo inédito do Disque-Denuncia.
Para a deputada Talíria, em relação a essa situação "a maior gravidade é que a milícia tem braços no estado, e junta o poder econômico, político e o poder militar, a arma". A deputada denuncia que "mais de dois milhões de pessoas no Rio de Janeiro vivem ameaçadas por grupos milicianos".