Em primeira coletiva de imprensa desde a eclosão do conflito, premiê israelense fala em "guerra da independência". Governo, que aposta em invasão terrestre para libertar reféns, não comentou "apagão" na Faixa de Gaza.
Por Redação, com DW - de Jerusalém
Em sua primeira entrevista a jornalistas desde os ataques terroristas do Hamas contra Israel de 7 de outubro, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu anunciou no sábado que a guerra na Faixa de Gaza entrou em sua segunda fase com a expansão das operações militares por terra.
– A guerra dentro de Gaza será longa – acrescentou, referindo-se à investida como a "segunda guerra de independência", uma referência ao conflito deflagrado em 1948 após países árabes rejeitarem o plano das Nações Unidas que definiu a criação de um Estado palestino e outro israelense.
O objetivo, segundo Netanyahu, é destruir as capacidades militares e o controle que o grupo radical islâmico Hamas exerce sobre o território palestino, bem como resgatar os mais de 200 reféns sequestrados no início do mês.
De acordo com o premiê, a decisão de expandir as operações por terra foi aprovada em caráter de unanimidade pelo governo de emergência, que inclui membros da oposição.
Indagado sobre possíveis erros das autoridades israelenses envolvendo o 7 de outubro, Netanyahu respondeu que o assunto será tratado quando a guerra tiver acabado. "Todos nós, inclusive eu, teremos que dar respostas para perguntas difíceis", disse. "Agora, minha missão é salvar o país."
Quem acusa Israel de crimes de guerra é hipócrita, diz Netanyahu
O premiê acusou o Irã de bancar "90%" dos gastos militares do Hamas, e disse que derrotar o grupo é um "desafio existencial" e que quem acusa os israelenses de cometerem crimes de guerra são "hipócritas". "Conclamei os civis em Gaza a evacuar para o sul da faixa. O inimigo, de forma cínica, usa hospitais como abrigo. Israel está lutando uma batalha por humanidade contra bárbaros."
Países do Ocidente têm em geral apoiado o direito de Israel à autodefesa, mas parte da comunidade internacional acompanha com preocupação a escalada do conflito e teme que o saldo de vítimas cresça à medida em que a situação humanitária em Gaza se agrava sob o fogo cruzado, são pelo menos 1,4 mil mortos no lado israelense; no palestino, outros mais de 7 mil, segundo dados do Ministério da Saúde, que é controlado pelo Hamas.
A Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou na sexta, por ampla maioria, uma resolução que pede uma trégua humanitária imediata para garantir a assistência de civis palestinos.
Ao contrário das resoluções do Conselho de Segurança, onde quatro tentativas anteriores de abordar o conflito falharam, os textos aprovados pela Assembleia Geral não têm caráter vinculativo, mas têm peso político, refletindo a opinião global à medida que Israel intensifica as operações em Gaza.
Parentes de reféns endossam acordo para troca mútua de prisioneiros entre Israel e Hamas
Mais cedo, o primeiro-ministro se reuniu com familiares dos reféns do Hamas. Deles, ouviu apoio a uma proposta para troca de todos os prisioneiros, do lado israelense e também palestino, e o pedido de não fazer nada que possa pôr as vidas deles em risco, conforme noticiou o jornal israelense Haaretz.
Apreensivos com o desenrolar do conflito, eles receiam que uma invasão inviabilize as negociações, o Hamas ameaça matá-los, e alega, sem fornecer provas, que 50 já foram mortos em bombardeios israelenses.
Um acordo nos mesmos termos foi proposto por um porta-voz do grupo em um anúncio televisionado por uma emissora de Gaza controlada pelo grupo, pedindo a libertação de todos os palestinos detidos em Israel, que somam cerca de 4,5 mil.
O governo israelense aposta na intensificação das investidas contra o Hamas em Gaza a fim de forçar a entrega dos reféns.
Para o ministro da Defesa, Yoav Gallant, as chances de chegar a um acordo aumentarão enquanto os militares exercerem "pressão". "Não será uma guerra curta. Devemos ser pacientes", acrescentou, ecoando as falas de Netanyahu.
– Os objetivos desta guerra demandam uma operação por terra – argumentou mais cedo o chefe do Estado-Maior, Herzi Halevi. "Para expor e destruir o inimigo, não há outra saída a não ser entrar em seu território usando a força."
Israel não comenta apagão nas telecomunicações em Gaza
Porta-voz militar de Israel, Daniel Hagari não quis responder sobre uma eventual responsabilidade das Forças Armadas do país pelo apagão nos serviços de internet e telefonia em Gaza.
Informações vindas da região escassearam desde a intensificação dos bombardeios, na noite anterior, ao ponto de deixar organizações humanitárias e redações sem contato com suas equipes.
Segundo relatos publicados pela emissora pública britânica BBC, alguns têm conseguido acessar a internet usando chips estrangeiros nas fronteiras da Faixa de Gaza.
– Fazemos o que temos que fazer para dar segurança às nossas forças por quanto tempo for necessário, temporária ou permanentemente, o quanto precisarmos, e não vamos dizer mais nada sobre isso – afirmou Hagari à agência inglesa de notícias Reuters.