Rio de Janeiro, 05 de Dezembro de 2025

Bolsonarismo morto e o que esperar do governo Lula?

Por celso Lungaretti e David Emanuel Coelho - Agora é definitivo: o pesadelo iniciado há quatro   anos vai terminar no próximo dia 1º de janeiro. Passado mais um capítulo da luta de classes no Brasil, Bolsonaro foi derrotado por uma margem de apenas 2.139.645 votos, evidenciando a profunda divisão social do país. 

Terça, 01 de Novembro de 2022 às 03:41, por: CdB

Agora é definitivo: o pesadelo iniciado há quatro anos vai terminar no próximo dia 1º de janeiro.

O palhaço sinistro deixará para trás um país em frangalhos, o povo buscando comida nos caminhões de lixo e centenas de milhares de tumbas, as dos que a covid mataria de qualquer jeito e as daqueles que foram vítimas dos delírios negacionistas.

Passado mais um capítulo da luta de classes no Brasil, Bolsonaro foi derrotado por uma margem de apenas 2.139.645 votos, evidenciando a profunda divisão social do país.

O fato de o presidente ter ido dormir após o resultado, sem sequer agradecer aos seus apoiadores pela boa votação ou exortá-los a continuarem lutando, expressa o seu fracasso pessoal profundo.

