Fervoroso defensor do Brexit é eleito líder do Partido Conservador e substituirá Theresa May como chefe de governo. Ex-ministro do Exterior, Johnson defende que Reino Unido saia da UE com ou seu acordo.
Por Redação, com DW - de Londres
O ex-ministro do Exterior britânico Boris Johnson foi eleito nesta terça-feira como sucessor da premiê Theresa May na liderança do Partido Conservador e, por consequência, será o novo chefe de governo do país.
Johnson superou o atual ministro do Exterior, Jeremy Hunt, ao final de uma votação realizada nas últimas quatro semanas, entre 160 mil afiliados da legenda. Durante a campanha, Johnson prometeu obter sucesso nos pontos em que May falhou e levar o Reino Unido para fora da União Europeia em 31 de outubro, com ou sem acordo.
Vários ministros conservadores do gabinete de May anunciaram preferir a renúncia a colaborar com um governo que vise um chamado Brexit duro, resultado que, segundo economistas, pode levar ao colapso o comércio do Reino Unido e mergulhá-lo numa recessão. Entre eles, o ministro da Economia, Philip Hammond, e o chefe da pasta da Justiça, David Gauke.
May renunciou em 7 de junho deste ano, depois que o Parlamento britânico rejeitou repetidamente o acordo de retirada da União Europeia (UE) que ela acertou com o bloco europeu. Johnson insiste que conseguirá levar a UE à renegociação do pacto do Brexit – algo que o bloco insiste que não fará –, caso contrário, ele diz estar disposto a retirar os britânicos da UE "aconteça o que acontecer".
O novo primeiro-ministro presidirá uma Câmara dos Comuns na qual a maioria dos membros se opõe a deixar a UE sem um acordo e onde o Partido Conservador não possui uma maioria absoluta.
A troca oficial de primeiros-ministros está prevista para esta quarta-feira, quando May vai ao Palácio de Buckingham, comunicar formalmente sua demissão à rainha Elizabeth 2ª e informar que seu partido tem um novo líder.
Depois, o novo premiê vai ao palácio, para uma audiência com a chefe de Estado, antes de se mudar para a residência oficial de Downing Street para começar a nomear seus ministros.
O jornal francês Libération diz, em editorial publicado nesta segunda-feira, que Boris Johnson é, depois dos presidentes do Brasil, Jair Bolsonaro, e dos Estados Unidos, Donald Trump, o terceiro "doido do cenário internacional" a "assumir os destinos de um velho e grande país".
Do jornalismo para a política
Johnson tem ascendência turca, nasceu em Nova York de pais ingleses e passou parte de sua infância em Bruxelas, enquanto filho de um funcionário da UE. Alexander Boris de Pfeffel Johnson, é conhecido do público britânico simplesmente como "Boris", e reconhecido pela cabeleira loira em desalinho, sua marca registrada, além de um estilo atrapalhado falar atrapalhado e suas propensões a gafes.
Por muitos anos, comentaristas se divertiram com suas excentricidades, incluindo uma paixão por andar de bicicleta, por vestir ternos desgrenhados e sua lendária falta de pontualidade. Entretanto, como bem deve ter aprendido Theresa May neste ano, é perigoso menosprezar Boris Johnson como palhaço.
Educado em Eton, prestigiado colégio interno de meninos que produziu uma série de primeiros-ministros britânicos, Johnson estudou clássicos na Universidade de Oxford e fala francês e italiano.
Durante décadas, sua infância foi descrita como idílica, até o ano passado, quando sua irmã mais nova, Rachel – conhecida jornalista e agora candidata anti-Brexit ao Parlamento Europeu – revelou ao Sunday Times de Londres que sua mãe, a artista Charlotte Johnson, sofria de depressão e "um distúrbio obsessivo-compulsivo galopante" que a obrigou a ser hospitalizada por longos períodos.
O jovem Boris e seus três irmãos foram criados por uma babá, descrita como uma "torre de força" que fumava um cigarro atrás do outro que criou as crianças enquanto seu pai, Stanley, trabalhava como funcionário público na Comissão Europeia.
Johnson foi jornalista antes de voltar sua atenção para a política, e sua carreira na mídia foi marcada por controvérsias. Seu primeiro emprego, no The Times, de Londres, terminou dramaticamente. Ele foi demitido um ano após começar no periódico após inventar uma citação num artigo sobre o rei Edward 2° e seu suposto amante homossexual.
União Europeia
Alguns anos depois, ele foi nomeado correspondente do The Daily Telegraph em Bruxelas, onde, em meio a colegas predominantemente da mídia europeia, identificou uma oportunidade para fazer seu nome e criticar de forma severa a União Europeia. Após a passagem por Bruxelas, ele foi editor da revista conservadora The Spectator entre 1999 e 2005.
Johnson integra a Câmara dos Comuns desde 2015, a câmara baixa do Parlamento britânico, de onde também foi membro entre 2001 e 2008. Além de ter ocupado o cargo de ministro do Exterior entre 2016 e 2018, ele foi prefeito de Londres de 2008 a 2016.