Rio de Janeiro, 06 de Maio de 2025

Vacas superfaturadas colocam em risco emprego do ministro Picciani

Em seu depoimento, Tania Fontenelle disse que trabalhou na empreiteira por cerca de 30 anos e deixou o emprego em 2015

Terça, 18 de Outubro de 2016 às 17:28, por: CdB

Em seu depoimento, Tania Fontenelle disse que trabalhou na empreiteira por cerca de 30 anos e deixou o emprego em 2015. O fato não a impediu de participar do acordo de leniência da empreiteira com o Ministério Público Federal (MPF)

Por Redação – de Curitiba e Rio de Janeiro
O emprego do ministro do Esporte, Leonardo Picciani, está em risco desde a manhã desta terça-feira. Ele e a família, proprietários da empresa Agrobilara Comércio e Participações estão citados na Operação Lava jato. Ex-funcionária da empreiteira Carioca Engenharia, Tania Maria Fontenelle denunciou todos eles por vender “vacas superfaturadas”. A operação comercial visava abastecer o caixa 2 da construtora, denunciou a funcionária.
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Leonardo Picciani foi eleito com diferença de um voto
Em seu depoimento, Tania Fontenelle disse que trabalhou na empreiteira por cerca de 30 anos e deixou o emprego em 2015. O fato não a impediu de participar do acordo de leniência da empreiteira com o Ministério Público Federal (MPF). A confissão de culpa foi homologada em fevereiro deste ano pelo juiz Sérgio Moro. Na quinta-feira passada, o magistrado ampliou o acordo a mais oito executivos da empreiteira.

Delação

Em abril, na condição de ex-funcionária, Fontenelle disse que “recebia solicitações de acionistas e diretores da Carioca Engenharia. Era para providenciar dinheiro em espécie e assim procedia”. A ré no processo confessa que “para gerar tais recursos, quando eram solicitados, utilizava a contratação de outras empresas prestadoras de serviços, celebrando contratos simulados”. A ex-funcionária afirmou, ainda, que as vacas compradas da empresa dos Picciani foram efetivamente entregues. Mas parte do valor pago foi devolvido, em espécie, à Carioca Engenharia. — Simplesmente atendia as solicitações de obter dinheiro em espécie e entregava a quem fazia a solicitação ou a pessoas da empresa por eles indicadas — disse Tania, aos investigadores Segundo o termo de depoimento da ex-funcionária, ela ocupou cargo de diretora financeira. “Obviamente, (ela) sabia que a destinação dessas quantias era ilícita. Para corrupção ou para doação eleitoral não-declarada”, dizem os autos. Ainda segundo afirmou, no processo, ela não manteve “contabilidade ou controle disso, pois estava há muitos anos na empresa. Tinha a confiança dos acionistas e eram recursos não oficiais que normalmente entregava aos solicitantes”. Ela disse que, após deixar a empresa no ano passado, passou a prestar consultoria à Carioca. O acordo de leniência, delação premiada da empresa, inclui os donos da Carioca, Ricardo Pernambuco e Ricardo Pernambuco Júnior. Eles fecharam acordos de colaboração na Operação Lava Jato. Entre as denúncias apresentadas pelos executivos está o pagamento de propina ao deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Dessa vez, na obras do Porto Maravilha, no Rio.

Processo

Em contrapartida pelos negócios ilegais, segundo a ex-funcionária da Carioca, os envolvidos nas empresas recebiam comissões. — Essas empresas recebiam da Carioca Engenharia os pagamentos previstos nos contratos, retinham a parte referente à real prestação de serviços, quando havia, ficavam com uma comissão entre 25% e 30% e devolviam em espécie o restante — relata. Além do ministro, integram o quadro societário da Agrobilara o seu pai, o peemedebista Jorge Picciani, presidente da Assembleia Legislativa do Rio, e seu irmão, Rafael Picciani, secretário de coordenação de Governo da Prefeitura do Rio. O presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, Jorge Picciani (PMDB), pai do ministro do Esporte, Leonardo Picciani, afirmou na noite passada, em nota, que vai processar a ex-funcionária da Carioca Engenharia, Tania Fontenelle. “A Agrobilara, por mim presidida, está à disposição das autoridades para comprovar a improcedência das afirmações desta senhora, que será por nós processada e instada a provar que teria havido superfaturamento e/ou devolução de recursos em espécie da nossa parte, caso as informações do jornal a propósito de possível acordo de leniência se confirmem”, afirmou Jorge Picciani. “Desconhecemos quem seja essa senhora, que – caso a informação dada ao jornal seja verídica – está praticando um crime ao mentir para as autoridades. A família proprietária da Carioca é, como se sabe, antiga e conhecida criadora de gado Nelore. E a Agrobilara, como se sabe igualmente, uma das principais fornecedoras de genética de Nelore P.O. do Brasil.”

Comitiva de Temer

O líder peemedebista fluminense Jorge Picciani também nega que a empresa tenha superfaturado qualquer venda de gado. “Todas as vendas feitas seguiram rigorosamente os preços praticados no mercado, e eventualmente até abaixo dele, com notas fiscais emitidas mediante cobrança bancária e impostos devidamente recolhidos. Todas as transações podem ser comprovadas, assim como as entregas e transferências de propriedade, através do livro de registro da Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ)”, acrescenta a nota Dados da Receita Federal comprovam que a empresa da família Picciani tem capital social de R$ 40 milhões. Procurado pela reportagem do Correio do Brasil, o Ministério do Esporte, por meio de sua assessoria, informou que Leonardo Picciani está na comitiva do presidente de facto, Michel Temer, no Japão. A assessoria de imprensa da Prefeitura do Rio, por sua vez, afirmou que lida apenas com os assuntos institucionais da Secretaria de Coordenação de Governo.
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