Por Celso Lungaretti e David Emanuel Coelho
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Golpistas não querem aceitar mas bolsonarismo acabou
Agora é definitivo: o pesadelo iniciado há quatro   anos vai terminar no próximo dia 1º de janeiro.
O palhaço sinistro deixará para trás um país em frangalhos, o povo buscando comida nos caminhões de lixo e centenas de milhares de tumbas, as dos que a covid mataria de qualquer jeito e as daqueles que foram vítimas dos delírios negacionistas.
Então, o momento é de alívio. Vamos comemorar o fechamento do circo de aberrações e a certeza de que os piores crimes, injustiças, lambanças e maluquices serão, dentro do possível, corrigidos e/ou reparados a partir do próximo ano.
É para isto que a maioria dos brasileiros elegeu Lula. E isto certamente dele receberá, pois para um presidente com um mínimo de equilíbrio e sanidade mental, não vai ser, sequer, tarefa difícil.
Mas, que ninguém baixe a guarda cedo demais: outros desafios adiante nos aguardam, como a permanência de um insuficiente crescimento econômico e novas investidas da extrema-direita, que tende a reagrupar-se sob outro líder, descartando o que refugou e amarelou nos momentos decisivos (afinal, ela ganhou mais envergadura e não tem motivo para morrer politicamente junto com o mito que se tornou mico).
Enfim, nos próximos dias começaremos a aprofundar tais discussões.
Por enquanto, desfrutemos esta vitória há tanto aguardada, pela qual pagamos um preço imenso em vidas, sofrimento e aflições.
Domingo foi dia de festa! E bem que a merecemos... (por Celso Lungaretti)
Passado mais um capítulo da luta de classes no Brasil, Bolsonaro foi derrotado por uma margem de apenas 2.139.645 votos, evidenciando a profunda divisão social do país.
O fato de o presidente ter ido dormir após o resultado, sem sequer agradecer aos seus apoiadores pela boa votação ou exortá-los a continuarem lutando, expressa o seu fracasso pessoal profundo.
A humilhação sofrida pelo führer de comédia pastelão, contudo, não significará o fim do movimento que o levou ao Palácio do Planalto. Na realidade, o dito bolsonarismo, que é a extrema-direita eclodida a partir de 2013, já se prenunciava antes das jornadas de junho daquele ano.
O líder caído seria o responsável por sua vitória em 2018, quando nele canalizou suas forças. Passado o período de abatimento, vai reorganizar-se e preparar o campo para a luta contra o novo governo.
A vitória do bolsonarismo em São Paulo foi importante neste contexto. O governo bandeirante, o segundo maior ente da federação, se transformará num bunker da extrema-direita, para o qual irão todos os enjeitados do governo federal. A máquina estadual tende a ser usada no combate a Lula, mantendo a chama do reacionarismo acessa.
Na realidade, apesar da vitória lulista no governo federal, o grande vencedor das eleições foi o bolsonarismo: prevaleceu na maioria dos grandes centros urbanos, elegeu mais congressistas, ditou o debate e, acima de tudo, se impôs enquanto força renovadora, de transformação.
Tendo os olhos votados para o passado e formando uma grande aliança com o status quo nacional, o lulismo, por sua vez, venceu muito mais enquanto um veto às forças retrógradas, ao obscurantismo, à falta de pudor pela vida e à devastação ambiental.
Mas não conseguiu colocar-se enquanto um movimento inspirador de transformações. E aí reside todo o drama do momento.
A eleição de Lula só foi possível por um grande acordo de cúpula, uma articulação nas altas esferas do capitalismo, passando pelo STF, banqueiros, tucanos históricos e grande capital internacional. Foi o grande pacto nacional já vaticinado por Romero Jucá, cuja meta é reestabelecer os marcos institucionais pré-junho de 2013, trazendo de volta a reprodução sossegada do valor.
Noutras palavras, restaurar a pax neoliberal, cujo ápice se deu no segundo governo do Lula, e desacelerar a luta de classes.
No entanto, vontade é uma coisa, efetividade é outra. Quem de fato comanda o ritmo dos acontecimentos não é o político x ou y, ou mesmo a nanica burguesia brasileira, mas a economia capitalista, terreno completamente objetivo e com sua própria legalidade. E, nesta seara, até mesmo os capitalistas estadunidenses e europeus estão apavorados, sentindo o buraco abrir-se cada dia mais.
Os prenúncios de cataclisma ficam mais evidentes e as tensões geopolíticas recolocam no plano mundial o que vem acontecendo no plano micro da economia do dia-a-dia.
Aumento do custo de vida, desabastecimento, fome –a qual agora assombra até mesmo a classe média branca europeia– e, finalmente, a sombra da guerra mundial mostram a aproximação de uma depressão titânica capaz de engolir a tudo e todos, cujo desfecho é imprevisível e cujo impacto no Brasil poderá fortalecer a extrema-direita oposicionista.
Para além disso, a reorganização econômica do Brasil para um regime agromineral-extrativista segue em frente. Bolsonaro foi o representante mais bem acabado desta nova lógica porque ele simplesmente a colocava sem peias, sem duplo discurso e sem qualquer tipo de vergonha. Lula retorna para dar um verniz civilizado para esta nova lógica, mantendo-a, mas com uma capa racionalista.
Nisto reside outro ponto débil com potencial para engolir o novo presidente, pois quanto mais avança a nova matriz econômica, mais fortes ficam as forças do atraso e, correlatamente, sua expressão política no Brasil, o bolsonarismo.
A precarização das relações de trabalho, a flexibilização das leis ambientais, a dilapidação da indústria e das empresas públicas, a crise urbana com a explosão da violência, tudo isso fortalece o tripé reacionário do agronegócioigrejas evangélicas e militarismo. Terá Lula condições de mexer no nervo disto e reverter as condições regressivas no Brasil? Eu diria que não.
Não apenas o agora presidente eleito ajudou neste processo quando de suas passagens pelo governo federal, como também está hoje afiançado de modo íntimo com os grandes capitalistas brasileiros que almejam justamente o avanço do dito cujo, embora, como dito, num ritmo menos irascível. Seria preciso romper e radicalizar à esquerda, mas isto seria dissolver o grande pacto e recolocar a luta de classes noutro nível.
Então, o futuro se prenuncia tenebroso. A extrema-direita seguirá mobilizada e o novo governo, centrado no passado e acreditando ser possível uma conciliação já caducada, aprofundando o modelo de espoliação do pais, estará muito em breve em face de uma profunda impopularidade e frustração. Neste momento, o pior poderá acontecer e os derrotados de hoje talvez voltem reenergizados.
Não há saída além da mobilização popular e do avanço de transformações efetivamente positivas para o Brasil, rompendo com o modelo extrativista e democratizando de fato a vida social.
Mas, é provável que isto talvez esteja para além da capacidade de Lula. (por David Emanuel Coelho)
Direto da Redação é um fórum de debates publicado no jornal Correio do Brasil pelo jornalista Rui Martins,
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