Cooperação entre Alemanha e Reino Unido quer desenvolver armas de precisão de grande alcance. Meta do pacto é incrementar proteção da Europa contra ataques externos.
Por Redação, com DW – de Berlim
O chanceler federal alemão, Friedrich Merz, estabeleceu a ambiciosa meta de tornar as Forças Armadas da Alemanha Bundeswehr “as mais fortes da Europa”, logo em suaprimeira declaração de governo no Bundestag, o Parlamento alemão. “Devemos poder nos defender para que não tenhamos que nos defender”, enfatizou o novo chefe de governo com relação à ameaça representada pela Rússia, ressaltando que isso deve ocorrer em estreita coordenação com os parceiros europeus.

A Alemanha já vem investindo nessas parceiras e uma delas foi firmada com o Reino Unido. A cooperação militar foi selada no segundo semestre do ano passado com um acordo que ambos os países celebraram como “histórico”: o chamado Trinity House Agreement.
Esse acordo recebeu o nome do local em Londres onde o pacto foi assinado pelo então ministro alemão da Defesa, Boris Pistorius, e seu colega britânico, John Healey. Nunca antes houve um acordo desse tipo entre os dois países. Healey viajou para Berlim na quinta-feira para concretizar os planos conjuntos.
Metas estratégicas comuns
O Reino Unido, que é uma potência nuclear, não é mais membro da União Europeia (UE), mas é um forte parceiro militar dentro da Otan, que compartilha interesses comuns com a Alemanha. “O Reino Unido também está fortemente envolvido nas áreas geográficas que são importantes para a Alemanha, ou seja, nos países bálticos, no extremo norte, mas também parcialmente no flanco oriental da Otan”, enfatiza Ben Schreer, chefe do escritório de Berlim do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS).
É nesse ponto que os dois países agora querem unir forças, por exemplo, para proteger o Atlântico Norte e o Mar do Norte. Não apenas importantes rotas de comércio marítimo passam pelo Mar do Norte, mas também gasodutos e cabos que transportam eletricidade das grandes instalações offshore para a costa.
Após a suspeita de ataques russos a cabos submarinos no Mar Báltico, os especialistas em segurança temem ataques semelhantes no Mar do Norte. Os dois países querem neutralizar essa possiblidade com “um quadro claro e abrangente da situação submarina”, conforme o texto do pacto.
Operações conjuntas com submarinos e aeronaves de reconhecimento marítimo também fazem parte desse plano. No futuro, as aeronaves alemãs de patrulha marítima P-8A Poseidon ajudarão a monitorar, a partir da Escócia, o espaço aéreo sobre o Atlântico Norte. A Bundeswehr encomendou novas aeronaves desse tipo, e o Exército britânico já as está usando, possibilitando que as tripulações alemãs já possam treinar no local.
– Essas aeronaves de reconhecimento marítimo de longo alcance podem combater submarinos em longas distâncias – enfatizou o ministro alemão da Defesa, Boris Pistorius, após o encontro com seu colega britânico. Ele ressaltou que, assim, os dois parceiros estão fortalecendo conjuntamente as capacidades da Otan de interceptação de submarinos no Atlântico Norte e no Mar do Norte.
Mísseis de longo alcance
Os dois países têm um forte setor de defesa e também há planos de cooperação nessa área. Por exemplo, a empresa de defesa alemã Rheinmetall fabrica o veículo de transporte blindado Boxer em suas fábricas no Reino Unido, do qual o Exército britânico encomendou 500 unidades.
Um dos principais elementos do acordo é o desenvolvimento conjunto de armas de precisão com um alcance de mais de 2 mil quilômetros, ao qual outros países europeus também podem aderir.
Outra área de cooperação é o desenvolvimento de drones armados. A Bundeswehr tem déficits nessa área e só está começando a adquirir drones de combate menores este ano. O Exército britânico, por outro lado, tem muitos anos de experiência operacional nessa área, da qual a Bundeswehr poderia se beneficiar.
Sistemas compatíveis
Os dois países também querem cooperar em projetos envolvendo caças do futuro, pelo menos até certo grau. Isso porque a Alemanha está desenvolvendo um novo sistema junto com a França e a Espanha, enquanto o Reino Unido está desenvolvendo um sistema diferente junto com a Itália e o Japão.
– Do ponto de vista europeu, faz todo o sentido estabelecer pelo menos a interoperabilidade, para que os dois sistemas também possam trabalhar juntos em futuras missões conjuntas – enfatiza o especialista em segurança Ben Schreer.
Com isso, ele toca em um ponto que é um problema na Europa: há muitos sistemas de armas diferentes, alguns dos quais não são compatíveis entre si. “Precisamos de padrões comuns e de uma simplificação dos sistemas na Europa”, afirmou Merz logo após assumir o cargo.
Em um momento em que os países europeus da Otan têm que arcar com um fardo maior na defesa, a cooperação entre a Alemanha e o Reino Unido pode servir como um sinal. Schreer diz que ela é uma iniciativa que pode servir como um complemento para outras formas de cooperação, como a que existe entre a Alemanha e a França.
– A questão interessante é saber se o Reino Unido estará disposto e será capaz de contribuir para a defesa da Europa. E isso, é claro, levanta algumas questões críticas, especialmente no que diz respeito ao orçamento de defesa do Reino Unido, onde grandes aumentos provavelmente se tornarão cada vez mais difíceis.