Militares israelenses mataram oito policiais palestinos, há três anos, para vingar colegas mortos em uma emboscada na Cisjordânia, disse um jornal nesta sexta-feira.
A reportagem do Maariv, confirmada por fontes israelenses de primeiro escalão, é mais uma contradição à persistente posição oficial de que as forças do país seguem rígidos padrões de conduta ética no combate à rebelião palestina.
O incidente começou em 19 de fevereiro de 2002, quando militantes da facção palestina Fatah mataram seis soldados em um posto de controle israelense na entrada de Ramallah (Cisjordânia). Em seguida, segundo o Maariv, o primeiro-ministro Ariel Sharon aprovou retaliações mais agressivas e variadas.
- A sensação é de que seria um (ato de) 'olho por olho' " - disse um ex-soldado que participou da vingança.
Nesses ataques retaliatórios, 18 palestinos morreram, inclusive oito policiais que ocupavam postos de controle perto de Ramallah e de Nablus, também na Cisjordânia.
- Vamos liquidar policiais palestinos em um posto de controle, em vingança pelos nossos seis soldados que eles mataram - teria dito o comandante da unidade israelense a seus subordinados na época, segundo o ex-soldado que falou ao Maariv.
Em um dos três postos de controle atacados, os palestinos conseguiram reagir, mas sem causar baixas entre os israelenses, afirmou o jornal.
- No momento em que soubemos que iríamos eliminá-los, não os víamos mais como seres humanos - disse outro ex-soldado.
Os entrevistados, cujos nomes não foram revelados pelo Maariv por razões legais, disseram que decidiram relatar os fatos como parte da campanha "Quebrando o Silêncio", uma iniciativa de militares de reserva para expor supostos abusos israelenses aos palestinos.
Em nota, o Exército disse que suas forças atacaram "postos de controle mantidos por policiais palestinos que facilitavam a passagem de terroristas e os ajudavam ativamente".
A Autoridade Palestina, que na época negou a cumplicidade de suas forças nos atentados contra israelenses, reconheceu desde então que alguns policiais eram militantes nas horas vagas.
Represálias são comuns na história militar de Israel. Na década de 1950, agentes do então recém-criado Estado judeu respondiam na mesma moeda à infiltração de militantes árabes em seu território.
Em 1972, depois que 11 atletas do país foram mortos por palestinos nos Jogos Olímpicos de Munique, Israel enviou agentes para assassinar os mentores da ação.
Mas, embora Israel tenha abertamente assassinado líderes militantes durante o atual conflito, rejeita as acusações de que tenha instituído execuções extrajudiciais, pois afirma que as pessoas atacadas estavam planejando atentados iminentes.
Em sua nota, o Exército disse que, após perder seis soldados na emboscada de 2002, foi "instruído pelo escalão político a modificar o modus operandi e ajustá-lo à dura realidade do terreno".
Soldados foram então orientados a "caçar todos os envolvidos nas atividades terroristas, inclusive membros do aparato de segurança da Autoridade Palestina", até que o governo de Yasser Arafat impedisse "ataques terroristas que emanem das aldeias e cidades palestinas".