A pesquisa contraria as estimativas da indústria tabageira - cuja metodologia é desconhecida - que indicariam proporção maior e crescente do mercado ilegal.
Por Redação, com ACS - de Brasília
Houve recuo no percentual de cigarros ilegais consumidos no Brasil: de 42,8%, em 2016, para 38,5% em 2017. É o que mostra o estudo Vigitel 2017 e Estimativa de Consumo de Cigarros Ilícitos no Brasil, baseado em metodologia publicada recentemente no American Journal of Public Health. A pesquisa contraria as estimativas da indústria tabageira - cuja metodologia é desconhecida - que indicariam proporção maior e crescente do mercado ilegal. O estudo com os novos números foi divulgado em outubro, em Genebra, na Suíça, pela Comissão Nacional para Implementação da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (Conicq), cuja secretaria-executiva é exercida pelo INCA.
Os especialistas da INCA/Conicq integram a delegação brasileira que participou, em Genebra, da 8ª Conferência das Partes (COP-8) da Convenção-Quadro para Controle do Tabaco (CQCT). A CQCT é o tratado da Organização Mundial da Saúde (OMS) da ONU, assinado por 181 países (o Brasil o ratificou em 2005), criado em resposta à pandemia do tabagismo, que causa imensos prejuízos a saúde, finanças dos países e meio ambiente.
O estudo do INCA mostra que a quantidade de cigarros ilegais (quase que a totalidade oriunda de contrabando do Paraguai) consumidos no Brasil caiu de 39,7 bilhões em 2016 para 34,9 bilhões em 2017. No mesmo período, a quantidade de cigarros legais consumidos no País subiu de 53,1 bilhões para 55,8 bilhões. Os resultados indicam reversão da tendência observada entre 2014 e 2016, quando o consumo de cigarros ilegais cresceu, e o de cigarros legais, diminuiu.
O levantamento também cita dados da pesquisa Vigitel, que mostram que a forte tendência de queda no número de fumantes no Brasil, iniciada no fim de anos 80, pode ter chegado ao fim: a prevalência de fumantes nas capitais brasileiras ficou praticamente inalterada entre 2016 (10,16%) e 2017 (10,11%).
– Observamos com preocupação a estagnação na queda da prevalência de fumantes. Apesar da forte redução nas últimas décadas, o tabagismo continua responsável pela morte no Brasil de 428 pessoas por dia e por um custo anual de quase R$ 57 bilhões para o país em despesas médicas e perda de produtividade – afirma Tânia Cavalcante, secretária-executiva da Conicq/INCA.
Tânia defende o aumento dos impostos e preços dos cigarros, que se provou a política mais efetiva para reduzir o tabagismo no Brasil e está previsto no artigo 6º da CQCT. Ela afirma que essa política está perdendo sua efetividade porque, desde 2016, o preço mínimo de R$5 por maço (25 centavos por unidade) e a alíquota de IPI sobre os produtos permanecem os mesmos.
Segundo a especialista, o argumento da indústria tabageira contra o aumento de preço mínimo e impostos do cigarro foi por terra com o novo estudo do INCA.
A alegação era que essa política incentiva o aumento do consumo de cigarros ilegais. Mas o estudo do INCA mostra justamente o contrário: queda no consumo de cigarros ilegais e aumento no consumo dos produtos legais.
– Os preços mínimos e impostos estão baixos, e devemos elevá-los para que o valor do maço volte a ser um obstáculo importante para o consumo de cigarros legais. Simultaneamente, precisamos implementar as medidas para combater o contrabando de cigarros ilegais, previstas no Protocolo para Eliminar o Comércio Ilícito de Produtos de Tabaco, que é parte da CQCT e foi ratificado pelo Congresso brasileiro em junho – acrescenta Tânia Cavalcante.