Os encontros de Temer foram ventilados em 2011, como noticiou o Correio do Brasil. Mas volta à pauta, nesta segunda-feira, após entrevista do jornalista Julian Assange, editor do site WikiLeaks, ao escritor e também jornalista Fernando Morais
Por Redação - de São Paulo
A aproximação entre o Brasil e os EUA, após o golpe de Estado perpetrado em Maio de 2016, não é gratuita. O presidente de facto, imposto após a deposição da presidenta Dilma Rousseff (PT), Michel Temer trocou o apoio norte-americano à ruptura democrática no Brasil por informações privilegiadas nos campos político, energético e estratégico.
O assunto foi ventilado em 2011, conforme noticiou o Correio do Brasil. Mas volta à pauta, nesta segunda-feira, após entrevista do jornalista Julian Assange, editor do site WikiLeaks, ao escritor e também jornalista Fernando Morais, editor do blog Nocaute.
'Traíra'
Desde que foi eleito vice-presidente, em 2010, para o primeiro mandato de presidenta petista, Temer demonstra sua insatisfação com o o campo político que o abrigava. Quando foram veiculadas as primeiras notícias acerca do vazamento de sua ligação com a inteligência norte-americana, Temer desconversou. Disse aos jornalistas que não se recordava de qualquer conversa com o cônsul-geral dos Estados Unidos, Christopher McMullen.
Sua primeira conversa teve lugar, em janeiro de 2006, no consulado dos EUA, em São Paulo. Na ocasião, Temer teria declarado que o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva era “decepcionante”. Em telegrama do cônsul aos seus superiores, obtido pelo site WikiLeaks, Temer teria criticado “a visão estreita de Lula”.
“Ao cônsul, não disse, posso ter dito uma ou outra coisa de natureza política nas entrevistas. Eu até tive a sensação de que foi retirado (o que foi publicado) de entrevistas, aquelas matérias, e nada mais do que isso”, afirmou o então vice-presidente. Ele acrescentou que não tem “a menor lembrança dessa conversa”.
Apesar da fama de ‘traíra’, como são chamados os traidores, Temer disse, ainda em 2011, que a divulgação do telegrama obtido pelo WikiLeaks tenha causado qualquer constrangimento com a presidenta Dilma Rousseff.
— Não criou nenhum desconforto (com a presidenta Dilma). Quando fizemos a coalizão governamental (com o governo Lula), nós estabelecemos um método de trabalho e um método de trabalho que deu certo — alegava.
A soldo dos EUA
As ligações com Washington, desde então, seguiram cada vez mais sólidas, segundo Assange. Temer iniciaram um relacionamento capaz de permitir que, cinco anos mais tarde, assumisse a Presidência da República. O fez em um golpe de Estado, sem que os EUA o denunciasse. Longe disso. Washington não somente apoiou o movimento golpista como o incentivou. Declarou seu imediato reconhecimento ao governo imposto. E, de pronto, iniciou as negociações para a compra de ativos brasileiros, como o pré-sal e parcela da Petrobras.
Na entrevista entrevista exclusiva ao ex-deputado Fernando Morais, peemedebista histórico que rasgou a ficha de filiação após a guinada da legenda para a centro-direita, Assange afirmou que Michel Temer não chegava a ser bem um espião, trabalhando a soldo dos EUA. Seu relacionamento com o governo norte-americano era baseado numa espécie de escambo. Temer fornecia informações estratégicas sobre o Brasil à embaixada norte-americana. Em troca, recebia apoio e financiamento dos EUA ao golpe parlamentar que teria espaço em 2016.
— Michel Temer teve reuniões privadas na embaixada dos Estados Unidos. Ele forneceu informações políticas às quais muitos não tinham acesso. Não digo que ele tenha sido um espião pago. Falo de outra coisa: de trocar informação por apoio político — afirma Assange.
A administração de Barack Obama, que tem John Kerry como secretário de Estado, apoiou três golpes recentes na América Latina. Atuou em Honduras, Paraguai e Brasil. Isso explica por que Temer e seu chanceler José Serra torceram tanto por Hillary Clinton na disputa eleitoral norte-americana em 2016.