Na manhã desta terça-feira cerca de 200 famílias sem terra do Acampamento Bondade, em Amaraji (PE), foram surpreendidas, em plena pandemia da covid, com uma operação de despejo com ataque de bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha.
Por Redação, com Brasil de Fato - de Brasília
Na manhã desta terça-feira cerca de 200 famílias sem terra do Acampamento Bondade, em Amaraji (PE), foram surpreendidas, em plena pandemia da covid, com uma operação de despejo com ataque de bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha. O acampamento fica localizado no Engenho Bonfim, Zona da Mata Sul de Pernambuco, a 96 km de Recife.
Na última semana, o Brasil de Fato Pernambuco denunciou as ameaças que as famílias vinham sofrendo. Segundo as famílias, as ações são atribuídas à Usina União e Indústria S/A e também denunciam a falta de diálogo com os órgãos responsáveis.
Neste momento, as famílias estão sofrendo ação de reintegração de posse com ação de 450 policiais do Batalhão Especializado de Policiamento do Interior (BEPI), do Batalhão de Choque da Polícia Militar e da cavalaria da Polícia Militar. Além disso, um helicóptero da Secretaria de Defesa Social sobrevoa as terras do engenho Bonfim, na zona rural de Amaraji.
A Usina União e Indústria, sediada em Barra de Guabiraba, é produtora de etanol e detém as marcas de açúcar Sublime e Primavera. Os proprietário são os usineiros Ilvo Monteiro Soares de Meirelles e sua esposa Maria Carolina Bezerra de Meirelles.
Em suas redes sociais, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) divulgou áudio e criticou a ação de despejo, desrespeitando decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que suspendeu despejos durante a pandemia da covid-19.
Na semana passada, em entrevista ao Brasil de Fato, um dos agricultores que faz parte da ocupação, mas preferiu não ser identificado relata que o conflito tem se acirrado "Tem pistoleiro na casa das lideranças, pegando companheiros na estrada, intimidando. E a gente tá aqui, no processo de conflito”, afirma.
A maioria das famílias acampadas no Engenho Bonfim são de ex-funcionários da Usina União e afirmam terem sido demitidos pela empresa e sem terem recebido as respectivas indenizações trabalhistas, de acordo com o site Marco Zero.
No local, as famílias cultivavam seu próprio alimento no roçado produzindo macaxeira, banana e milho.
No início de maio, o advogado do MST, Tomás Melo, entrou com uma ação judicial para suspender a liminar da Usina União que prevê a reintegração de posse do Engenho Bonfim. A decisão judicial sobre o caso ainda está pendente.
O mandato coletivo Juntas está no local acompanhando a ação de reintegração de posse e cobrou uma posição do governador Paulo Câmara (PSB).
No último dia 19, o Ministério Público de Pernambuco declarou em nota que “iria até o assentamento conversar com assentados para buscar uma solução pacífica para o cumprimento da decisão judicial”.
Contudo, as famílias afirmam que nem o Governo do Estado, nem o Instituto de Terras e Reforma Agrária de Pernambuco (Iterpe), ou o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) ofereceram solução ao conflito fundiário com os proprietários da Usina União.
Denúncia de trabalho análogo à escravidão
Segundo o MST, a usina já foi denunciada pelo próprio Ministério Público por perpetuar trabalho análogo à escravidão. Muitos desses trabalhadores que se encontravam em situação semelhante à escravidão são os mesmos que hoje resistem ao despejo do Acampamento Bondade, informa o movimento.
O Brasil de Fato entrou em contato com a Polícia Militar e aguarda posicionamento da corporação sobre os procedimentos adotados na ação. O Ministério Público e a Secretaria de Desenvolvimento Social também foram questionados sobre o pedido de despejo.