Itamaraty aguarda apenas a comunicação oficial para expulsar o embaixador venezuelano, Alberto Padilla.
Por Redação - de Brasília
As relações diplomáticas entre Brasil e Venezuela tornaram-se ainda mais delicadas, nesta terça-feira, após o anúncio por parte do Ministério das Relações Exteriores (MRE), ainda que de maneira informal, da expulsão de um diplomata graduado do país vizinho. Fonte ouvida pela reportagem do Correio do Brasil junto ao Itamaraty, nesta terça-feira, não exclui a hipótese de que o chefe da embaixada venezuelana no Brasil, embaixador Alberto Efraín Castellar Padilla. Caso se confirme o prognóstico, há apenas mais alguns passos até o rompimento definitivo de relações entre os dois países.
Para formalizar a decisão, o Brasil aguarda apenas a chegada do comunicado oficial da Venezuela sobre a decisão de declarar embaixador brasileiro em Caracas, Ruy Pereira, persona non grata. O anúncio da parte venezuelana ocorreu na véspera do Natal. Segundo os trâmites normais, a posição oficial da república bolivariana chega nesta semana e, logo após o Ano Novo, caberá ao Brasil anunciar a expulsão de Castellar Padilla.
Assim que o representante da diplomacia brasileira foi censurado pela Assembleia Nacional Constituinte (ANC) chavista, no último sábado, o Itamaraty divulgou nota; algumas horas depois. O MRE, no documento, afirma que “tomou conhecimento” da expulsão do diplomata brasileiro. E que “caso confirmada, essa decisão demonstra, uma vez mais, o caráter autoritário da administração Nicolás Maduro e sua falta de disposição para qualquer tipo de diálogo”.
“O Brasil aplicará as medidas de reciprocidade correspondentes”, continua o texto.
Sanção
O embaixador Ruy Carlos Pereira, que se encontra no Brasil para as festas de fim de ano, sequer precisará voltar a Caracas. Uma vez expulso, segue na mesma condição do encarregado de negócios do Canadá, Craib Kowalik, que sofreu sanção semelhante.
"Decidimos declarar persona non grata o embaixador do Brasil até que se restitua o fio constitucional que o governo de facto (de Michel Temer) vulnerou neste país irmão", disse a presidente da ANC, deputada Delcy Rodríguez.
Já contra o canadense, a presidente da ANC disse que o título de "persona non grata" foi dado “por sua permanente, insistente, grosseira e vulgar intromissão nos assuntos internos da Venezuela”.
Segundo a Convenção Internacional de Viena sobre Relações Consulares, documento que rege os órgãos diplomáticos, declarar um representante de outro país como "persona non grata" equivale a determinar que a nação emissora o retire da receptora.
Canadá
Em outubro, o chanceler venezuelano, Jorge Arreza, entregou pessoalmente a Kowalik uma carta em que protestava contra o que Caracas chama de “ingerência” de Ottawa nos assuntos internos do país.
O governo canadense que não iria reconhecer os resultados da eleição regional; na qual o chavismo conquistou 18 de 23 Estados. A ministra das Relações Exteriores do Canadá, Chrystia Freeland, afirmou na oportunidade, em um comunicado, que seu país estava "muito preocupado com as ações do regime venezuelano para dificultar a realização de eleições livres e justas, especialmente via o controle anticonstitucional do Conselho Nacional Eleitoral (CNE)".
Na resposta, Arreaza disse que “o governo bolivariano jamais se meteu nos assuntos internos dos canadenses”. Na época, o presidente Nicolás Maduro chamou para consultas o embaixador venezuelano no Canadá, Wilmer Barrientos; em um gesto considerado de alta voltagem diplomática.
Pronunciamento
Em sua fala à nação, pela passagem do Natal, na noite de domingo; Temer não tocou neste ou em qualquer outro assunto espinhoso. Preferiu amenidades e um novo chamado à aprovação da reforma da Previdência. Mesmo sem protestos mais ruidosos contra a fala, o emedebista não escapou das críticas bem humoradas da internet. A hashtag #ForaTemer foi um dos destaques no Twitter durante a noite de Natal. Na véspera, o arcebispo de Porto Alegre, Dom Jaime Spengler, também foi duro nas críticas às declarações do presidente.
— Quem diz que a vida está mais barata não vive a realidade do nosso povo. A impressão que dá é de que vive em uma outra realidade. Olhando nossa situação de Porto Alegre, o número de moradores de ruas; o número de placas de 'vende-se' e 'aluga-se', o comércio fechado, a vida parada; jovens sem perspectiva de um emprego digno. Certamente esse tempo de Natal precisa reacender em todos a esperança — afirmou o religioso, em entrevista a uma rádio local.
Para o articulista de um dos principais diários conservadores paulistanos Pablo Ortella; ainda no campo religioso, Temer teria fechado ‘acordo com o capeta’ para continuar no cargo.
O professor do curso de Gestão de Políticas Públicas da USP cita estudo da Eurasia Group para lembrar que Temer está num distante último lugar no ranking mundial de aprovação de líderes. Bem atrás do presidente da África do Sul, Jacob Zuma, enredado em graves escândalos de corrupção. E de Nicolás Maduro, que assinou a expulsão do embaixador brasileiro.