Rio de Janeiro, 31 de Dezembro de 2025

Temer desembarca na Noruega sob críticas e agenda esvaziada

Apenas 20 noruegueses estiveram presentes ao encontro de Temer em Oslo, onde fica até sexta-feira.

Quinta, 22 de Junho de 2017 às 09:53, por: CdB

Apenas 20 noruegueses estiveram presentes ao encontro de Temer em Oslo, onde fica até sexta-feira.

 

Por Redação, com agências internacionais - de Oslo e São Paulo

 

A primeira parada desta quinta-feira, em Oslo, consolidou o saldo negativo do giro que o presidente de facto, Michel Temer, encerra nas próximas horas pela Rússia e a Noruega. Temer desembarcou sob uma saraivada de críticas do governo norueguês pelo salto no desmatamento da Amazônia. O peemedebista desembarcou às 12h40 locais (7h40 no horário de Brasília) para uma estada de 48 horas ao país escandinavo.

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Presidente de facto, Michel Temer, foi recepcionado pela embaixadora da Noruega no Brasil, Aud Marit Wiig, em sua chegada a Oslo

Logo após o desembarque, ainda pela manhã, Temer encontrou-se com representantes de algumas das principais empresas norueguesas, entre elas a estatal petroleira Statoil que, recentemente, comprou por US$ 2,5 bilhões a participação de 66% da Petrobras no bloco de Carcará, no pré-sal.

No encontro com empresários noruegueses, Temer fez um discurso no qual garantiu que seu governo será mantido até o ano que vem. E, nesse meio tempo, continuará “avançando na agenda de reformas”. Ele repetiu que adota um sistema de presidencialismo semi-parlamentarista, num recado para o Congresso, responsável pela aprovação das medidas econômicas.

Plateia reduzida

Na volta ao Brasil, o suspeito investigado no Supremo Tribunal Federal (STF), ao lado do ex-assessor, o hoje presidiário Rodrigo Rocha Loures, enfrentará um pedido da Corte Suprema ao Congresso para que possa ser processado. Ambos são acusados de formação de quadrilha, corrupção e obstrução da Justiça, entre outros crimes.

— Faço um presidencialismo semiparlamentarista e conto com o apoio do Congresso para reformas inadiáveis que estamos fazendo e, sem cujo apoio, não conseguiríamos levar adiante essas reformas — disse Temer. Ele assegurou aos investidores noruegueses que encontrarão “um Brasil de fundamentos sólidos e oportunidades de investimentos muito seguras”.

A plateia, em Oslo, era formada por 20 noruegueses, entre autoridades, representantes de associações e empresários, incluindo o vice-presidente executivo de desenvolvimento e produção internacional da estatal petrolífera Statoil, Lars Christian Bacher, e representantes e CEO’s de outras companhias, como a mineradora Hydro; a Aker Solutions, Kongsberg Maritime e SIEM Industries, que também atuam no ramo de petróleo e gás; Knutsen OAS Shipping, DOF, Vard, da área de transporte marítimo, e a Statkraft, do setor de energia.

Questão ambiental

Nas horas que antecederam a chegada do mandatário, empossado após a queda da presidenta deposta Dilma Rousseff (PT) há pouco mais de um ano, fervilharam as críticas do governo norueguês quanto à política ambiental brasileira. Oslo é o principal financiador estrangeiro de projetos na Amazônia e já doou R$ 2,77 bilhões desde 2009.

Em carta ao governo, o ministro do Clima e Meio Ambiente, Vidar Helgesen, demonstrou preocupação com propostas em trâmite no Congresso como a implantação de regras mais frouxas de licenciamento ambiental. A medida reduz, ainda, a proteção de unidades de conservação; além do corte no orçamento para fiscalização contra o desmatamento.

Aos poucos empresários presentes ao encontro, Temer disse que levava "uma mensagem de confiança”. E que seu governo está melhorando o ambiente de negócios no Brasil.

— O Brasil, digo sem medo de errar, está deixando para trás uma severa crise de sua historia. Temos levando adiante reformas que não se viam há muito tempo no país — diz ele.

Temer reúne-se, nesta sexta-feira, com o Rei Harald V, com a primeira-ministra, Erna Solberg, e com o presidente do Parlamento, Olemic Thommessen.

Em queda

Tanto as autoridades norueguesas quanto da Rússia, de onde Temer saiu nesta manhã, avaliam como terminal a situação política do representante brasileiro. Temer e o presidente russo, Vladimir Putin, assinaram uma declaração conjunta na qual os dois países manifestam posições e agendas de interesse comum relativas à política internacional.

Segundo o ex-vice-presidente, os acordos facilitarão o comércio e os reinvestimentos, além de aprofundar o diálogo político. No jargão diplomático, porém, trata-se de apenas uma agenda “para enxugar gelo”. De baixíssimo impacto na realidade dos dois países.

Para o diplomata brasileiro Samuel Pinheiro Guimarães, ouvido por Eduardo Maretti, repórter da revista Rede Brasil Atual, a visita de Temer à Rússia deve ser encarada sob dois pontos de vista. O primeiro é a tentativa de o governante brasileiro mostrar “normalidade ao público interno”, onde menos de 5% da população aprova sua gestão.

Cautela

Após reunião no Kremlin, Brasil e Rússia assinaram uma declaração conjunta de cooperação no combate ao terrorismo. E deram declarações vagas de amizade e boas relações. Para Guimarães, não se podia esperar de Putin uma postura diferente.

— Eles sabem da possibilidade de o governo mudar em breve. Todavia, os países procuram não interferir na situação de outros países para manter uma certa normalidade nas relações. O Brasil em si é um país importante, inclusive para a Rússia, como parceiro comercial — disse.

O diplomata, ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos no fim do segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva e alto-representante-geral do Mercosul entre 2011 e 2012, ressalta que a cautela de Putin tem menos a ver com o atual mandatário brasileiro do que com o próprio Brasil.

Venezuela

Em oposição ao posicionamento diplomática de Putin em relação a Temer, Guimarães critica severamente a posição do próprio Brasil contra a Venezuela. Trata-se do exemplo contrário aos mais básicos princípios da diplomacia internacional.

— Temos uma posição, no caso da Venezuela, muito equivocada. Tudo para procurar se alinhar com a política exterior americana. Procura-se derrubar o governo da Venezuela. Não temos nada a ver com isso. Estamos manchando a imagem do Brasil com um país que respeita os outros — afirmou.

O Brasil e outros países, atuais aliados ideológicos, entre os quais México, Colômbia e Argentina, sob a influência dos Estados Unidos, tentam encontrar um meio de condenar o país de Nicolás Maduro no âmbito da 47ª  Assembleia da Organização dos Estados Americanos (OEA), esta semana, em Cancún. Esses países vêm defendendo a suspensão da convocação de uma Assembleia Constituinte na Venezuela.

A iniciativa do México, que propôs declaração de condenação da Venezuela, foi derrotada na sessão de terça-feira na OEA. Precisava de 23 votos, mas teve apenas 20.

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