O protocolo de intercorrências similares determina que a operadora tivesse apresentado o Boletim de Interrupção do Suprimento de Energia (Bise) na véspera, o que não ocorreu e o atraso já ultrapassava as 20 horas, até o fechamento dessa matéria. O Bise inclui até o rito de divulgações e nenhum dos pontos foi observado.
Por Redação - de Brasília
Desde que foi privatizada, no ano passado, a maior empresa de energia sustentável da América Latina não havia passado por um teste tão sério quanto foi o apagão ocorrido na última terça-feira, que afetou 25 Estados do país e o Distrito Federal. E até agora a nova gestão não conseguiu explicar, exatamente, o que ocorreu.

O protocolo de intercorrências similares determina que a operadora tivesse apresentado o Boletim de Interrupção do Suprimento de Energia (Bise) na véspera, o que não ocorreu e o atraso já ultrapassava as 20 horas, até o fechamento dessa matéria. O Bise inclui até o rito de divulgações e nenhum dos pontos foi observado. Segundo fonte no Operador Nacional do Sistema (ONS) ouvida pela reportagem do Correio do Brasil, a diretoria privatizada da Eletrobras não havia encaminhado as informações necessárias para o fechamento do relatório.
Alguma explicação, que fosse a mais irrelevante, deveria ter publicada nas duas horas após a queda de luz em um Informe Preliminar de Interrupção do Suprimento de Energia (IPIE). As primeiras informações disponibilizadas pela empresa, para a formulação do IPIE, foram divulgadas às 18h, cerca de 10 horas após a falha no sistema, seguidas de uma notificação no dia seguinte.
Incidente
Um relatório mais extenso foi publicado pelo ONS na noite passada, para informar que haveria um novo atraso no Relatório de Análise da Perturbação (RAP). O que deveria ser concluído em 30 dias, agora permanecerá em aberto por 45 dias. Ao certo mesmo, nada ainda foi detalhado sobre o que os técnicos denominam de ‘evento zero’, o momento exato em que se deu a queda no sistema nacional de energia.
Tudo teria começado em uma linha de transmissão entre o município de Quixadá e a capital Fortaleza. Segundo as apurações da empresa, a frequência da linha caiu e o sistema de proteção falhou a partir dali. Os manual, no entanto, descarta a possibilidade de que apenas um evento isolado tenha gerado uma falha catastrófica, a ponto de desligar por mais de seis horas a energia elétrica em todo o país.
Alguns especialistas têm dito à mídia especializada que houve falha em alguma subestação no Norte do país, como Imperatriz (MA) ou Xingu (PA), mas nenhuma prova de que esta seja a realidade foi admitida, ainda, pela Eletrobras.
Privatização
Embora os economistas liberais, a exemplo da especialista em energia Elena Landau, sejam mais complacentes com a empresa privatizada durante o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), em meio a uma série de notícias negativas sobre as práticas empresariais do grupo que assumiu o controle acionário, a realidade mostra que até agora a companhia não foi capaz de elucidar o incidente. A Eletrobras detém 23% da capacidade geradora instalada no país e cerca de 40% do total das linhas de transmissão.
Durante a tentativa fracassada de um golpe de Estado, em 8 de Janeiro, seis atentados promovidos por sabotadores contra as linhas de transmissão de energia testaram a capacidade de resiliência do sistema, uma vez que a maioria dos apagões registrados na história recente do país envolveram linha de transmissão, subestação ou equipamento da empresa. Os prazos de resolução e de comunicação dos fatos ao público, quando a empresa era estatal, foram cumpridos com celeridade, diferentemente do que ocorre agora, sob a condução privada.
De fato, no entanto, fica posto que a privatização, no Brasil, ocorre em um momento e, no outro, os bens públicos são sucateados desde o momento em que se planeja a venda ao setor privado. Depois de privatizada, o investimento é reduzido ao máximo, uma vez que o objetivo novos dirigentes de elevar a taxa de lucro precisa ser cumprido, a despeito da queda na qualidade dos serviços oferecidos.