O documento também denuncia que o descaso sofrido pela educação pública nos últimos anos prejudica sobretudo meninas negras, indígenas, quilombolas, do campo, trans e travestis, e com deficiência.
Por Redação, com RBA - de São Paulo
Em manifesto, jovens brasileiras denunciam o descaso sofrido pela educação pública e propõem medidas para tornar o ensino mais inclusivo. Apoiado pela ativista paquistanesa e Nobel da Paz Malala Yousafzai, o manifesto intitulado “Meninas Decidem” foi elaborado por um comitê de 20 adolescentes dos quatro cantos do Brasil que apontam as demandas para uma educação ampla, pública, plural e de qualidade.
O documento foi lançado na última semana pela Rede de Ativistas pela Educação do Fundo Malala no Brasil, que é formada por representantes de 11 organizações da sociedade civil. A diretora da associação Ação Educativa, Denise Carreira, explica que o grupo considerou o contexto eleitoral para criar o manifesto que mostra qual educação o Brasil precisa a partir da visão da juventude.
– Uma educação pública que tem sido terrivelmente atacada nos últimos anos, com cortes profundos de recursos no orçamento em decorrência do Teto de Gastos. (Assim como) a censura e a perseguição a professoras e escolas que abordem questões sobre igualdade de gênero, raça e sexualidade, desigualdades, direitos, ciência, entre outros assuntos atacados por movimentos ultraconservadores – observa a diretora.
Ensino inclusivo
Ana Luiza do Nascimento, de 17 anos, é uma dentre as 20 adolescentes que elaboraram o manifesto “Meninas Decidem”. A jovem quilombola de Mirandiba (PE) diz que o documento busca a inclusão. Entre as propostas da carta, está uma educação antirracista, anticapacitista, antimachista e anti-LGBTfóbica, que acolha todas as diversidades.
– O manifesto traz como exigência o direito da mulher de ter boa educação, igualdade nas escolas, respeito às culturas de cada uma das meninas, tanto periféricas, como indígenas, quilombolas, travestis, trans ou com deficiência. O manifesto quer que todos sejam aceitos e que se sintam confortáveis e acolhidos na escola. É como falamos no dia do manifesto, somos uma, mas não somos só. Queremos essa inclusão nas escolas da nossa cultura, do nosso jeito de ser. (Para) que não tenhamos medo de ir para a escola e sofrer algum tipo de agressão pela forma que vivemos. Queremos respeito – explicou Ana Luiza.
Pela educação pública
O documento também denuncia que o descaso sofrido pela educação pública nos últimos anos prejudica sobretudo meninas negras, indígenas, quilombolas, do campo, trans e travestis, e com deficiência. A estudante indígena, de 17 anos, Hellen Sharen Santos Silva, que também integra o grupo responsável pela elaboração do manifesto, chama atenção para problemas do ensino público que impedem o desenvolvimento dessas jovens, como a estrutura precária das escolas e a falta de capacitação dos professores e professoras.
– Infelizmente nós ainda temos uma educação pública ineficiente principalmente para essas minorias. (…) A educação pública não proporciona que essas meninas se desenvolvam, então, só através de projetos ou de outras ações que elas têm essas oportunidades. Infelizmente a escola não contribui para esse avanço. Poucas escolas têm essa inquietação em relação a provocar um avanço positivo na educação desses jovens em situação de vulnerabilidade. Então os projetos sociais vêm para dar esse impulso, essa oportunidade a essas minorias que são tão carentes de oportunidades – defende a estudante.
A íntegra do manifesto Meninas Decidem pode ser acessado aqui.