Centenas de pessoas acompanharam celebração na catedral evangélica de Magdeburg em nome das vítimas. Manifestantes também ocuparam as ruas da cidade com slogans anti-imigração.
Por Redação, com DW – de Berlim
Políticos e líderes alemães participaram no sábado de uma cerimônia em memória das vítimas do atentado em um mercado de Natal em Magdeburg, no leste da Alemanha, que matou cinco pessoas e feriu mais de 200.
O chanceler federal alemão, Olaf Scholz, o presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, e o governador do estado da Saxônia-Anhalt, Reiner Haseloff, estavam entre os presentes à solenidade realizada na catedral evangélica da cidade.
Familiares, equipes de resgate e uma multidão acompanharam a celebração dentro da igreja, e também na parte externa, por meio de transmissão ao vivo, sob frio e chuva. A cerimônia também foi transmitida por emissoras de TV por toda a Alemanha.
O memorial aconteceu ao mesmo tempo em que centenas de manifestantes entoavam slogans extremistas em outra parte do centro da cidade.
A prefeita de Magdeburg, Simone Borris, pediu à população que siga unida, apesar do choque. “Desejo a todos nós, como comunidade municipal, que não nos deixemos abalar”, disse. “Que apoiemos as vítimas e as famílias das vítimas em seu luto, e que a comunidade, por favor, fique unida.”
– O ataque brutal da noite passada nos deixa tristes e com raiva, desamparados e com medo, inseguros e desesperados, sem palavras, atordoados e profundamente afetados. Estamos aqui na catedral esta noite com sentimentos que não podem ser compreendidos – discursou o bispo Gerhard Feige.
Feige frisou que os presentes estavam lá para oferecer apoio uns aos outros, e exortou o público a não “deixar que o ódio e a violência tenham a última palavra”.
Após a cerimônia, Scholz escreveu na rede social X que “toda a Alemanha está nessa hora escura ao lado das cidadãs e dos cidadãos de Magdeburg”.
Extrema direita protesta
Do lado de fora da catedral, a 800 metros dali, centenas de manifestantes da cena da extrema direita alemã se reuniram para um protesto. Veículos alemães relataram episódios de hostilidade contra a imprensa, uma placa com o pedido de “remigração”, eufemismo da extrema direita para a deportação de estrangeiros, e gritos como “nós somos o povo”, slogan nacionalista, e “não queremos abrigos para asilados”.
O suspeito do crime é um médico saudita que vive na Alemanha em 2006 e, há oito anos, teve reconhecido seu status de asilado por, segundo ele, não poder voltar ao seu país de origem após abandonar a fé islâmica.
Ele foi preso minutos após cometer o atentado e será apresentado a um juiz de custódia, que decidirá se converterá a prisão em flagrante em preventiva.
Uma organização que oferece aconselhamento para prevenção de radicalismo e violência informou que houve um aumento visível neste sábado de ataques contra pessoas com “aparência estrangeira” em Magdeburg, informou o portal alemão Tagesschau.
Refugiados teriam relatado à ONG agressões físicas e ofensas e cusparadas. Uma pessoa teria sido espancada por outras quatro pessoas.
Críticas
Mais cedo, Scholz liderou um grupo de ministros pelas ruas de Magdeburg, que condenaram a violência e depositaram flores para prestar suas homenagens pelos mortos e feridos no ataque.
Mas a presença das autoridades gerou gritos de ordem de algumas pessoas que acompanhavam a homenagem, algumas criticando a “instrumentalização dos ataques” pelos políticos e outros pedindo para os presentes “sentarem à mesa” com o partido Alternativa para a Alemanha (AfD).
O ataque em Magdeburg acontece em meio a uma nova disputa eleitoral na Alemanha, cujas pesquisas indicam um provável avanço da sigla de ultradireita no Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão).
Apesar de angariar cada vez mais adeptos à pauta anti-imigração, a AfD não tem encontrado espaço em coalizões governistas devido às suas pautas consideradas extremistas por muitos parlamentares.
A pauta da imigração, inclusive, tem sido central nas discussões políticas do país. O tema cresce cada vez mais desde 2015, quando a ex-chanceler federal alemã Angela Merkel instituiu uma política de boas vindas a imigrantes.