Rio de Janeiro, 21 de Dezembro de 2024

Em tempos de fascismo, rever Max Bill

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Quarta, 29 de Dezembro de 2021 às 23:23, por: CdB

Quem estiver na Europa e decidir passar pela Suíça, não pode perder a exposição Max Bill Global, no Museu Paul Klee, em Berna. Para quem é jovem, vale a pena lembrar: Max Bill, um dos pioneiros e principais representantes da arte concreta, foi a grande atração da I Bienal de São Paulo em 1951, onde foi premiada sua escultura Unidade Tripartida, criada três anos antes. Essa obra inovadora, ajudou a desencadear o Concretismo nos anos 50.

Por Rui Martins
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Unidade Tripartida de Max Bill, premiada na Bienal de São Paulo
Essa passagem marcante de Max Bill pelo Brasil é rememorada na exposição, onde há mesmo as cores brasileiras. Na época do prêmio, a avant-garde acentuava o argumento de Max Bill, pelo qual o concretismo foi um desenvolvimento do modernismo na Europa. O tema era bastante debatido no Brasil, tanto que Max Bill retornou, em 1953, ao Brasil, para fazer parte da 2a. Bienal de São Paulo. Aproveitando sua presença na capital paulista, Max Bill pronunciou diversas conferências e concedeu entrevistas criticando a maneira como se fazia a arquitetura moderna no Brasil, considerada por elitista e decorativa, suscitando controvérsias. Essa presença de Max Bill no Brasil voltou ainda recentemente a ser comentada com a reimpressão do livro Max Bill no Brasil de Rodrigo Otávio da Silva Paiva. Nele se comenta a influência de Max Bill e de Le Corbusier sobre a arte e a arquitetura brasileira. Como comprovam documentos de Pietro Maria Bardi encontrados no Museu de Arte de São Paulo, na Pinacoteca do Estado e Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Militante contra o fascismo, Max Bill foi testemunha do surgimento e da destruição do fascismo e do nazismo na Europa. Socialista militante, Max Bill chegou a ser deputado federal na Suíça. É também importante assinalar a criação da Escola de Desenho de Ulm, em 1950, segundo um conceito internacionalista de Max Bill. O programa da escola segue o do Bauhaus, a renomada escola de artes alemã, criada em 1919 em Weimar par Walter Gropius. Com a vitória dos nazistas na região, o Bauhaus se transferem para Dessau, onde passaram grande arquitetos e artistas de prestígio, como Klee e Kandisnky. Como a arte moderna era considerada degenerada pelos nazistas, o Bauhaus foi fechado em 1932. Uma tentativa de transferência para Berlim foi frustrada pela Gestapo. Entre as primeiras alunas da Escola de Desenho de Ulm, estava a brasileira Mary Vieira, vinda de Belo Horizonte, que se tornou importante no setor da arte cinética e do desenho de cartazes. Em 1964, Max Bill mostrou uma das esculturas de Mary Veira, na I Expo de Lausanne. A artista mineira foi a primeira mulher artista brasileira premiada na Bienal de São Paulo. Por Rui Martins, correspondente na Suíça.
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