"Colateral", de Michael Mann, é um filme em que o diretor em nenhum momento tira o pé do acelerador, intensificando a tensão a cada momento.
O filme nunca chega a escavar debaixo da superfície: a história percorre as ruas de Los Angeles, com sua criminalidade e seus moradores, sem muita introspecção ou análise. Mas a superfície exibida é atraente, quase irresistível.
Anos atrás, o diretor Martin Scorsese e o roteirista Paul Schrader criaram um filme sobre um motorista de táxi que mostrava o que, para eles, era o mergulho da América na loucura social e na violência aleatória.
Mas esta história sobre um taxista criada por Michael Mann e o roteirista Stuart Beattie é um thriller muito bem conduzido, sem qualquer outra mensagem fora sua ação. E que ação...
"Colateral" é estrelado por Tom Cruise, que faz o papel de pistoleiro de aluguel metódico e implacável. Jamie Foxx faz o infeliz taxista que é forçado a conduzi-lo pela cidade para uma noite de "serviços encomendados".
A trama não pode deixar de prender a atenção do público, e o nome de Cruise no elenco é um fator adicional de atração.
O matador de aluguel representado por ele, Vincent, recebe suas instruções para a noite no aeroporto, enquanto Max (Jamie Foxx), que há 12 anos é motorista de táxi mas ainda considera seu trabalho em emprego temporário, pega sua primeira cliente da noite.
Trata-se da promotora Annie Farrell (Jada Pinkett Smith), que não chega a interessar-se muito pelo motorista até que uma discussão sobre o melhor caminho para chegar ao centro vira uma aposta amigável. Sem saber muito bem porquê, Annie acaba dando seu cartão de visitas a Max.
O próximo cliente do taxista é Vincent. Vestindo terno impecável, com barba há quatro dias sem fazer, Tom Cruise é todo charme e frieza.
Confiante e a determinado a matar cinco pessoas naquela noite, Vincent não apenas não aceitará "não" como resposta -- ele nem sequer sabe o que significa um "não". É uma atuação perfeita de Cruise, sem nuanças nem dimensão emocional, mas crepitando de intensidade.
Enquanto isso, Jamie Foxx está brilhante no registro de toda uma gama de emoções. Tendo começado a noite com indiferença entediada, ele passa pelo medo aterrorizante, um desejo ardente de ludibriar o pistoleiro e, finalmente, a necessidade de olhar dentro de si para assumir papéis que nunca na vida se imaginaria representando.
De início, Vincent paga 600 dólares a Max para que este passe a noite a seu serviço. Quando o primeiro desses serviços faz Max perceber qual é a natureza do trabalho de Vincent -- o cadáver da vítima acaba no porta-malas do táxi --, o chofer vira refém de seu cliente.
O detetive Fanning (Mark Ruffalo, quase irreconhecível) chega ao cenário do primeiro crime e quase imediatamente intui que algo mais se prepara. Com isso, a polícia começa a seguir Vincent muito antes de ele ou Max se conscientizarem disso.
O filme se divide em duas histórias paralelas: a interação entre os dois homens desesperados no interior do táxi, a procura psicológica de cada um pelo ponto fraco do outro, e, por outro lado, a polícia e o FBI tentando entender o porquê dos cadáveres que começam a se empilhar no necrotério e correndo para tentar impedir os dois últimos assassinatos.
O único problema é que o terceiro ato peca por ultrapassar os limites da credibilidade. As pessoas dificilmente se safam tão tranquilamente de ferimentos a bala ou acidentes de carro.
Advogados não costumam estar em seus escritórios, trabalhando, às 3h da manhã, e o metrô tampouco opera a essa hora. Mas esses são males menores no filme, no qual Javier Bardem faz uma ponta como traficante.