Enquanto especialistas defendem parto humanizado e acesso a informação para evitar riscos de cesáreas desnecessárias, projeto aprovado em SP garante a gestantes opção pelo parto cirúrgico no SUS sem recomendação médica.
Por Redação, com DW - de São Paulo
Na contramão de recomendações internacionais, o Brasil vive uma epidemia de cesáreas com uma taxa de mais de 55% de partos cirúrgicos. O país só perde para a República Dominicana neste ranking. Porém, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em apenas entre 10% e 15% dos nascimentos há a necessidade de uma cesariana por motivos médicos. Em comparação com a Europa, os índices brasileiros também são bastante elevados, até mesmo entre países que lideram esse ranking na região, como a Alemanha, onde há uma taxa de 30,5% de cesarianas, ou o Reino Unido, com 27,8%. Já na França, a cesariana é realizada em 19,6% partos, na Noruega, em 16,1%, na Suécia, em 17,4%, e na Dinamarca, em 19,5%. Essa chamada epidemia de cesáreas é debatida há anos no Brasil. Na semana passada, no entanto, um projeto aprovado pela Assembleia Legislativa de São Paulo trouxe à tona novamente a discussão sobre a cesariana no país, que, apesar de ter se tornado um procedimento cotidiano em nascimentos, pode trazer complicações tanto para mães quanto para os bebês. Proposto pela deputada estadual Janaína Paschoal (PSL) e tramitando em regime de urgência, o projeto garante a gestantes a possibilidade de optar pelo parto cirúrgico no SUS, a partir da 39ª semana de gestação, mesmo sem recomendação médica. Aprovado por 58 votos a favor e 20 contra, o projeto ainda precisa ser sancionado pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB). Apesar de na rede pública ainda predominar o parto natural, 40% dos partos ocorrem por meio de cirurgias, índice bem superior do que os até 15% recomendados pela OMS. Na rede privada, o índice de cesáreas chega a 84%. Caso entre em vigor, especialistas temem que a medida impulsione indiscriminadamente o procedimento no SUS no estado. Para a especialista em saúde da mulher Silvana Granado, da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, o projeto de autoria da deputada Janaína Paschoal ignora evidências científicas sobre esse procedimento. – Políticas públicas deveriam ser feitas com base em informações técnicas e debates nos diferentes setores. A cesariana é uma cirurgia de grande porte, que, como qualquer outra cirurgia, acarreta riscos e precisa ter indicação clínica – afirma. Medo da dor, falta de informação sobre os riscos de uma cesariana e preferência do próprio médico por cesarianas devido à comodidade de planejar o nascimento e à rapidez do procedimento são alguns dos fatores que ajudam a explicar a banalização do parto cirúrgico e a epidemia de cesáreas no país. Segundo Granado, que também é coordenadora adjunta da pesquisa Nascer no Brasil, o papel do médico é fundamental para a decisão sobre o tipo do parto. "Precisamos desmistificar a ideia de que são as mulheres que escolhem as cesáreas", ressalta. A especialista destaca que a pesquisa Nascer no Brasil, realizada entre 2011 e 2012, mostrou que, na rede privada, apenas 36% das mulheres desejam a cesariana no início da gestação, porém, ao longo do pré-natal, elas foram mudando de ideia de acordo com a assistência que vinham recebendo e, ao final da gestação, a preferência pela cesárea chegava a 67%.