Rio de Janeiro, 18 de Março de 2025

Legado italiano impulsiona turismo e vitivinicultura no Estado gaúcho

A preservação da história de Garibaldi, contada a partir da vitivinicultura, é uma das formas para explicar os números crescentes no turismo.

Quinta, 13 de Março de 2025 às 11:30, por: CdB

A preservação da história de Garibaldi, contada a partir da vitivinicultura, é uma das formas para explicar os números crescentes no turismo.

Por Redação, com ANSA – de Brasília

Garibaldi, município do nordeste do Rio Grande do Sul, carrega a Itália até em seu nome. O herói dos dois mundos, Giuseppe Garibaldi (1807-1882), empresta sua fama para nominar a cidade de pouco mais de 35 mil habitantes, distante cerca de 110 quilômetros de Porto Alegre. Mas essa é apenas uma das conexões que a ligam com a Itália.

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Garibaldi foi uma das colônias surgidas para receberem os imigrantes italianos que chegaram à Serra

Sua ligação é praticamente umbilical, uma vez que Garibaldi foi uma das colônias surgidas para receberem os imigrantes italianos que chegaram à Serra Gaúcha a partir de 1875 em busca de uma nova vida no desconhecido sul brasileiro. Foram eles, da mesma forma, que legaram as bases econômicas da cidade, principalmente por meio da vitivinicultura. Esse ofício não só acabou fazendo surgir outras indústrias para atender a então crescente indústria vinícola, ajudando na diversificação de sua economia, como hoje é a principal força motriz de seu turismo.

O enoturismo é, assim, indissociável da história da imigração italiana por lá. “O que vocês viram nesses dias é um pedacinho da Itália dentro do Rio Grande do Sul. Quando os imigrantes saíram da Itália, 150 anos atrás, eles só traziam duas coisas, uma mala e o saber fazer. Construíram tudo isso com fé, família e o saber fazer”, disse o prefeito do município, Sérgio Chesini (PP), a um grupo de jornalistas convidados a conhecerem um dos exemplos dessa vitória italiana na região, a Cooperativa Vinícola Garibaldi.

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O avô dele, Fiorindo, foi um dos 73 fundadores do estabelecimento, 94 anos atrás. O grupo, em sua maioria, era formado por imigrantes italianos ou de seus primeiros descendentes, em busca de melhor comercialização deu seu produto, o vinho. “O cooperativismo foi um instrumento de fortalecimento da colonização entre as décadas de 1920 e 1930, permitindo que os pequenos produtores se unissem para resistir”, situou o presidente da Federação das Cooperativas Vinícolas do Rio Grande do Sul (Fecovinho), Hélio Marchioro, também presente num dos encontros com os jornalistas.

Deu muito certo. A Cooperativa Vinícola Garibaldi, formada por 470 pequenos produtores cooperados, tem no espumante o principal indutor de seu faturamento, com 42% do total. Faz todo o sentido, uma vez que foi em Garibaldi que o primeiro espumante nacional foi produzido, fazendo da cidade a capital brasileira da bebida. Com quase 16% do mercado nacional de espumante, a cooperativa é a maior vinícola do município e é estratégica na indução do turismo. Garibaldi pensa o turismo de forma a inserir o legado enogastronômico em todos seus eventos, como a Festa do Espumante Brasileiro (Fenachamp), ocorrida a cada dois anos, e o Garibaldi Vintage, com duas edições anuais no icônico Centro Histórico, com seu rico patrimônio histórico preservado. Ações assim, pensadas para tornar Garibaldi uma cidade-destino, levaram o município a sair de 100 mil visitantes anuais para 680 mil.

História de Garibaldi

A preservação da história de Garibaldi, contada a partir da vitivinicultura, é uma das formas para explicar os números crescentes no turismo. Mas de nada adianta isso se não houver sustentabilidade nos vinhedos, ainda mais em época de mudanças climáticas. E é isso que a Garibaldi busca não só como negócio, mas como ofício. As boas práticas agrícolas em nível internacional, chanceladas pela equiparação do Programa Alimento Seguro Uva para Processamento (PAS Uva) ao LocalG.A.P., regulamento técnico da GlobalG.A.P., organização que estabelece padrões para a certificação de produtos agrícolas em todo o mundo, somam-se ao projeto inovador da cooperativa, o vinhedo experimental.

Cerca de 50 variedades estão sendo cultivadas e avaliadas, em parceria com produtores cooperados, para identificar quais as que apresentam maior adaptação ao terroir da Serra e às mudanças climáticas. “Posteriormente, analisamos o potencial enológico dessas variedades com microvinificações, considerando a resistência a doenças e produtividade adequada, possibilitando assim, opções diferentes das que já existem”, explica o gerente de Assistência Técnica da Cooperativa, Evandro Bosa. Exemplo disso é o recente vinho Garibaldi VG Palava, único no Brasil a ser elaborado com esta casa extremamente aromática, de origem tcheca.

Ao todo, são quatro hectares com variedades sendo testadas, todas oriundas da Europa, além da República Tcheca, há variedades de Portugal, Itália, Espanha, Geórgia, Ucrânia, Romênia, Grécia e Hungria. Parte desse projeto tem inspiração no “Belpese”.

A Itália, assim, continua inspirando processos e melhorias na vitivinicultura da cidade. Nessa parceria que já dura 150 anos, Garibaldi vai erguer um brinde para comemorar essa conexão. A Associação de Vinicultores de Garibaldi (Aviga) e a Escola de Enologia de Conegliano, no Vêneto, de onde milhares de emigrantes partiram, estão desenvolvendo em conjunto um espumante para celebrar o sesquicentenário da imigração no Rio Grande do Sul, a ser lançado em novembro.

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