Rio de Janeiro, 28 de Dezembro de 2025

Grupo de Temer desdenha de possível debandada dos tucanos

Liberação de recursos para deputados tucanos atinge cifras inéditas, mas não garante vitória no Plenário da Câmara.

Segunda, 31 de Julho de 2017 às 11:44, por: CdB

Liberação de recursos para deputados tucanos atinge cifras inéditas, mas não garante vitória no Plenário da Câmara.

 

Por Redação - de Brasília

 

A revoada tucana da base aliada ao presidente de facto, Michel Temer, é um fato que seus assessores já consideram líquido e certo. Apesar das tratativas e dos recursos liberados para os segmentos da legenda que ainda teimam em permanecer ao lado do governo em queda, a bancada do PSDB na Câmara já teria decidido votar, em peso, pela admissibilidade do processo contra Temer no Supremo Tribunal Federal (STF).

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Principal assessor político de Temer, o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, diz ser possível governar sem o PSDB

Mesmo o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, já contabiliza o fim da aliança que, em Maio do ano passado, viabilizou o golpe de Estado e derrubou a presidenta Dilma Rousseff (PT). Em uma declaração ilustrativa, na manhã desta segunda-feira, a jornalistas, Padilha disse que Temer deseja a permanência do PSDB na base aliada. No entanto, seria "perfeitamente possível" governar sem os tucanos, afirmou.

Fidelidade máxima

Segundo Padilha, o governo teria quórum e votos suficientes para liberar Michel Temer da denúncia de corrupção passiva. A votação deverá ocorrer nesta quarta-feira, na Câmara. O assessor direto do peemedebista, no entanto, segue na estratégia de deixar que a oposição se responsabilize por garantir o quorum necessário.

Aos aliados, Padilha avisou que espera total fidelidade.

— Quem não quer ser aliado vota contra. Aí, o governo, ao exonerar (esses indicados), não faz mais do que corresponder a esse desejo de não pertencer à administração — afirmou.

Apoio caro

O preço do apoio conquistado junto aos tucanos, no entanto, não foi baixo. Para conseguir os votos necessários na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, Temer liberou R$ 19,5 milhões para três dos quatro ministros tucanos.

Os recursos teriam sido encaminhados aos projetos caros aos ministros tucanos da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy; Relações Exteriores, Aloysio Nunes, e das Cidades, Bruno Araújo. Sem o PSDB, ainda que fragmentado, dificilmente Temer conseguirá deter a liberação para que seja processado.

Temer liberou, até agora, R$ 4,1 bilhões em emendas parlamentares. O total representa 97% de todo o valor empenhado para este ano. A liberação das emendas já foi denunciada ao STF como uma forma de obstrução da Justiça. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), na denúncia ao Supremo, afirma que, ao liberar emendas dos deputados que controlam ministérios, Temer estaria incorrendo, ainda, no crime de responsabilidade por usar recursos públicos para se manter no cargo.

Refém

Por mais que libere recursos para evitar o processo e um possível pedido de prisão, Temer tornou-se refém das bancadas conhecidas como “BBB” (Boi, Bala e Bíblia). Muitos dos integrantes são filiados ao PSDB, mas eles se distribuem pelas legendas da direita à extrema-direita. Os parlamentares BBBs defendem o agronegócio, medidas fascistas para setores como a Segurança Pública e Educação. Muitos, ainda, são evangélicos. Eles perfazem 80% dos 213 deputados declarados “indecisos’ quanto à admissibilidade do processo contra Temer.

Embora tenha atendido a maior parte dos deputados BBBs, Temer está ficando sem munição para enfrentar uma segunda denúncia. Na próxima, o procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, acusará o peemedebista por formação de quadrilha e obstrução de Justiça.

Documentos anexados ao processo da Lava Jato, no STF, indicam que Temer recebeu cerca de R$ 15 milhões pela sua atuação em favor dos interesses da JBS, empresa dos irmãos Batista — Joesley e Wesley. Temer também é citado como tendo se associado ao senador afastado Aécio Neves na tentativa de interferir nas investigações.

Temer diz que não obstruiu a Justiça nem recebeu valores que não fossem permitidos pela Lei Eleitoral. Garante que todos eles foram declarados ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

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