Rio de Janeiro, 21 de Dezembro de 2024

Sobre Cristo-Gibson e alguns baldes de sangue de mentirinha

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Segunda, 14 de Março de 2005 às 08:46, por: CdB

O que levou milhões de pessoas aos cinemas para assistir a A Paixão de Cristo é óbvio. O tema é polêmico e qualquer coisa que tenha Deus ou Cristo no título é sempre um bom investimento (não só no cinema). O filme de Mel Gibson, uma chanchada moderna com ares de seriedade e muito sangue de mentirinha, acabou se tornando uma contradição. Não satisfeito em ter lucrado horrores ano passado, Gibson resolveu relançar A Paixão de Cristo com 6 minutos a menos (com menos violência e sangue de mentirinha). Resultado: fiasco. É como se as milhões de pessoas que pagaram o ingresso na primeira vez, talvez esperando por uma intervenção divina na obra de Gibson ou pelo menos respostas, tivesse finalmente caído em si. O filme não é mágico, a sessão não acrescentou nada a ninguém. Pelo contrário. E o relançamento é o desfecho trágico de A Paixão de Cristo: US$ 240 mil em 954 salas, o que dá uma média de apenas 10 fiéis (ou inconformados por terem perdido a estréia) por sessão.
 
A Paixão de Cristo foi o terceiro longa-metragem dirigido por Mel Gibson. Sem dúvida trata-se do mais ambicioso projeto dirigido por um galã de Hollywood. Gibson já tinha se mostrado capaz de assumir tal empreitada há 9 anos atrás, quando lançava Coração valente, outra produção milionária, fora dos moldes do rótulo "ator se aventurando atrás das câmeras".
 
Pelo tamanho de A Paixão de Cristo e pelo lucro que ele gerou (US$ 605 milhões em todo o mundo, sendo a 25ª maior bilheteria de todos os tempos), Gibson se firmou como um nome de peso na indústria cinematográfica. Mas o relançamento de A Paixão de Cristo deixa dúvidas tanto sobre o real efeito da obra na vida das pessoas como na credibilidade de Gibson como cineasta. Apesar de Paixão, como qualquer outro filme, deixar de ser novidade em um relançamento (e tão perto do lançamento original, em 2004), como foi dito no começo deste texto, o tema é polêmico e qualquer coisa que tenha Deus ou Cristo no título é sempre um bom investimento. Não nesse caso. E, pior ainda, mais parece um relançamento-arrependimento, ao fazer uma nova versão com menos violência. O que leva a pensar que se trata de uma fita mais sobre o uso da maquiagem e do sangue de mentirinha do que sobre Cristo. Com isso, não ficou paixão nenhuma sobre o filme de Gibson.

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