Rio de Janeiro, 22 de Novembro de 2024

Mães de Acari: ‘em 34 anos, o Estado nunca fez um reconhecimento como este’

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Quarta, 15 de Maio de 2024 às 14:16, por: CdB

A iniciativa do mandato da vereadora Mônica Cunha (Psol) abre a Semana Municipal em Memória das Vítimas da Violência Armada, que vai até o dia 19 de maio. Além das Mães de Acari, outros 160 familiares de vítimas de violência do Estado foram homenageados com moção de louvor e reconhecimento por sua luta por justiça. 

Por Redação, com Brasil de Fato – do Rio de Janeiro

O movimento Mães de Acari completa 34 anos em 2024. A luta de mães e familiares dos 11 adolescentes executados por um grupo de extermínio composto por policiais militares no município de Magé, na Baixada Fluminense, no Estado do Rio de Janeiro, foi reconhecida durante uma sessão especial na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, na última segunda-feira. A cerimônia homenageou o movimento com a medalha Pedro Ernesto, concedida a figuras de destaque da sociedade carioca.

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Vereadora Mônica Cunha (Psol) durante a entrega da medalha Pedro Ernesto para o movimento Mães de Acari

A iniciativa do mandato da vereadora Mônica Cunha (Psol) abre a Semana Municipal em Memória das Vítimas da Violência Armada, que vai até o dia 19 de maio. Além das Mães de Acari, outros 160 familiares de vítimas de violência do Estado foram homenageados com moção de louvor e reconhecimento por sua luta por justiça. 

– Esta semana é para mostrarmos a nossa cara, a nossa dor nesta cidade e mostrarmos para essas Casas de leis que elas têm responsabilidade na nossa dor. O Estado é culpado, porque foi pelo braço armado (do Estado) que foi retirado os nossos filhos, mas a cidade, que eu represento, tem responsabilidade, porque a maioria que está aqui dentro hoje, mora na cidade do Rio de Janeiro. É aqui, ou em qualquer outra Casa legislativa, que eles têm que nos receber, nos olhar e saber que nós existimos. Não admitimos ficarmos caladas mediante a dor que sentimos todos os dias – disse Cunha que também perdeu o seu filho para a violência do Estado.

Vanine de Souza Nascimento, irmã de Wallace de Souza Nascimento, uma das vítimas da chacina dos jovens de Acari, lembrou de todas as limitações enfrentadas para a luta por justiça atravessada pelas famílias.  

– Após 34 anos, eu, enquanto filha, estou aqui porque certamente essas mulheres não tiveram o direito de enterrar seus filhos, ao óbito deles, a ter respostas. Se estamos aqui 34 anos depois foi porque outros movimentos se uniram a este e ganharam força com o passar do tempo – afirmou Vanine. 

A solenidade contou com a presença dos deputados estaduais professor Josemar e Dani Monteiro, ambos do Partido Socialismo e Liberdade (Psol). A parlamentar, que preside a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), fez uma fala lembrando o dia 13 de maio e a falácia por trás da data. 

– A palavra de ordem é união do povo preto, união do povo indígena. Hoje, não é dia de comemorar uma falsa abolição, uma abolição inconclusa, que não trouxe nenhuma reparação, nenhum direito à memória e nenhum direito à justiça. Tudo o que a gente tem hoje, cada direito trabalhista, vaga em escola, não nos foi dado de graça, foi sangue, suor e luta. O que aconteceu na manhã do dia 14 de maio de 1888? Com o povo preto nada, aconteceu a miséria, a fome, a desesperança, o extermínio dos nossos que se perpetua até hoje – ressaltou Monteiro. 

Sangue, suor e lágrimas

A presença e a homenagem aos familiares de vítimas da violência na Câmara Municipal foi simbólica. O movimento Mães de Acari foi pioneiro ao denunciar a omissão do Estado, buscando por meios próprios as respostas que não foram dadas pelas instituições. Ao longo desta busca, Edmea da Silva Euzébio, uma das lideranças do movimento, foi executada a queima-roupa, no centro da cidade do Rio. Apesar disso, o movimento seguiu na luta, com grande repercussão nacional e internacional, e inspirou diversos outros ao longo das décadas seguintes.

Em outubro de 2023, o Brasil começou a ser julgado na Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) pelas mortes das 11 vítimas, bem como pela omissão nas investigações sobre os crimes.

– São 34 anos em que o Estado não fez um reconhecimento como esse. Como é triste ver este lugar tão cheio, porque mostra que muitas são vítimas da violência, mas nos dá força para continuar e seguir em frente – destacou Ana Leite, integrante do Movimento Mães de Acari. 

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