Commodities agrícolas levam Brasil à condição de potência global
As máximas históricas nominais não consideram a inflação, mas alguns produtos efetivamente estão nos maiores níveis de preços, já levando em conta valores deflacionados, como é o caso do boi, bezerro, suíno, arroz e leite, conforme levantamentos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/Universidade de São Paulo (USP).
As máximas históricas nominais não consideram a inflação, mas alguns produtos efetivamente estão nos maiores níveis de preços, já levando em conta valores deflacionados, como é o caso do boi, bezerro, suíno, arroz e leite, conforme levantamentos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/Universidade de São Paulo (USP).
Por Redação, com Reuters - de São Paulo
Os preços das principais commodities agrícolas do Brasil, uma potência agrícola global, têm atingido patamares recordes, sendo que produtos como soja, milho, arroz, café, leite e boi estão em máximas nominais ou reais, com o câmbio e a forte demanda citados entre os principais fatores de alta.
O rebanho bovino do país tem posição de destaque no comércio exterior, sempre sob vigilância sanitária para se manter competitivo
As máximas históricas nominais não consideram a inflação, mas alguns produtos efetivamente estão nos maiores níveis de preços, já levando em conta valores deflacionados, como é o caso do boi, bezerro, suíno, arroz e leite, conforme levantamentos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP.
A soja, principal produto do agronegócio brasileiro, está perto de atingir um recorde de todos os tempos, segundo dados do Cepea, com o produto batendo R$ 137,76 por saca no porto de Paranaguá (PR), na segunda-feira, menos de R$ 2 abaixo dos cerca de R$ 139 vistos em 2012 —considerando já o valor deflacionado.
Apetite chinês
No caso da soja do Brasil, maior produtor e exportador global, cuja safra foi histórica este ano mas ao mesmo tempo dragada pela forte demanda da China, a alta no preço é de mais de 50% na comparação com a mesma data do ano passado.
O apetite chinês, que fez o país exportar volumes recordes nos primeiros sete meses do ano, mostra também como a alta dos preços está relacionada à demanda, com um câmbio na maior parte do ano acima de R$ 5 por dólar ajudando a impulsionar embarques brasileiros por tornar os produtos nacionais ainda mais competitivos.
— A taxa de cambio levou a um deslocamento de preços, isso vai acontecer para todos os produtos, e isso fez com que o produto tivesse um preço mais baixo (para quem compra do Brasil) e favoreceu a exportação, enquanto encarece a importação (pelo Brasil) — contabiliza o professor da Esalq/USP e especialista do Cepea Lucílio Alves.
Demanda
Nesse sentido, para ele, não parecem muito efetivas ideias que circularam recentemente no governo para a retirada de tarifa de importação de soja, milho e arroz, com o objetivo de reduzir preços internos.
— Se os importadores estão batendo na porta, como nós vamos conseguir um produto mais barato lá fora? — disse Alves, comentando uma reivindicação da indústria de carnes, cujos custos da ração aumentaram.
Além do “choque de demanda” externa, Alves citou que a indústria de soja também registra, não só no Brasil, boas margens de esmagamento, com as receitas de farelo e óleo aumentando, diante da fome da indústria de carnes e de biodiesel.
Café
No caso do café, a alta de preços do arábica chega a mais de 45% em 12 meses, apesar de o Brasil terminar a colheita do que o mercado considera ser uma safra recorde.
— É surpreendente esse cenário... estamos finalizando colheita de muito boa produtividade, bom padrão, boa peneira… — disse o pesquisador do Cepea Renato Garcia Ribeiro.
O preço do café, entretanto, está distante do recorde em termos reais, registrado em maio de 1997, de mais de R$ 1,4 mil a saca (valor deflacionado), mas poucas vezes o mercado viu um valor nominal acima de R$ 600 na série do Cepea, como acontece desde a semana passada, com registro de recordes nominais.
Segundo ele, a sustentação dos preços em plena pandemia se dá, além do câmbio, pelo fato de o Brasil estar ganhando mercado no exterior e também porque aparentemente o consumo não foi tão afetado como se imaginava.
Cereais
No milho, outro produto que o Brasil está colhendo uma safra recorde, a cotação subiu mais de 65% em 12 meses, para um novo recorde nominal acima de 60 reais por saca, segundo dados do Cepea. E o dólar, além da demanda interna e exportadora, também ajuda na competitividade brasileira.
— Este ano, todos os recordes de preços vêm de choque de demanda, é um choque de demanda quando temos uma situação estrutural e política que está elevando a taxa de câmbio — resumiu Alves, do Cepea.
Para o especialista, o auxílio governamental do Brasil em função da Covid-19 também tem favorecido a compra de arroz e trigo pela população, prova disso é que esses produtos estão com maiores altas entre os da cesta básica.
O arroz cotado pelo Cepea subiu mais de 100% em 12 meses, enquanto o trigo também registrou recorde mais cedo neste ano, embora agora este mercado tenha visto um arrefecimento, com a proximidade da colheita do Brasil.
— A partir do momento que as família ficam mais em casa, passam a demandar produtos de mais fácil preparo, caso do arroz — notou Alves, lembrando que os estoques desse produto básico vinham baixos.
Boi gordo
Mesmo o algodão, um dos mercados mais afetados negativamente pela pandemia, vem se recuperando, na esteira do câmbio firme, e subiu 16% em agosto, segundo os dados do Cepea. O açúcar cristal, por sua vez, já subiu quase 40% considerando o valor de um ano atrás, apesar da expectativa de produção recorde no Brasil.
— Atribuo isso ao fato de estar exportando muito, a demanda interna não caiu, as pessoas estão dentro de casa e estão consumindo açúcar, até mais do que antes — disse a pesquisadora do Cepea Heloisa Lee Burnquist.
No boi gordo, com uma redução na oferta de gado devido ao ciclo pecuário, queda na produção de carne, firme demanda externa e câmbio favorável a exportações, a tendência é que as cotações do animal sigam em nível recorde, exigindo maior desembolso dos frigoríficos, disseram analistas à Reuters na semana passada.
Isso também tem levado preço do bezerro para valores também recordes, enquanto o valor do suíno vivo também está entre os maiores da história nas principais praças, segundo o Cepea, em meio a fortes importações de carne pela China.
Na véspera, o Cepea ainda relatou preço recorde real do leite na média Brasil, com a alta atrelada à maior competição entre as indústrias de laticínios para garantir a compra de matéria-prima, em um momento de oferta limitada no campo e de recuperação da demanda.