Empresas se dão conta das vantagens de contratar portadores do transtorno. Trabalhadores com autismo costumam se destacar pelo alto grau de lealdade e dedicação.
Por Redação, com DW - de Berlim
O Dia Mundial da Conscientização do Autismo, celebrado na terça-feira, foi criado como uma tentativa de levar a sociedade a refletir e aprender a lidar com um transtorno neurológico que afeta cerca de 1% da população. Embora a primeira imagem que possa vir à mente seja a do Rain Man, filme que retrata um autista savant com dons matemáticos extraordinários, a maioria das pessoas autistas não tem super-habilidades. Atualmente algumas empresas se deram conta de que elas têm características que podem torná-las funcionários exemplares. A instituição de caridade britânica Autistica afirma que os funcionários autistas "muitas vezes são leais e fornecem ideias alternativas. Há muitos talentos inexplorados que são frequentemente filtrados por abordagens mais tradicionais de recrutamento, destacando mais as fraquezas do espectro autista do que seus pontos positivos". A gigante do software SAP realiza há seis anos o programa Autism at Work (autismo no trabalho), empregando 150 autistas em 12 países. A iniciativa também inspirou a Microsoft e a HPE, que também lançaram projetos de inclusão de autismo. A lealdade é uma qualidade que sempre surge para descrever os trabalhadores autistas. A empresa de recrutamento ERE, que organizou o programa da SAP, afirma que "novos colegas estão chegando à SAP mostrando resiliência, lealdade, dedicação e um ardente desejo de trabalhar e contribuir para a empresa". – Somos capazes de capturar as habilidades inerentes que são frequentemente associadas a pessoas no espectro do autismo, incluindo habilidades de aprendizagem visual, como a capacidade de reconhecer padrões e atenção aos detalhes, a capacidade de detectar desvios em dados, informações e sistemas – prossegue o texto da empresa. – Esses funcionários frequentemente são caracterizados por grande dedicação e baixa tolerância a erros, além de uma forte afinidade com ambientes orientados a processos, estruturados e previsíveis, que resultam em fortes capacidades de otimização de processos. Como o autismo é um espectro de um transtorno neurológico, cada pessoa autista o experimenta de maneira diferente. Muitos podem se surpreender que a ativista Greta Thunberg, que inspirou mais de um milhão de estudantes a irem às ruas, seja autista, mas ela descreve essa sua característica como um "presente", que dá a ela a capacidade de "ver o mundo de uma perspectiva diferente". Além de Greta, Anthony Hopkins e Courtney Love também foram diagnosticados com transtorno do espectro do autismo. – Minha empatia emocional deixa meus entrevistados à vontade, e eu posso sentir e ler a linguagem corporal do desconforto ganhando muito mais dados – diz a pesquisadora Maria, que é autista. Embora os funcionários autistas possam trazer muitos pontos fortes para uma equipe, também existem desafios especiais que tornam alguns ambientes de trabalho mais difíceis para eles. Apesar dos excelentes resultados, a pesquisadora Maria sempre teve dificuldades com burocracias inúteis, política interna, falta de clareza e instruções verbais sem demonstração visual. Ela também afirma que o assédio moral no trabalho é um desafio comum. Charlotte, uma funcionária de atendimento ao cliente, diz ter sido alvo de assédio moral de uma colega, mas sentiu-se incapaz de expressar suas emoções para seu gerente. Além disso, níveis excessivos de ruído a deixavam ansiosa. Funcionários autistas podem precisar de ajustes especiais e podem ter dificuldades com interações sociais. A Linklaters Partners, uma firma de advocacia que coopera com a consultoria especializada em pessoas com autismo Auticon, afirma estar certa de que "quaisquer ajustes que precisamos fazer para acomodar as necessidades dos funcionários autistas são superados pelas extraordinárias habilidades que eles trazem para a empresa". A Auticon foi fundada na Alemanha por Dirk Müller-Remus depois que seu filho foi diagnosticado com a síndrome de Asperger. A companhia tem escritórios em cinco cidades na Alemanha e outros em Londres e Paris, com mais de 200 consultores autistas em campos ligados às tecnologias de informação e comunicação. A maioria de seus empregados estava desempregada há longos períodos de tempo, em média três anos, antes de encontrar trabalho na Auticon. "Nunca me senti tão seguro e apoiado. Minhas condições de trabalho me permitem prosperar, e até tenho um coach, que me visita no trabalho e faz contato com o cliente sobre preocupações ou perguntas sobre mim e minha posição como consultor", diz Lars, consultor da Auticon. Se mais empresas seguirem esse exemplo, seria um progresso não apenas para pessoas com autismo, parcela da população onde há uma alta taxa de desemprego, mas também para as empresas que sofrem com a escassez de mão de obra especializada.